Três em casa 10 pessoas já sofreram bullying na Grande Vitória

Ofensas e humilhações não acontecem apenas na escola.

Três em cada dez pessoas já foram vítimas de bullying, ou seja, sofreram ofensas e humilhações em seus tempos de escola, no ambiente familiar, no trabalho ou nas redes sociais. A conclusão é de uma pesquisa realizada no início deste mês, na Grande Vitória, pelo Instituto Futura.

Conceito nascido nos Estados Unidos – e relativamente novo no Brasil –, o bullying apresenta-se de diversas formas: vai de intimidação física e/ou verbal a situações em que a vítima é exposta a grandes constragimentos. E, com isso, sofre até mesmo traumas psicológicos sérios.

O conceito é cada vez mais conhecido. Segundo o estudo do Instituto Futura, 81,9% dos 403 entrevistados afirmaram saber o que é bullying. Em 2011, apenas 65,9% tinham ideia sobre a prática. Desta vez, 34% afirmaram já ter sofrido bullying, sendo que 20,6% disseram não ter se importado com as ofensas. Já 19,4% contam que sentiram vergonha; 18,2%, tristeza; 17%, raiva ou ódio; 13,9%, constrangimento.

Doutor em Psicologia do Desenvolvimento da Personalidade, o psicólogo Adriano Pereira Jardim explica que agressões e situações de constrangimento sempre existiram, antes mesmo de se criar o conceito de bullying. “Isso começou a ser formalizado como um problema psicológico e social a partir de uma abordagem norte-americana. Surgiu numa cultura mais individualista que a nossa, muito competitiva. Ele foi importado para o Brasil, mas precisamos levar em consideração que nossa cultura e nossos hábitos sociais são diferentes. Somos de mais interação social, voltados ao contato físico.”

Segundo Jardim, a população está mais informada sobre o conceito e está se apropriando dele, mas ressignificando-o. “Nos Estados Unidos, há uma padronização maior do comportamento. Aqui, é mais subjetivo. Um comentário descortês não lhe atinge, e outro sutil afeta a sensibilidade. Muitas brincadeiras são destrutivas, mas não pode virar caça às bruxas. É preciso refletir sobre o que deve ou não ser censurado.”

Apelidos

Em um grupo de 164 pessoas que já receberam apelidos, 51,8% das ofensas diziam respeito ao corpo; 42,7%, ao comportamento; e 10% eram por outros motivos. Entre as mulheres, há uma maior atribuição ao corpo como motivo dos apelidos, mas entre homens a principal causa é o comportamento

Reação

Dos 403 ouvidos pelo Futura, 136 disseram ter presenciado alguma situação de bullying.

 A maioria (42,6%) afirmou não ter tido nenhuma reação, e  30,1% defendeu a vítima. Outros 7,4% tentaram conversar com o agressor, 6,6% riram,  e 5,9% brigaram com o ofensor

Na escola

39,7%  dos que responderam à pesquisa defendem punição escolar para quem pratica bullying; 36,7% acham que o ideal é dar apoio psicológico, e 15,9%, punição criminal

Sentimentos

Entre as vítimas de bullying, 20,6% dizem não se importar. Outros sentimentos marcantes são vergonha (19,4%), tristeza (18,2%), raiva ou ódio (17%), constrangimento (13,9%), medo (6,7%), 

rejeição (5,5%) e depressão (4,8%)

Opinião nas ruas

“Considero bullying xingamentos, apelidos preconceituosos. Acho que isso se resolve com conversa e, se for necessário, é melhor chamar a coordenação da escola”

Marcus França, 16 ANOS, ESTUDANTE

“O bullying deixa de ser uma brincadeira quando prejudica o convívio social. Para evitá-lo, é necessário conscientizar desde a infância para que não se pratique bullying”

Laiza Loureiro, 19 ANOS, ESTUDANTE

“Não gosto desse tipo de brincadeira. Mexe muito com a cabeça da pessoa. O melhor é não dar bola, porque se você mostrar que não gosta, aí é que vão  provocar você mais”

Klediany Dionizio, 33 ANOS, ESTUDANTE

ANÁLISE

Reconhecer habilidades

Lidar com o bullying não é fácil, pois nem sempre conseguimos nos esquivar da situação em que ele está ocorrendo, o que exige da vítima a aquisição de novas habilidades para enfrentar o problema. Para auxiliar nesse novo posicionamento diante das situações de violência, 

o psicólogo pode oferecer um tratamento que ajude a vítima a se conscientizar de que as agressões sofridas são injustificáveis, fortalecendo o reconhecimento de suas habilidades e características únicas como positivas, o que contribui para o aumento da autoestima. Ao longo do processo, o paciente passa a reconhecer os tipos de violência, suas formas de expressão e principalmente, em como lidar com a situação. No caso das crianças, é preciso que ela passe a contar com uma rede de apoio entre seus amigos, familiares e sua escola, intermediação que pode ser viabilizada pelo psicólogo.

Tatielly Baião Bonan

Psicóloga especialista em Terapia de Família e de Casais

Tiago Zanoli
tzanoli@redegazeta.com.br. 21.04.2013.