segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Cai nos EUA interesse de estudantes por curso de Direito


Até agora, apenas 30 mil estudantes enviaram pedidos de matrículas às faculdades de Direito dos Estados Unidos, para o próximo ano letivo. Houve uma queda de 20% em comparação com o mesmo período do ano passado. E de 38%, em relação a 2010. O número de pedidos poderá chegar a pouco mais de 50 mil, à época das matrículas — metade do número de requerimentos em 2004. Dos 50 mil pedidos, apenas 38 mil deverão efetivar a matrícula, tornando 2013 o pior ano das faculdades de Direito em 30 anos, segundo o jornal The New York Times.
Pelo menos dez das 212 faculdades de Direito dos EUA vão fechar as portas nos próximos dez anos e a maioria terá de enxugar seus quadros docentes e administrativos, desde agora, afirma a revistaForbes. Haverá demissões em massa nas faculdades de Direito, já a partir do próximo ano letivo (que se inicia em setembro), prevê o Times.
"Aliás, algumas escolas, como a Faculdade de Direito de Vermont, já iniciaram o processo de demissões", diz o jornal. De dois terços à metade das Faculdades terão de reduzir o tamanho das classes e fazer cortes de professores e funcionários, disse Brian Leiter, da Faculdade de Direito da Universidade de Chicago ao jornal. Algumas faculdades estão aceitando estudantes que, antes, considerariam desqualificados, porque se saíram mal no curso secundário.
O crescente desinteresse dos estudantes no curso de Direito tem duas razões básicas: os altos custos do curso e as altas taxas de desemprego dos bacharéis.
O custo total do curso de direito, em média, é calculado em US$ 125 mil dólares. Em 2001, a média era de US$ 70 mil. Um curso em uma faculdade de Direito de Nova York pode custar, entre mensalidades, moradia e alimentação, até US$ 80 mil por ano.
A despesa é garantida, o emprego, não. De acordo com um estudo recente da American Bar Association (ABA), a Ordem dos advogados dos EUA, 55% dos bacharéis formados em 2011 não encontraram emprego na área do Direito em um período de nove meses, após a formatura. Empregos no governo, em organizações não governamentais e outras entidades não são boas opções, porque os salários não são compatíveis com a dívida que assumiram. Alguns nem isso conseguem. Acabam arrumando qualquer emprego, até no McDonald’s, para sobreviver.
"Há 30 anos, um curso de Direito era uma garantia de escalada social para estudantes que nasciam em famílias pobres ou apenas remediadas. Hoje, o elevador das faculdades de Direito está quebrado", disse ao jornal o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Indiana William Henderson.
Não há emprego porque as bancas, em tempos de crise econômica, estão enxugando seus quadros e não contratando. Mais que isso, estão tentando reduzir custos de uma maneira inusitada, há alguns anos: terceirizando serviços burocráticos da advocacia, como o de pesquisa de legislação, jurisprudência, casos, etc., para estados em que a mão-de-obra é mais barata ou para outros países, pelo mesmo motivo.
Antes, esses serviços eram prestados por bacharéis americanos, enquanto aprendiam a atuar como advogados. "Agora, com a Internet e telecomunicações baratas, ficou fácil para as firmas de advocacia americanas contratar mão-de-obra barata em países como a Índia para fazer o serviço", diz a revista Forbes. A ValeuNortes, uma empresa indiana de pesquisa, informou que a quantidade de firmas no país que oferecem serviços jurídicos a bancas americanas triplicou nos últimos anos. "Já são 140 e devem gerar US$ 1,1 bilhão em receitas no próximo ano".
As faculdades de Direito vêm discutindo, nos últimos dois ou três anos, a necessidade de reduzir os custos para os estudantes. Mas, nenhuma decisão foi tomada até agora. Antes, elas querem descobrir formas de reduzir os próprios custos, para manter suas margens de lucro intactas.
Para onde estão indo os estudantes que não apresentaram pedidos de matrícula às faculdades de Direito? Alguns para o mercado de trabalho, muitos para outras faculdades, com destaque para a área de Economia e ADministração. Nessas escolas, o volume de pedidos de matrícula por estudantes americanos cresceu 0,8% em 2011. E os pedidos de matrícula por alunos estrangeiros cresceram 13%. As escolas de negócios levam essa vantagem sobre as faculdades de Direito: os estrangeiros podem estudar negócios nos EUA e praticarem o que aprenderam em seus países de origem. Obviamente, não têm interesse em fazer curso de Direito nos EUA, para praticar em seus países.
As faculdades que estão se saindo "menos mal", no que se refere ao desinteresse dos estudantes em cursos de Direito, são as poucas escolas que oferecem cursos práticos de advocacia aos alunos, em vez de teoria. Um exemplo é a Faculdade de Direito Northeastern de Boston que, por preparar os estudantes para exercer a profissão assim que caiam no mercado, está sofrendo menos que as outras em razão do desinteresse dos estudantes americanos.
João Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados Unidos.
Revista Consultor Jurídico, 3 de fevereiro de 2013

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