sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Professores estão cansados, desmotivados, sem apoio...

  • As 33 escolas estaduais de Maringá têm pelo menos um professor afastado por licença médica ou readaptado - quando um problema de saúde o impede de voltar a lecionar.

    A maior parte dos afastamentos e readaptações foi causada por estresse e cansaço decorrentes das salas de aula lotadas, da insegurança, dos baixos salários e da falta de respeito dos alunos à figura do professor.

    No Paraná, 70% dos professores do ensino fundamental sofrem de estresse moderado ou elevado. O resultado consta do estudo "O trabalho docente e o Burnout: um estudo em professores paranaenses", assinado por quatro pesquisadoras da Universidade Estadual de Maringá (UEM), publicado em 2008.

    Foram ouvidos 318 professores. A conclusão é que 44,3% evidenciaram elevados níveis de exaustão emocional e 30,5% níveis moderados.

    Entre as razões para o estresse, segundo a pesquisa, estão salas de aula lotadas, alunos indisciplinados, falta de apoio dos diretores e baixa remuneração.

    "A escola não conseguiu acompanhar as mudanças sociais e continuamos com o mesmo modelo de escola do século 18, com carteiras, alunos, giz e professor", comenta o professor aposentado Claudemir Feltrin, presidente do núcleo de Maringá do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná.

    Feltrin lecionou por 24 anos e se aposentou há sete e cita que na escola onde trabalhou não havia muros e nem grades. "Dávamos aula com tranquilidade."

    Tempo depois, um muro foi erguido, uma cerca elétrica instalada e os corredores ganharam grades de ferro. "Hoje, em uma escola sem muro, cadeado e segurança ninguém trabalha."
    Regina Marcolini: na sala de aula desenvolveu a síndrome do pânico

    Para ele, o medo do professor em enfrentar a sala de aula não se resume só à agressão física. "Ele é agredido só de chegar na sala de aula e não conseguir controlar os estudantes para ensinar o conteúdo."

    Feltrin aponta que a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente foi um divisor de águas no relacionamento aluno-professor. Os estudantes passaram a usar o ECA como escudo às punições e as escolas ficaram de mãos atadas.

    Aliado à isso, são poucos os docentes que denunciam as agressões e levam o caso aos pais, à polícia ou ao Conselho Tutelar, temendo ainda mais represália do grupo e deixando o aluno mais à vontade para perturbar o colégio.

    "A escola na qual eu estudei, o professor era absoluto na classe. Se ele desse um beliscão no aluno, o pai apoiava, mas se isso acontecer hoje é um crime", cita.


    Afastamentos

    Os problemas de saúde já afastaram 3,1 mil professores e 1.892 funcionários de apoio no Paraná. Estima-se que o governo do Estado gaste por mês R$ 3,5 milhões para cuidar dos profissionais de licença médica.

    O levantamento é do sindicato estadual dos professores, que listou as doenças que mais afastaram esses profissionais dos colégios: são alergias, doenças de pele, distúrbios osteomusculares e estresse.

    O presidente do sindicato defende que a redução para 30 do número de alunos por classe, a ampliação da hora atividade ¿ para permitir que o professor tenha tempo para planejar as aulas ¿ e a contratação de docentes substitutos ajudariam a impedir tantos afastamentos do trabalho.

    O também professor Fábio de Oliveira Cardoso, diretor do Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira, no Conjunto Requião, defende as mesmas reivindicações de Feltrin. A escola tem 990 estudantes e 81 professores, dos quais três estão readaptados e um afastado por problema de saúde.

    "Os professores adoecem por causa do estresse da vida escolar, do excesso de trabalho, das turmas numerosas e do desafio que é lidar com o adolescente", opina.



    Cardoso já enfrentou casos de agressão física e verbal a professores na escola e precisou de ajuda dos pais, da Patrulha Escolar e do Conselho Tutelar. Em uma dessas situações, ele foi a própria vítima. Enquanto tentava dar aula, um aluno insistia em jogar bolinhas de papel nos outros.

    Cardoso pediu que ele parasse, mas não adiantou. Pediu, então, que o garoto, de 16 anos, da 8ª série, saísse da sala. Foi quando o adolescente quase o agrediu, deu socos no vice-diretor, na pedagoga e na própria mãe.

    "Todo mundo foi parar na delegacia", recorda. "No final das contas, ele foi transferido para o período noturno, reprovou e pediu transferência de colégio."

    A professora Regina Marcolini, 45, afastou-se da sala de aula há quatro anos por problemas de saúde. Hoje readaptada, ela trabalha no setor administrativo do Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira em uma sala pequena, discreta, com pouco movimento e distante da bagunça dos alunos.

    "Eu desenvolvi síndrome do pânico. Passava mal dentro da sala, tremia e tinha crises de pressão baixa. Hoje, evito aglomerações e não tenho mais vontade de voltar a lecionar."


    Maringá
    1.917 número de professores  da rede estadual  de ensino.


    Dos estudantes

    "Às vésperas do vestibular o professor jogou o apagador no chão e gritou com a sala. A turma não parava conversar."
    Ana Vieira, 18, estudante

    "Tive um professor que jogava giz nos alunos que não prestavam atenção na aula. Muita gente levava uma 'gizada'."
    Suelen Vicente, 18, estudante

    "No primário vi uma professora jogar água no caderno de uma aluna. Não lembro direito o motivo, mas a menina era chata."
    Ana Russi, 19, estudante


    O Diário do Norte do Paraná.

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