quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Orgulho da profissão exposta ao estresse

Professores, a exemplo de Zulmira Peres Garcia, têm orgulho da profissão, mas o ofício de ensinar está cada dia mais difícil por causa do estresse causado pelos alunos.

São 33 anos de profissão e 30 deles exercidos na Escola Municipal Ruy Alvino Alegretti, em Maringá. A professora Zulmira Peres Garcia, hoje diretora da instituição de ensino e prestes a se aposentar, fala com orgulho da carreira que escolheu. “Eu gosto da minha profissão, sou feliz com ela.” Zulmira já lecionou para alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, foi orientadora, supervisora e atualmente é diretora de escola municipal e pedagoga de um colégio da rede estadual de ensino.

Ao longo de três décadas transmitindo conhecimento às crianças, ela considera um desafio o exercício da docência. “Está muito difícil hoje em dia”, opina. “O aluno não gosta de estudar, a escola não é atrativa e ele justifica a permanência nas aulas por obrigação dos pais. Não dá para continuar assim, os rumos da educação têm de mudar.”

Apesar das dificuldades, a professora vê com otimismo o ambiente de trabalho para os futuros profissionais. “Nem tudo está perdido.” Tanto se fala em desinteresse da classe, mas existem os alunos comprometidos com os estudos, que frequentam a escola para aprender coisas novas. “É isso que nos dá força para seguir em frente.”

Para Zulmira, há alunos que ainda têm, no professor, um espelho e um exemplo para seguir na vida. “O professor é uma figura muito significativa para a criança, mas que ao mesmo tempo não tem autonomia dentro da escola”, afirma.

Estresse
Para 81% dos brasileiros, a profissão de professor é confiável. Eles perdem apenas para os bombeiros (95%), carteiros (90%) e médicos (82%). O prestígio apontado pela pesquisa, divulgada este ano e feita por um grupo que atua em mais de 100 países, no entanto, não retrata a rotina que os educadores vivem nas salas de aula.

“Os professores estão cansados e vivem sobre a influência de agentes estressores.” A constatação é da professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ana Maria Teresa Benevides Pereira, doutora em Psicologia.

Ao longo dos anos, a pesquisadora tem investigado como o estresse e a Síndrome de Burnout — caracterizada por sinais de exaustão física, psíquica e emocional em decorrência da má adaptação do profissional a um trabalho altamente estressante — afetam a saúde de professores, psicólogos e profissionais da saúde. “Temos visto número significativo de professores com a síndrome, mas ela pode acometer qualquer profissional. Os educadores estão mais expostos porque têm contato muito próximo com o público.”

As consequências do estresse e da Síndrome de Burnout sobre a vida dos professores vão desde a vontade de abandonar a profissão ao surgimento de doenças — distúrbios do sono, dores, problemas gastrointestinais e cardiovasculares são alguns exemplos. Segundo especialistas, após um ano lecionando, o professor está suscetível ao estresse. O problema se agrava depois de cinco ou sete anos. E alguns não acreditam que estão doentes, mas, sim, que não estão sendo bons o suficiente no trabalho.

Segundo Ana Maria, o desprestígio, as agressões verbais e físicas deixam os professores vulneráveis ao estresse e ao Burnout, que é considerado doença do trabalho. “Os docentes estão sobrecarregados, têm imensa responsabilidade, não somente do conteúdo das aulas, mas a sociedade jogou para cima desses profissionais o papel que caberia aos pais de ensinar aos filhos.”

O Diário do Norte do Paraná. 15/10/2009.

 

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