segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Policiais pensadores em São Paulo

Discutir e buscar uma formação mais humana para os policiais militares. Para isso, incentivar e articular a continuidade dos estudos dos profissionais da ativa por meio do acesso a cursos de pós-graduação. Por fim, a longo prazo, colaborar para transformar a Policia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) em uma instituição que tenha em seu efetivo profissionais especializados e que esses sejam portadores de opiniões e dados que a sociedade anseia em ouvir.

Estes são alguns dos objetivos do grupo PensadoresPM. Formado inicialmente por oito oficiais da corporação, o grupo promoveu seu primeiro encontro no dia 2 de fevereiro de 2002, na cidade de São Paulo (SP). “Reunimos pessoas que tinham a impressão de que a formação que os policiais recebiam não era suficiente, que havia a necessidade da realização de cursos de pós-graduação”, explica o tenente Ronilson de Souza (foto), que hoje serve no Centro de Aperfeiçoamento de Estudos Superiores, escola de pós-graduação da PM, e está há 18 anos na corporação.

Em 2002, Souza realizava seu mestrado em Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Lá, estudava o currículo de formação de soldados da PM frente às demandas democráticas. Hoje, ele é o único policial da PM paulista com doutorado, título que recebeu também na PUC-SP em 2008.

Da primeira reunião dos pensadores também participaram uma tenente, um tenente-coronel da reserva e outros seis oficiais da ativa. Todos eram educadores dos cursos de formação da corporação. “A ação nasceu de uma ebulição. Sempre conversávamos pontualmente. O grupo se formou para promover conversas entre livres-pensadores”, diz Souza.

Formação policial

Segundo o tenente, hoje, a PMESP, com 94 mil policiais, tem 20 mestrandos, 15 mestres, 8 doutorandos e um doutor, todos com alguma ligação com os PensadoresPM. Para ele, a contagem, principalmente de mestrandos, está subestimada. “Esses números referem-se a policiais que estudaram em instituições como Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Mackenzie, PUC e Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com certeza, existem mais pesquisando em outras instituições”.

Além dessa ressalva, Souza lembra que logo não será mais o único policial do estado com o título de doutor. “O policial Raul Santo está para concluir o seu doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)”. Santo está pesquisando a relação da aptidão física cardiorrespiratória com o nível de estresse de bombeiros militares de São Paulo e deve defender sua pesquisa até meados do ano que vem.

Mesmo com poucos mestres e doutores, Souza diz que a formação oferecida para os policiais vem melhorando. “Desde 2002, existe na corporação a preocupação em relação às características do novo ingresso. Todos participam dos cursos de formação, que são modernos e têm uma perspectiva mais humana. Quando ocorrem desvios, normalmente, observa-se que os policiais envolvidos não participaram desses cursos”, explica. Como exemplo da atualidade dos cursos, Souza lembra da disciplina Tutela Penal da Igualdade Racial, que inclui também a questão da diversidade sexual.

Apesar da perspectiva otimista, o tenente diz que ainda é preciso avançar mais para alcançar uma formação ainda mais humana. “Alcançar uma formação mais humana significa formar policiais com capacidade para a inovação, criatividade, sensibilidade social e aptidões para a comunicação, entre outras características, que, na verdade, são partes constitutivas dos profissionais do futuro”, explica.

Funcionamento

Para obter todos esses objetivos, o grupo se encontra a cada dois meses no Café Gerondino, no centro da capital paulista. No local, promovem discussões sobre diversas questões, sempre focando a formação dos policiais e buscando encontrar sugestões que melhorem a atuação da instituição. “Somos críticos de alguns pontos da PM, mas sempre buscamos saídas para que o trabalho melhore. Todos que participam do grupo têm amor e gosto pelo trabalho e pela instituição”, explica Souza.

Dentro dessa perspectiva, já foram discutidos temas como: qual será o papel da Polícia Militar durante a Copa do Brasil, que será realizada em 2014; qual a importância do policial conhecer a linguagem de sinais para atender satisfatoriamente às pessoas com deficiência; qual o melhor processo de encaminhar os policiais para a aposentadoria nos últimos anos de atuação.

Para o tenente doutor, um dos grandes méritos que o grupo tem conseguido alcançar é levar as discussões para o alto escalão da PM. “Temos até a perspectiva de um dos integrantes alcançar o posto de coronel”, lembra Souza.

Outro resultado positivo alcançado pelos PensadoresPM, para Souza, foi o compromisso dos integrantes que conseguiram ingressar em algum curso de pós-graduação de sempre colaborar para inserir outro policial quando a titulação for concluída. “Dentro dessa lógica, ninguém no grupo fala de estudar e sair da corporação. Lógico que isso é um direito da pessoa, mas todos enxergam a especialização como uma maneira de contribuir ainda mais com o trabalho da PM”, explica.

Nesse contexto, novos integrantes constantemente aparecem. “Se um policial deseja iniciar uma pós-graduação, começa a procurar e sempre acaba ouvindo sobre os PensadoresPM. Então, ele nos procura e buscamos colaborar”, diz Souza.

Segundo Souza, questões que aparecem esporadicamente na grande mídia e que atingem a imagem da PM também fazem parte das pautas de discussão do grupo. “Sempre o assunto é pensado na linha da formação. Como levar a questão para o currículo”, diz.

Consolidação

Mesmo com todas as conquistas, Souza coloca que o grupo necessita de uma maior consolidação. “Em 2009, provavelmente já teremos um curso de aperfeiçoamento de oficiais, um mestrado profissional, inserido na Escola de Pós-Graduação da PM”, explica.

Segundo o tenente, a linha de pesquisa do curso deverá seguir os temas Administração Policial, Saúde e Policiamento Ostensivo. Todos adotarão os padrões e orientações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e estão sendo estruturadas junto com universidades e acadêmicos paulistas.

Além do curso, Souza almeja, diante do crescimento do número de pesquisadores na corporação, aumentar a participação dos policiais no debate público. “Hoje, se fizermos um levantamento anual nos jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo não encontraremos mais do que 10 artigos de integrantes da corporação, sendo que os dois veículos publicam, no mínimo, dois artigos de opinião por dia, o que somaria quase 1.500 textos no ano”, exemplifica.

O tenente Ronilson de Souza apresentou o projeto do PensadoresPM durante o Workshop da Rede Brasileira de Policiais e Sociedade Civil (RPS Brasil) que reuniu policiais de vários estados brasileiros, entre os dias 17 e 19 de setembro, no Rio de Janeiro.

Comunidade Segura.

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