quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Menores infratores de volta ao crime



Dos jovens encaminhados à Delegacia do Adolescente de Curitiba neste ano, 36,98% eram reincidentes

Curitiba – Aos 17 anos de idade, João (nome fictício), foi acusado por tentativa de homicído e ficou, aproximadamente, um ano cumprindo medida socioeducativa em privação de liberdade nos Centros de Sócio Educação (Cense) São Francisco, em Piraquara (Região Metropolitana de Curitiba), e Fazenda Rio Grande, no município de Fazenda Rio Grande (RMC). Antes de ‘‘cair preso’’, como ele diz, trabalhou no tráfico de drogas, roubou e esteve envolvido em crimes.

Mesmo depois de passar por medidas que têm o objetivo de ressocializar o adolescente infrator e dar a ele novas alternativas na sociedade, o jovem voltou ao tráfico de drogas. (Leia entrevista nesta página). Dados da Vara do Adolescente Infrator de Curitiba mostram que 36,98% dos adolescentes do sexo masculino apreendidos este ano são reincidentes, ou seja, voltaram à criminalidade depois de cumprir alguma medida socioeducativa. Entre as meninas, o índice é menor. A reincidência chega a 23,23%.

Para o coordenador de sócio-educação da Secretaria de Estado da Criança e Juventude (SECJ), Roberto Peixoto, um dos fatores que dificultam a reinserção do adolescente na sociedade e possibilitam a reincidência é a falta de um atendendimento para sua família e para a comunidade onde o jovem vive. ‘‘Não adianta criar oportunidades para aquele menino se a família não entender o movimento que ele está fazendo’’, diz.

Apesar de não ter dados sistematizados sobre o problema no Estado, Peixoto destaca municípios como Foz do Iguaçu, Guaíra e Medianeira, que têm um complicador para a ressocialização dos jovens por serem rota de tráfico de drogas. Outros apresentam como agravante áreas de ocupação urbana irregular, áreas de periferia e falta de oportunidades, que dificultam o resgate dos jovens.

A secretária de Estado da Criança e da Juventuve, Thelma Oliveira, acredita que nem sempre o tempo nas unidades de internação é suficiente para recuperar alguns adolescentes com trajetória infracional grave. ‘‘O que as estatísticas dão conta é um alto grau de reincidência nos delitos mais graves, então, o que é possível compreender deste processo? O adolescente que tem uma trajetória infracional maior e, são os que vem para as unidades de internação, eles tendem a repetir o crime. Esse histórico infracional faz parte da vida do adolescente. E este período em que ficam conosco às vezes não é suficiente para fazer uma reestrutura na sua vida para que ele possa voltar a estudar, enfim, para ele se reorganizar’’, explicou a secretária.

De acordo com ela, um fator importante para o resgate dos jovens em conflito com a lei é organizar uma rede de apoio, referências positivas na família, na comunidade, na escola, que podem ajudar o adolescente nessa nova caminhada. ‘‘Isso é feito quando ele está interno conosco. Nós buscamos identificar vínculos positivos na família, pessoas que eles gostam e que se importam com eles, exemplos que são bons. A partir desta rede de apoio eles conseguem fazer uma nova trajetória afastados do crime. No entanto, isso nem sempre é possível’’.

Folha de Londrina.

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