sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Juiz condena adolescentes por apelidarem colega de escola de 'bode'

SÃO PAULO - Três adolescentes de classe média foram condenados a prestar oito horas de serviços semanais à comunidade durante seis meses porque colocaram apelido de "Bode" em uma colega de classe. Todos estudavam no Colégio Metodista, que fica no centro de Ribeirão Preto, a 319 km de São Paulo.

Segundo reportagem do jornal "A Cidade", a decisão do juiz da Vara da Infância e da Juventude, Paulo César Gentile, do Fórum de Ribeirão Preto, foi proferida na última terça-feira.

"Achei uma injustiça porque o meu filho não é bandido. Todos tinham apelido. Não era apenas a menina", afirmou a mãe de um adolescente de 15 anos, que prefere não se identificar.

Tudo começou no início do ano, quando os alunos começaram a se chamar por apelidos como "Maçã do Amor", "Pote" e "Peixe". Uma das alunas, de 15 anos, se sentiu ofendida ao ser chamada Bode e contou ao pai. Irritado, ele chegou a invadir a escola e a dar um tapa no rosto de um dos meninos.

"Ele bateu no meu filho na frente da diretora e ninguém fez nada. Logo em seguida, ele fez o Boletim de Ocorrência contra os meninos, mas a brincadeira era de todos e não apenas deles. Era um assunto que poderia ter sido resolvido na escola e não na Justiça", afirmou a mãe.

Os alunos, que têm entre 15 e 16 anos, estudam no 1º ano do Ensino Médio do Colégio Metodista. Os pais da menina e de um dos meninos acusados transferiram os dois de escola. "Transferi porque achei um absurdo o caso ir para a Justiça e não ser resolvido na escola", afirmou uma das mães.

Segundo a denúncia feita pelo pai da menina, uma página com os apelidos dos alunos também foi criada no Orkut, site de relacionamento da internet. "A menina diz que foi a gente que criou a página no Orkut, mas é falso. Eu acho que foi ela mesma quem criou para botar a culpa na gente", disse um dos adolescentes condenados.

Na denúncia, o pai da menina afirmou que ela era vítima de telefonemas ofensivos. "É tudo mentira. Colocamos o apelido sim, mas não telefonamos para ninguém", afirmou o adolescente de 16 anos, que foi transferido.

Uma das mães também se sentiu ofendida com o tratamento dado pela Polícia Civil aos garotos. "Fomos tratados como bandidos. Ninguém lembrou que em toda a escola colocar apelido é coisa corriqueira", afirmou. Ela disse que esperava de todos os envolvidos no caso diálogo e não processos.

O Colégio Metodista informou que o menino foi agredido no momento em que o pai da aluna foi buscá-la na escola. Como a menina foi transferida, o colégio diz que não pôde "tomar as medidas pedagógicas cabíveis". "Ressaltamos, porém, que a escola desenvolve sistematicamente trabalhos de conscientização a respeito de agressões verbais, bullying visando uma convivência harmoniosa entre professores, alunos, familiares, e a comunidade em geral", disse o Metodista em nota.
Bullying inclui comentário maldoso e uso de apelidos

Comentários maldosos, apelidos ou gracinhas que podem causar dor ou sofrimento entre alunos de uma escola são característicos do "bullying", segundo a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à infância e a Adolescência (Abrapia). A palavra ainda não tem tradução no português.

Segundo a instituição, o problema pode causar nas vítimas dificuldades na aprendizagem, depressão, falta de apetite, entre outros problemas psicológicos.

As crianças e adolescentes que sofrem com o bullying também podem não ter auto-estima e se sentir desprotegidas. O problema é mundial e pode ser encontrado em qualquer instituição de ensino.

O fenômeno começou a ser estudado há dez anos na Europa. Na época, se descobriu que muitas tentativas de suicídio entre adolescentes ou agressões estavam ligadas a ofensas consideradas bobas pelos adultos.

Segundo a psicóloga Mara Cabral Fonseca, é preciso saber diagnosticar o bullyng. "Para isto, é preciso um profissional especializado no assunto. Ele vai saber identificar o comportamento e os envolvidos no bullyng e analisar se o caso é isolado ou se atinge todos os alunos de uma classe".

Segundo ela, após identificar o comportamento o especialista vai usar a técnica necessária para descobrir as causas e contornar socialmente o problema na escola.

"Só uma intervenção rigorosa e especializada para resolver o caso", afirmou.

O Globo.

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