sexta-feira, 6 de abril de 2012

Criminologia: Séries televisivas erguem fasquia derrubada pela realidade



O diretor do Laboratório de Polícia Científica, Carlos Farinha, considera que a abundância de séries televisivas sobre crimes, "tipo CSI", leva a sociedade a exigir um desempenho dos investigadores ao nível da ficção, que esbarra na "imperfeição" da realidade.

No posfácio que assina no livro "Profiling -- Vitimologia e Ciências Forenses", que vai ser apresentado quinta-feira, Carlos Farinha realça a "adesão massiva" conseguida por aquelas produções televisivas, ao transportarem para o campo científico a tradicional abordagem dos crimes feita através da capacidade dedutiva e policial do investigador.
Em contraponto com a rapidez e recursos inesgotáveis apresentados na televisão, o trabalho real dos investigadores e peritos do Laboratório da Polícia Judiciária (PJ) debate-se com a realidade dos meios com limitação e das próprias restrições legais à atuação das autoridades.
"Enquanto na ficção as bases de dados parecem ilimitadas, permitindo o tratamento de todo o tipo de informação e anestesiando (...), na realidade, as bases de dados encontram-se reguladas em obediência a valores do Estado de Direito, estando a sua criação e acesso sujeitos a restrições", cita, como exemplo.
Mas há "virtudes na ficção e no denominado 'efeito CSI'", considera Carlos Farinha, designadamente por gerar "uma maior atenção às boas práticas e uma acrescida consideração" pelo trabalho laboratorial desenvolvido pelas polícias criminais.
Um dos 25 capítulos do livro propõe-se avaliar o fenómeno da corrupção através da análise dos 387 processos-crime instaurados nos diferentes departamentos de investigação e ação penal e nos serviços do Ministério Público juntos dos tribunais do país entre 2004 e 2008.
Os elementos disponíveis permitem concluir que mais de um terço (37,5 por cento) dos processos foram originados por denúncias anónimas e um pouco menos (30,2 por cento) por pessoas identificadas, surgindo em terceiro lugar (11,4 por cento) o próprio serviço onde terá ocorrido o ato de corrupção.
Acerca das contrapartidas envolvidas, o dinheiro surge em lugar destacado (72,4 por cento dos casos), à distância de géneros (22,7 por cento).
Em relação às verbas, a maioria (38,1 por cento) dos casos que envolveram pagamentos em troca de favores integram o capítulo da "pequena corrupção", sempre com verbas inferiores a 1500 euros, sendo mesmo a maior percentagem referente a quantias abaixo dos 100 euros (13,2 por cento).
Os casos que envolveram "luvas" superiores a 50 mil euros atingiram os 5,7 por cento.
Quando se atende às características dos envolvidos, conclui-se que 84 por cento dos corruptores ativos são homens, percentagem que baixa para 80 por cento nos passivos, enquanto nas mulheres esse valor se fica pelos 24 por cento e 20 por cento, respetivamente.
Outro capítulo da obra de mais de 500 páginas é um estudo feito sobre a relação entre homicidas e doenças mentais, com base na avaliação de 70 arguidos submetidos a exames de psiquiatria forense realizados entre 2002 e 2010, no Distrito Judicial do Porto.
Através da análise do universos estudado, os autores do capítulo -- a psicóloga Daniela Carvalho e o psiquiatra Fernando Almeida -- calculam que a taxa de homicídios cometidos por pessoas com psicose esquizofrénica foi de 4,8 por cada 100 mil habitantes ano.
Este valor é o dobro do que ocorre entre a população em geral, onde a prevalência da doença é de seis em cada mil habitantes, o que indica que a taxa de homicidas é de dois a três homicídios por ano em cada 100 mil habitantes.
O livro, editado pela PACTOR, do grupo Lidel, foi coordenado pelos psicólogos Fátima Almeida e Mauro Paulino e contou com a colaboração de quatro dezenas de investigadores.
Diário Digital com Lusa

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