quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vira Vida reduz exploração sexual de jovens

Por ser uma capital com índices elevados de prostituição, Fortaleza foi escolhida para sediar a experiência piloto do Projeto Vira Vida do Serviço Social da Indústria (Sesi). Trata-se da profissionalização de jovens entre 16 e 21 anos em situação de exploração sexual e comercial. O objetivo é gerar oportunidades para esses jovens saírem do espaço de exploração sexual, já que dependem disso para sobreviver.

O projeto sócio-educativo teve início em julho do ano passado e já formou duas turmas, uma de Produção de Eventos e outra de Criação de Moda. Além disso, há outras turmas em andamento, como a de Comunicação Digital, de Moda Praia e de Gastronomia, cujas aulas acontecem no Senac. Todas terminam em setembro de 2009.

O Vira Vida inclui a articulação com empresas para absorção dos jovens no mercado de trabalho. A Caixa, por exemplo, forneceu 15 vagas. O Banco do Brasil também ofereceu algumas vagas para a turma de Produção de Eventos.

A primeira turma já foi toda inserida no mercado de trabalho e já há uma articulação com as empresas das áreas de confecção, gastronomia e comunicação digital para absorver os jovens que estão concluindo os cursos em setembro. “Já estamos conversando com o Sine e com o CIEE para fazer uma rede de parceiros e agilizar a articulação”, destaca a gerente de Educação do Sesi e Coordenadora Estadual do Projeto, Maria do Carmo Aguiar da Cunha Silveira.

Aliado ao curso de profissionalização, o projeto Vira Vida promove o acompanhamento psicológico e social. É feita uma revisão da saúde médica, odontológica e psicológica dos jovens, além de um trabalho com a família. O projeto faz um diagnóstico da vida dos candidatos, a situação familiar, e, a partir disso, realiza-se um acompanhamento individual.

Os cursos são definidos pela vocação dos jovens alinhada a uma perspectiva de mercado. A carga horária tem em média 500 a 800 hora/aula e os jovens recebem uma bolsa de R$ 500 para fazer os cursos. Fazem parte do currículo também noções de cidadania, empreendedorismo e autogestão.

Dentro do curso profissionalizante há também uma formação continuada de matemática e língua portuguesa. E para perceber as condições culturais, dos costumes e de valores é feito todo um trabalho de oficinas e dinâmicas de grupo.

“Junto com tudo isso a gente trata os preconceitos, as doenças, a gente constrói com eles um pacto de convivência”, lembra Maria do Carmo. A disciplina de horário também é trabalhada. “Há todo um processo de interação social”, conclui.

Há muitos jovens que se destacam, apresentando um desenvolvimento muito amplo. E para esses jovens que tiveram maior destaque o Vira Vida organiza uma encubadora para desenvolver mais ainda o talento deles. Eles são encaminhados para empresas que valorizem as suas especificidades. O projeto prevê ainda o acompanhamento de seis meses para firmar os jovens melhor no mercado de trabalho.

Os alunos passam por uma primeira seleção, feita por entidades que já trabalhavam com esses grupos. São elas, a Sociedade de Redenção – ONG ligada a Igreja Católica que trabalha com esse segmento na Barra do Ceará -, a Aproce (Associação das Profissionais do Sexo do Ceará – faz um trabalho amplo de prevenção a exploração sexual da infância e adolescência), a Funci (Fundação da Criança e da Família Cidadã) e o Convida.

São ONG’s que conhecem a família e as situações já vivenciadas pelos jovens. É através dessas entidades que o projeto chega aos jovens, às famílias e ao espaço territorial deles. Depois da seleção feita pelas ONG’s, eles passam por uma triagem no Sesi, feita por pedagogos, psicólogos e profissionais que trabalham na área para fazer uma avaliação das condições desses jovens. Eles analisam, por exemplo, o nível de escolaridade e a parte cognitiva.

Faz parte da intenção do projeto também proporcionar a inclusão digital. A turma de Produção de Eventos, que terminou recentemente, fez um curso de informática de dois meses, realizado após a formação. “Eles têm muita facilidade de conviver em grupo e uma possibilidade de crescimento coletivo. Eles possuem uma sensibilidade muito aflorada”, salienta a coordenadora Maria do Carmo.

Metodologia e resultados dos cursos

A ideia do projeto surgiu a partir da pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e e Adolescentes Para Fins de Exploração Sexual Comercial (Pestraf), que aponta que mais de 930 municípios brasileiros são atingidos por redes de exploração e tráfico de pessoas. Deste total, 292 (31,8%) estão no Nordeste, daí a escolha de uma capital nordestina para sediar o projeto piloto.

O Vira Vida está em fase de desenvolvimento também em Belém, Natal e Recife. Segundo Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do Sesi e idealizador do programa, a expansão do projeto está programada não só para as capitais já determinadas, mas para outras como Brasília, Belo Horizonte e São Paulo, por exemplo.

Segundo Meneguelli, os resultados são significativos e vistos por meio de indicadores de medição, que são a média de freqüência e a saída dos jovens da exploração sexual. Os níveis de freqüência chegam a 95% e as faltas acontecem normalmente por motivos justificáveis. Há ainda o indicador de que nenhum jovem tenha voltado para atividades de prostituição.

Formatura

viravida_entrega_certificad.jpgNo final de abril, 45 jovens receberam a certificação de conclusão dos cursos de Produção de Eventos e Criação de Moda e foi assinado convênio entre o governo do estado, através da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STPS) e o Sesi para o repasse de recursos da ordem de 200 mil para financiar as bolsas de qualificação para mais de 50 jovens. Segundo o governador do Estado, o programa vai ser ampliado e mais pessoas poderão ser beneficiadas. “O meu sonho é que os 45 se transformem em 45 mil”, destacou Cid Gomes.

Jair Meneguelli ressaltou que o Vira Vida está ajudando a resgatar a dignidade de todos os jovens que vivem da exploração sexual. “É um programa justo que dá oportunidades para jovens que nunca as tiveram e sofreram vários tipos de violência”, observa.

A aluna de Produção de Eventos, Francisca Wania Farias, 22, destacou a importância do projeto. “Absorvi muitos conhecimentos. Foi válido tanto na área profissional como na pessoal”, afirmou Wania que já está trabalhando no Banco do Brasil. Para ela, no entanto, isso é só o início.

Comunidade Segura.

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