sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Mortes por drogas crescem 60% no Brasil em 14 anos

As mortes causadas por drogas cresceram em um ritmo superior ao dos acidentes de trânsito nos últimos 14 anos no Brasil: 58% contra 17%. Embora os acidentes com veículos matem mais em números absolutos, os dados são um reflexo do foco de atenção do país. Há mais de uma década, o Brasil tenta criar mecanismos para coibir a violência no trânsito e viu as mortes saltarem de 35,5 mil para 41,6 mil de 1996 a 2010. Por outro lado, o esforço concentrado no combate às drogas é mais recente. E os números são prova dessa realidade: os índices pularam de 14,2 mil para 22,5 mil, segundo o Departamento de Infor­mática do Sistema Único de Saúde, o Datasus. Pior: nos dados coletados pela reportagem, não estão contabilizadas algumas doenças provocadas pelo abuso de drogas, como o câncer de pulmão, nem os homicídios atrelados ao tráfico de entorpecentes.

O levantamento da Gazeta do Povo se baseou em metodologia da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), que estabelece uma série de causas de óbitos relacionados ao uso de substâncias lícitas e ilícitas, que variam do ópio à cocaína. “Houve trabalho de educação para o trânsito, relacionado ao Código de Trânsito de 1998 e à própria Lei Seca. Quanto às drogas, houve crescimento do consumo em torno de 170% e, por isso, mais pessoas morreram”, explica Dulce Bais, doutora em Educação, enfermeira com mestrado em Psiquiatria e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) na área de Educação para a Saúde.
As soluções para coibir essas mortes não são simples e precisam necessariamente envolver prevenção e fiscalização. Apesar de o governo ter lançado políticas públicas recentes para combater as drogas – sobretudo o crack –, o caminho ainda é longo. No início deste mês, a União anunciou que investirá R$ 4 bilhões até 2014 em um plano que inclui, entre outros elementos, a internação compulsória de dependentes químicos e a criação de 308 consultórios de rua, ambulatórios móveis que tratam de pessoas em situação de risco. “Qualquer programa que se volte para a prevenção em saúde é melhor do que tratar dependentes. É preciso aumentar as condições para que essas pessoas se envolvam em atividades saudáveis”, afirma Saint-Clair Bahls, doutor em Medicina e professor da UFPR e Universidade Posi­tivo.
De acordo com Dulce Bais, existe uma série de políticas públicas sérias no país, mas esbarra-se no cumprimento delas. “Mui­­tas ve­­zes, o governo federal lança o programa, mas a efetivação de­­pende de estados e municípios. É preciso que go­­vernadores, secretários e prefeitos te­­nham conhecimento e saibam aplicar as políticas públicas”, diz. Levan­ta­­mento da Confe­de­­ração Na­­cio­­nal dos Muni­­cípios (CNM) mostra que 91% das mais de 5 mil cidades brasileiras já sofrem com as consequências do crack.
Permissividade
Na avaliação da coordenadora do Programa de Saúde Mental da prefeitura de Curitiba, Cristiane Venetikides, a resposta da sociedade deve começar com uma mudança de hábitos. “Até quando seremos permissivos em mostrar o tempo todo pessoas bebendo? Todas as festas contam com álcool, a porta de entrada para todas as outras drogas”, diz. Em resumo, ela propõe a criação de leis que façam com as bebidas alcoólicas o que se fez com o cigarro: o tabagista era glamouroso, mas deixou de ser. “Se a pessoa abusa de maconha, tende à nicotina e ao álcool. São, na realidade, dependências associadas”, afirma Bahls.

Fonte: VINICIUS BOREKI - Gazeta do Povo

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