sexta-feira, 20 de abril de 2012

Jovens frustrados financeiramente batem nos pais


Uma docente de criminologia reportou hoje casos de menores que “não sabem lidar com a frustração” e agridem os pais porque estes deixaram de lhes satisfazer todos os pedidos depois de entrarem em dificuldades financeiras.

“Começa a acontecer um cenário que não era muito comum, de filhos que batem nos pais, não como resultados de processos de vitimação ligados a negligência e a famílias desestruturadas, mas porque não sabem lidar com a frustração”, disse a docente de criminologia Vera Mónica Duarte.
Situações deste tipo ocorrem no seio de famílias “que há poucos anos estavam numa situação de estabilidade e que, neste momento, não podem dar aos seus filhos aquilo que durante muito tempo puderam”, explicou a docente, que coordena a organização do seminário “Delinquência juvenil, explicações e implicações”, a realizar sexta-feira no Instituto Superior da Maia.
Segundo a docente, este quadro pode contribuir para uma mudança de perfil na delinquência juvenil, “o que vai impor novos desafios e novas exigências ao trabalho dos técnicos, quer na prevenção, quer na intervenção”.
Porventura, exigir-se-ão “respostas estruturais que muitas vezes não temos capacidade de dar no imediato”, admitiu, defendendo, em todo o caso, um trabalho técnico ”mais direcionado para as próprias competências parentais”, com o contributo “fundamental” das escolas.
Numa análise mais geral, a coordenadora do seminário da Maia assinalou “progressos” no combate à delinquência juvenil e destacou o programa Escolhas, que visa promover a inclusão social de menores das periferias pobres.
Desvalorizou, por outro lado, dados do último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) sobre delinquência juvenil, considerando que as estatísticas precisam sempre de “leituras complementares”.
O último RASI, recentemente divulgado, indica que a delinquência juvenil (atos criminosos praticados por menores de 16 anos) caiu 49 por cento em 2011, face a 2010, refletindo uma inversão de tendência de crescimento que se registava pelo menos desde 2008.
No entanto, os dados específicos relativos a ilícitos em ambiente escolar, participados no âmbito do programa Escola Segura, revelam um aumento de 4713 ocorrências (ano letivo 2009/2010) para 5762 (2010/2011), ou seja, um acréscimo de 22 por cento.
“O que as estatísticas nos dão é a reação a alguma coisa. O facto de terem aumentado as estatísticas da violência em contexto escolar pode não significar que essa violência possa ter aumentado. Significa, isso sim, que existe uma maior preocupação e um olhar mais apurado para essa realidade, que sabemos ser cada vez mais mediática”, afirmou Vera Mónica Duarte.
Trata-se, na análise da docente de criminologia, de uma situação similar à da violência doméstica.
“Parece que há um aumento da violência doméstica, quando há provas e indicadores que mostram que ela diminuiu. O que de facto existe é uma maior visibilidade do fenómeno, porque se começa a estar mais atento a ele”, frisou.
Todas estas matérias são escalpelizadas durante o seminário de sexta-feira, na Maia, mas, conforme acentuou Vera Mónica Duarte, sempre numa lógica de “romper com conceções muito fechadas”.
Diário Digital com Lusa

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