segunda-feira, 10 de junho de 2013

Nem avanço da economia na última década livra Brasil da violência

O desenvolvimento econômico de uma sociedade é um dos fatores determinantes da violência. Mas não é o único.
A presença de drogas, a segurança pública, o sistema judiciário e a igualdade social também entram nessa conta.
Enquanto o Reino Unido, por exemplo, reduziu a criminalidade ao seus mais baixos índices em quase 30 anos --apesar da crise que atinge a Europa-- no Brasil, a violência persiste mesmo com a melhoria econômica.
Na opinião de especialistas consultados pela Folha, o país ainda enfrenta uma série de problemas ditos "estruturais" que levam a essa situação.
O número de homicídios aumentou seis vezes de 1980 a 2010. A partir de 2002 houve uma estabilização nos índices nacionais, mas os homicídios migraram para as regiões Norte e Nordeste.
Como boa parte da sociedade brasileira não tem condições mínimas estruturais -como boas moradias e boas escolas- o risco é maior.
Outro fator é a desigualdade social. De acordo com Cesar Barreira, do Núcleo de Estudos da Conflitualidade e da Violência da UECE (Universidade Estadual do Ceará), a criminalidade pode ter mais relação com as diferenças entre as camadas da sociedade do que com a pobreza em si.
Ou seja, com muitos ganhando pouco e poucos ganhando muito, surge uma espécie de bomba-relógio.
"Com a melhoria econômica começa um acesso a determinados bens e uma cultura do consumo de produtos de marca. Com isso, o número de roubos e até de latrocínios [roubo seguido de assassinato] tende a crescer", explica.
Em 2011, o Brasil passou o Reino Unido e se tornou o sexto maior PIB do mundo -posição perdida em 2012.
DESIGUALDADE
No Nordeste, uma das regiões mais desiguais do país, o número de mortos por armas de fogo aumentou 92% de 2000 a 2010, de acordo com o Mapa da Violência.
É lá que fica Fortaleza (CE), cidade das mais desiguais do mundo, de acordo com relatório da ONU do ano passado.
No Norte, o cenário é pior: o aumento de mortos por armas de fogo foi de 195% nos mesmos dez anos.
Esse cenário encontra uma possível explicação em um estudo do NEV (Núcleo de Estudos da Violência da USP).
Um levantamento feito em Manaus (AM) mostrou que a quantidade de pessoas que relatou ter recebido oferta de drogas aumentou de 5% em 1999 para 13% em 2010.
"Sabemos que a presença de drogas ilícitas é um fator determinante para a criminalidade", diz o sociólogo Marcelo Neri, do NEV.
Outro fator que contribui para o aumento dos crimes é a sensação de impunidade. "Os bandidos continuam cometendo crimes porque sabem que não serão punidos", explica Barreiras, da UECE.
Isso pode fazer até com que os crimes estejam ficando mais brutais, assunto que Barreiras está estudando.
"O que aconteceu com a dentista em São Paulo [queimada viva em abril durante um assalto ao seu consultório, em São Bernardo] não há fator econômico e nem sociologia que explique", diz.
Há alguma notícia boa? Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, acredita que sim.
"O crescimento econômico nos faz pelo menos ter a perspectiva de que é possível uma mudança. Na teoria, pode haver mais investimentos em segurança pública, por exemplo." Na teoria, claro.

Fonte: SABINE RIGHETTI - Folha de São Paulo

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