sexta-feira, 26 de junho de 2009

75% vivem em países com renda inferior

PIB per capita de nações que abrigam ¾ da população é menor que média global; melhores têm indicador 22 vezes maior que piores
PrimaPagina

Os números mais recentes sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) divulgados pelo PNUD mostram que 74,7% da população vive em países com PIB per capita abaixo do mundial, que é de US$ 9.316. Os dados, referentes a 2006, indicam que, de uma população de 6,71 bilhões (de acordo a Divisão de População do Departamento de Economia e Assuntos Sociais da ONU), pouco mais de 5 bilhões vive em nações com esse indicador de renda abaixo da média.

“Isso mostra que um quarto do mundo tem um poder de compra várias vezes superior ao restante da população. É uma distância que tem aumentado ao longo do tempo, e não só entre os países, mas também dentro deles”, afirma Renato Baumann, diretor do escritório da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe) no Brasil. “A economia mundial tem uma série de sistemas que favorecem os que estejam mais preparados, que tenham mais instrução. Então, em um período de crescimento econômico como o que tivemos recentemente, os indivíduos mais instruídos e as empresas com melhor estrutura crescem mais do que os assalariados, por exemplo, que não têm muito poder de barganha. Isso acaba aumentando o fosso da renda”, completa.

A desigualdade à qual o economista se refere fica ainda mais evidente quando se observam os dois extremos da lista de 180 nações para as quais há informações disponíveis. Na ponta de baixo, os 20% de países com menor PIB per capita (indicador usado para medir renda no IDH) ganham em média US$ 1.461 e abrigam pouco mais de 1 bilhão de pessoas. Já na ponta de cima – que também abriga 1 bilhão de pessoas – o mesmo indicador de renda pula para US$ 33.200, mais de 22 vezes o PIB per capita dos países mais pobres.

Melhores e piores

Entre os detentores dos piores indicadores de renda estão República Democrática do Congo, com apenas US$ 281 de PIB per capita, Burundi (US$ 333) e Libéria (US$ 335). A África abriga a maioria dessas nações (36), dividindo o a lista com a Ásia (sete), Oceania (três) e o Haiti.

Já nos melhores indicadores destacam-se Luxemburgo (US$ 77.089 de PIB per capita), Qatar (US$ 72.969) e Noruega (US$ 51.862). A desigualdade entre o começo e o fim da lista é gigantesca. Luxemburgo tem 274 vezes a renda da República Democrática do Congo.

A disparidade, de acordo com Baumann, tende a aumentar. “Muitos dos países com pior renda per capita têm taxas de natalidade mais elevadas que o restante e tendem, com o tempo, a ter uma quantidade maior de pessoas para distribuir a riqueza.”

Na lista das maiores rendas per capita, há forte presença da Europa (mais da metade dos 45 países) e das nações Árabes (sete). O Brasil (PIB per capita de US$ 8.949) e os outros países da América do Sul estão entre as nações de indicador mediano. “Nós somos a classe média. O crescimento recente do mundo, principalmente da China e da Índia, aumentou a demanda por commodities e trouxe efeitos benéficos para a região, embora não tenhamos chegado perto dos ricos", lembra Baumann.

O economista se mostra pessimista sobre os efeitos da crise na relação entre as rendas dos países e não acha provável que as perdas fiquem concentradas nos mais ricos. “É muito difícil que essa distância seja diminuída. O que pode acontecer – e já aconteceu na década de 30, após a crise de 29 – é uma escalada do protecionismo para proteger os ricos, o que seria terrível. Isso iria atingir em cheio as nações menos favorecidas e provocar ondas migratórias que poderiam despertar mais barreiras xenófobas pelo mundo”, teme Baumann.

Dados

As informações sobre o PIB per capita divulgadas com o IDH e usadas nesta comparação são ajustadas pela Paridade de Poder de Compra (dólar PPC), método que elimina as diferenças de custo de vida entre os países.

Mesmo assim, o PIB per capita (soma dos bens e serviços produzidos pelo país, dividida pela população) pode apresentar distorções, devido a desigualdades internas. Ele não necessariamente se reverte no bem-estar da população. É o caso, por exemplo, de países africanos ricos em petróleo, como a Guiné Equatorial, que está na lista dos países com maior PIB per capita (US$ 27.161), mas tem expectativa de vida de apenas 50,8 anos.


PNUD.

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