quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Pais devem impor limites para deter o ''cyberbullying''

É importante explicar aos filhos que eles podem ser identificados e responsabilizados por ações virtuais.

O cenário é novo, mas a lição, antiga. "Os pais têm de colocar limites", avalia a psicopedagoga e terapeuta familiar Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPP). "Os pais desta geração perderam o caminho dos limites. Eles têm a visão de que o limite é algo repressor. Esse é o grande mal."

Os representantes da ABPP, assim como os advogados especializados em Direito da Internet, são figuras tarimbadas para conscientizar alunos, pais e professores. Segundo Quézia, o mecanismo do "cyberbullying" (intimidação pela internet) é o mesmo da "zoeira" em sala de aula. "Antes, tudo começava com um bilhetinho e, aos poucos, ia daquela panelinha de alunos para outras pessoas da escola. Hoje, um comentário na internet, uma foto, um vídeo, isso tudo ganha o mundo. O que muda é a repercussão."

"Eu costumo citar um sociólogo que diz que os pais são imigrantes no meio virtual e os filhos são nativos. Daí a dificuldade de se ensinar aos adolescentes como se comportar na internet", diz a advogada Camilla do Vale Jimene, do escritório de Renato Opice Blum. "A idéia é mostrar que 95% das situações que ocorrem na internet já têm amparo legal e o anonimato não é mais absoluto."

Revelar que a autoria das agressões pode ser identificada é importante, na medida em que, segundo a psicopedagoga, o que seduz o adolescente na internet é a idéia de não precisar assumir as conseqüências de seus atos, se usar um pseudônimo, o que ajuda a aumentar o número de agressões e a gravidade das ofensas. "Em grupo, o adolescente faz coisas que sozinho não faria. A internet funciona como esse elemento que não faz dele autor."

Especificamente para os pais, o recado é que eles têm de conversar com os filhos; além disso, podem controlar o que fazem na rede. "Há softwares que registram tudo o que é feito na internet e bloqueiam alguns sites. Mas isso você faz na sua casa. E na casa do outro?", questiona a advogada.

Segundo os especialistas, o ideal era que o assunto entrasse na pauta de discussão familiar, como o uso de camisinha e os cuidados ao volante. Além do diálogo aberto, de limitar o número de horas que o adolescente fica na internet e de colocar o computador em um local de uso comum na casa, diz Quézia, os pais têm de dar o exemplo. "De que adianta falar com o filho para não abusar da internet, se os pais chegam em casa e ficam horas no computador? Os filhos vão fazendo testes e ampliam os limites se não há controle."

No ano passado, o colégio Magno, de São Paulo, propôs aos alunos que fizessem um blog sobre o cyberbullying. "A iniciativa revelou que, muitas vezes, o aluno não tem a noção do mal que está fazendo", diz o coordenador de Tecnologia da escola, Sérgio Maciel. Alunos vitimados sentiram-se à vontade para dizer que esse tratamento os incomodava, tanto na escola quanto na internet. Seis meses depois, segundo ele, os alunos perceberam que esse comportamento pode machucar o outro e "mudaram, substancialmente, a maneira como se tratavam".

Estadão.

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