sábado, 19 de outubro de 2013

Tráfico de pessoas: a vida em um labirinto

Instalação Labirinto, inaugurada na sexta-feira no Memorial da América Latina, busca transmitir sensação de angústia vivida por quem cai nas mãos de traficantes de pessoas

Editora Globo

Um labirinto – foi esta a estrutura escolhida pela artista plástica holandesa Marian van der Zwaan para retratar a situação de quem cai nas mãos de organizações que traficam pessoas. “É como se estivesse entrando na angústia, na prisão, você tem que ir à procura de uma saída. Para uns há, para outros não”, diz Marian. O projeto artístico High Heel Passenger, ou simplesmente HHP, começa hoje, simultaneamente, em cinco cidades: Acra, Luanda, Berna, Lisboa e São Paulo, no Memorial da América Latina. A data escolhida marca o Dia Internacional de Combate ao Tráfico de Seres Humanos. Idealizado há cerca de dois anos, o projeto quer chamar a atenção do mundo sobre a prática, que frequentemente passa despercebida, mas que é muito maior do que se imagina.
Segundo levantamentos do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), atividades ligadas ao tráfico de pessoas movimentam mais de 30 bilhões de dólares por ano e fazem 2,5 milhões de vítimas. Submetidas à escravidão, são exploradas para os mais diversos fins – principalmente sexual (58%) e trabalhista (36%). No Brasil, a grande maioria dos casos investigados remetem ao trabalho escravo.
No caso da exploração sexual, a cidade de São Paulo é uma grande rota de saída do País. “Pessoas de outros estados da federação, principalmente do norte e nordeste, chegam a São Paulo e daqui são encaminhadas à Europa. A Espanha é o principal destino das mulheres, a Itália o dos travestis”, explica Eloisa Arruda, Secretária da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado.
O próprio nome do projeto faz alusão à exploração sexual – high heel em inglês quer dizer salto alto, uma referência à prostituição. Marian van der Zwaan costuma focar seus trabalhos na discriminação de gênero, por isso a ideia inicial era explorar apenas esta faceta. Uma visita à África fez com que Marian optasse por ampliar o tema. “Abri o projeto para um público maior, para abordar casos como o de tráfico de crianças para adoção, por exemplo”, diz. Passenger (passageiro) remete à experiência dentro do labirinto, onde todos vivem a mesma angústia de ser um passageiro e procurar uma saída, guiado apenas pelas paredes de concreto de 10 metros de altura.
A escolha de São Paulo como cidade sede, segundo Marian, se deve a sua grande influência econômica e política. “Vocês são a capital da América Latina, escolhi São Paulo porque é muito simbólico para um manifesto como este”, diz. Além do labirinto, a instalação conta também com telões que transmitem ao mesmo tempo em todas as cidades depoimentos de vítimas do tráfico humano. Devido ao caráter de proteção aos direitos humanos, o projeto recebeu patrocínio integral da UNESCO, em todas as cidades participantes.
O HHP tem um viés principalmente educacional, a intenção é atingir jovens de escolas públicas e privadas para conscientizá-los do problema e evitar que caiam nas mãos de traficantes. Uma apostila foi preparada para instruir professores a prepararem aulas sobre o assunto, e também um game foi desenvolvido para dispositivos Android. Nele, o jogador deve responder perguntas sobre o tráfico de pessoas para poder encontrar as saídas – a informação é a única saída, nestes casos.
Para a secretária Eloisa Arruda, a iniciativa é altamente efetiva em seu propósito de alertar os jovens. “É uma forma lúdica de orientação. Às vezes, uma palestra nem sempre atinge o íntimo da pessoa. Estar diante de imagens, interagir com pessoas de outros países e com o labirinto é importantíssimo para crianças e adolescentes, que são mais vulneráveis”.
SERVIÇO 
Projeto Labirinto – HHP High Heel Passenger 
Instalação ao ar livre na Praça da Sombra 
De 18 de outubro a 18 de novembro 
Terça-feira a domingo, das 9h às 18h 
Entrada Gratuita 
Acesso: Portões 8, 9 e 13 

Revista Galileu.

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