sábado, 4 de outubro de 2008

Festival de arte em penitenciária de Brasília promove ressocialização de detentos

Brasília - Na voz de uma detenta, uma mensagem de esperança para quem está atrás das grades. “Vamos em frente rompendo barreiras, não ficar colecionando sonhos guardados na gaveta”, cantava Janaína Farias, ao compasso da black music, na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, na manhã de hoje (3). É dia de festival de arte, de abrir as portas da cadeia e de mostrar que a arte pode colaborar para a ressocialização de detentos.

Na quarta edição do Fest'Arte, que aconteceu por toda a manhã de hoje, 109 presos nas seis unidades do sistema penitenciário do Distrito Federal puderam expor suas canções, poesias, danças, causos, peças de teatro e artesanatos. Esta é uma das iniciativas que fazem parte de um projeto da diretoria de educação das cadeias. Na arte, os detentos expõem seu cotidiano, suas angústias e suas perspectivas para a vida depois de cumprida a condenação.

Há dois anos, Alcides Passos estava perto de deixar a Papuda, principal complexo penitenciário de Brasília, e ganhava cinco das sete categorias do festival. Hoje, é estudante de direito e trabalha numa organização não-governamental (ONG) que dá assistência jurídica a 150 presos. Trinta deles promoveram uma oficina de origami na Feira do Livro de Brasília, que aconteceu em agosto. Hoje, 250 escolas públicas querem conhecer o trabalho.

“Na cadeia eu não aprendi praticamente nada. O que aconteceu em 2006 foi uma descoberta. Descobriram que eu poderia fazer algumas coisas e eu participei do festival. Pessoas cometem erros e pagam por eles. Agora eu posso utilizar da minha experiência, conhecendo os dois lados, e orientar eles. Hoje eu posso chegar aos meus 150 alunos e dizer que o crime não compensa, mas dar motivos e criar perspectivas a eles”, conta Passos.

Sob a coordenação do ex-detento, os presos produziram um livro de origami. A venda do livro gera renda a eles. “Hoje tenho um interno que a pena dele é o dobro de sua idade, e ele falou assim: 'Alcides, eu nunca mais vou pensar em cometer nenhum tipo de crime porque eu chorei na Feira do Livro quando fui chamado por tio'. Então o meu trabalho hoje é poder fazer por quem está preso alguma coisa, o despertar da importância dele para o mundo”, detalha.

Ainda faltam quatro anos e meio para que Robson Pereira deixe a prisão. Cumpre pena por tráfico de drogas e já venceu um ano e três meses dos cinco anos e nove a que foi condenado. Mas já traça perspectivas para fora da cadeia e as expressa no hip hop. No mundo do trabalho, ainda não sabe se quer ser engenheiro ou professor de educação física, mas nos projetos pessoais, já está decidido: quer criar um projeto de resgate para “a molecada”.

“Não tenho medo, tenho força de vontade”, conta Pereira sobre a vida pós-prisão. Ele defende que “é preciso dar bom incentivo e fazer algo que ocupe bastante tempo na cabeça das crianças, pois assim, elas ficam longe da marginalidade. É mais difícil a sedução do crime para as crianças quando elas gostam de algo”.

O processo de conscientização dos detentos no Distrito Federal é motivo de orgulho para as autoridades do sistema penal. É que enquanto a média nacional de reincidência é de 70% dos presos libertos, no DF é de aproximadamente 23%, o mais baixo do país, de acordo com o subsecretário do sistema penitenciário local, Anderson Espíndola.

“É no mínimo burrice não investir em ressocialização, porque aquela pessoa vai voltar para o sistema e gerar um alto custo para a sociedade e para o Estado”, defende. E exemplifica: “todo o indumentário de roupas de cama e dos profissionais da nossa secretaria de Saúde do DF é confeccionado no sistema penitenciário, além de todas as bandeiras do Brasil que foram usadas nos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro”.

Agência Brasil.

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