segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Paraná teve um crime por minuto em 2012

Um crime é cometido no Paraná a cada minuto. O quadro assustador foi constatado no ano passado, quando, somando todos os casos, o estado registrou 538.118 delitos. O crescimento de dois tipos de ocorrências consideradas mais brandas pela polícia foi o que mais chamou a atenção: quase metade do total corresponde a furtos e ameaças. Essas situações nem sempre entram no radar da polícia, já que a prioridade é frear a escalada de assassinatos – a taxa estadual é de 30 homicídios por 100 mil habitantes –, mas também precisam ser combatidas com mais atenção, até porque podem se transformar em crimes graves, como roubos ou homicídios.
A estatística foi divulgada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) em janeiro. Com base nesse banco de dados, a Gazeta do Povo montou um relógio para marcar os oito crimes que mais são registrados no estado (veja o infográfico). O furto é o delito que mais faz vítimas. O estado registrou um furto a cada três minutos e meio no ano passado. As ameaças estão em segundo lugar, com um registro a cada quatro minutos e meio.
 Essa realidade, segundo especialistas, revela uma disposição persistente da população em resolver os conflitos comuns do dia a dia com violência e apresenta a necessidade de montar uma rede de proteção baseada em programas de desenvolvimento de uma cultura da paz, além de um sistema mais eficaz de punição.
De acordo com a coordenadora da Área de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, é fundamental que o poder público também ataque os delitos considerados mais leves. “Em São Paulo, um estudo mostrou que boa parte dos homicídios ocorre por motivos banais”, comenta.
Na avaliação de Carolina, os municípios e a iniciativa privada também devem assumir a responsabilidade que lhes cabe. “Eles podem criar câmaras de mediação de conflito, descentralizando o acesso à Justiça sem judicializá-la”, sugere.
Subnotificação
Para o coordenador do curso de pós-graduação em Segurança Pública da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), delegado federal Algacir Mikaloviski, os crimes contra o patrimônio devem ser combatidos com mais rigor. Segundo ele, há alta taxa da “cifra negra”, a subnotificação, em casos de furto. “Não há resposta da polícia para esse crime e isso gera uma crise de credibilidade. Por isso as pessoas não registram [queixa]”, afirma.
Instituições se unem para atuar nas Unidades Paraná Seguro
Há um mês, estado, prefeitura de Curitiba, Ministério Público e Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), entre outras entidades, assinaram um acordo de cooperação para atuação dentro das áreas das Unidades Paraná Seguro (UPS), com o objetivo de ajudar no combate à violência no estado. A coordenação dessas ações ficou sob a responsabilidade da secretária estadual da Justiça e Cidadania (Seju), Maria Tereza Uille Gomes.
Segundo ela, as entidades têm realizado reuniões periódicas e já detectaram as principais necessidades nas áreas das UPS: pouca iluminação, muitos terrenos com mato alto, falta de saneamento básico, poucas escolas em tempo integral e falta de opções de trabalho.
Uma reunião na metade do mês de março com o governador Beto Richa e o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, deve definir o cronograma de atuação. Até lá, cada secretaria municipal e estadual fará o que puder para contribuir.
A Secretaria de Estado da Educação já programou atividades em tempo integral para estudantes de escolas próximas às UPS, para dar opções no contraturno aos jovens, evitando que se envolvam com a criminalidade. A Seju programa a implantação de núcleos de cidadania com a defensoria pública para melhorar a oferta de mediação de conflito, além de levar o Procon aos locais.
 Complexidade
É preciso formar rede para mudança profunda
Para modificar a cultura violenta arraigada na sociedade deve-se criar uma rede consistente que incentive a mudança. De acordo com o coordenador do Grupo de Estudos da Violência da UFPR, Pedro Bodê, é preciso criar condições que internalizem em cada cidadão padrões de condutas diferentes dos atuais, para prevenir casos como os de ameaças. “Isso passa por programas em escolas, mudanças na mídia, de padrão cultural”, destaca.

A coordenadora da Área de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, enfatiza que o trabalho de mudança cultural passa também pelo esforço em convencer a população a procurar as iniciativas que são oferecidas. Em casos de mediação de conflitos, por exemplo, ter o serviço não é suficiente: deve-se atuar na conscientização do cidadão sobre a importância desse caminho pacífico.

Fonte: DIEGO RIBEIRO - Gazeta do Povo

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