segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Em meio a onda de violência, loja do México vende moda à prova de balas




Há jaquetas de couro, pólos, guayaberas e impermeáveis, tudo blindado.
E todos os vendedores já testaram os produtos levando tiros.

Lojas de roupas exclusivas se enfileiram aqui na Avenida Presidente Masarik, na cidade do México. Um casaco Burberry? Um terno Corneliani? Uma echarpe Gucci? Se você tiver pesos suficientes, eles são seus.

Mas em uma rua com folhas na calçada no bairro de Polanco, encontramos uma loja que não é como as outras, mas que diz muito sobre o terrível estado de segurança neste país. Na loja Miguel Caballero, nome do seu dono colombiano, todo o vestuário é à prova de balas.

Há jaquetas de couro e camisas pólo à prova de balas. Camisas guayaberas blindadas estão penduradas ao lado de casacos impermeáveis de proteção, parkas e até smokings brancos. Todos os membros da equipe de vendas tiveram que levar um tiro usando um dos produtos, cujos preços variam de algumas centenas de dólares a US$ 7.000 (cerca de R$ 14 mil), para que eles possam atestar a eficiência da roupa.

"Parece um soco", disse um vendedor em relação ao tiro que levou na barriga.

Mas quem está disposto a deixar ali milhares de dólares por esses escudos chiques? Entre os clientes, estão o presidente Hugo Chávez da Venezuela e Álvaro Uribe da Colômbia, isso sem mencionar realezas, estrelas de cinema e outros VIPs.

À medida que o México enfrenta uma onda crescente de violência relacionada às drogas, as vendas também aumentam, divulgou a empresa, apesar de não fornecer números específicos.



Compradores


Os freqüentadores da butique, que precisam passar por um detector de metais, têm perfis variados.

Tem o cirurgião que termina de trabalhar no hospital tarde da noite e se sente vulnerável enquanto caminha no estacionamento em direção ao carro. Agora, um ladrão em potencial pode atirar nele com um revólver calibre 38, uma pistola de 9 mm ou uma metralhadora e ainda assim não perfurar seu casaco leve, resistente ao calor e até mesmo com certo estilo.

Tem o distribuidor de jornais com dezenas de empregados que recebem os jornais nas primeiras horas do dia para deixar nas portas das casas em toda a capital. Ele parou na loja outro dia para comprar uma jaqueta que possa mantê-lo no negócio mesmo se alguém tentar matá-lo para levar os maços de dinheiro que ele carrega por aí.

Tem o toureiro que está com medo, não de touros, mas de balas, e por isso encomendou uma roupa de toureiro que resista a tiros de arma de fogo.

E tem também os políticos, executivos e empresários mexicanos, alguns deles recebem ameaças e outros querem complementar as medidas de segurança atuais, o que em muitos casos inclui carros blindados, sistemas de alarme residenciais, seguranças e guarda-costas 24 horas por dia e botões de emergência.



Chance e risco


"O que oferecemos aqui é uma chance a mais para a vida", disse Javier Di Carlo, gerente de marketing, enquanto mostrava a melhor coleção Black em um provador privativo. "Não queremos que as pessoas digam aos criminosos 'Atirem'. Ninguém deveria se sentir como o Super-homem. Mas se o bandido atirar, damos aos clientes a chance de sair vivos".

Tiroteios são cada vez mais comuns no México. Todos os dias, os jornais estão cheios de vítimas, corpos dispostos em posições grotescas com feridas de bala em todo lugar. Alguns são vítimas de roubos comuns, mas os cartéis de drogas que controlam a maior parte do interior do México estão por trás da esmagadora maioria dos casos. Eles se vingam de políticos e policiais e agem como governos paralelos em todas as cidades ao longo de sua rota. Cruze o caminho dessas criaturas e eles não hesitarão em disparar o gatilho.

A explosão da violência associada ao tráfico, junto com uma explosão nos seqüestros em troca de resgates, tem estremecido os mexicanos. Peça informações a um estranho na rua hoje, e o medo é o primeiro sentimento que se vê em seu rosto. Ele ou ela pode precisar se recompor a fim de dar essa ou aquela informação.

Estudos mostraram que um número cada vez maior de mexicanos está gastando dinheiro com medidas de proteção. Famílias e empresas por todo o México investiram US$ 18 bilhões (mais de R$ 36 bilhões) em medidas de segurança particular, revelou um estudo recente do Centro de Estudos Econômicos do Setor Privado. Algumas pessoas estão tentando pôr as mãos em armas, que são estritamente reguladas aqui, mas estão largamente disponíveis no mercado negro. Para alguns, a moda à prova de balas é uma alternativa lógica.



Ego


Ainda assim, nem todos estão aderindo. Jon French, antigo oficial do US State Department que pilota uma empresa de segurança na Cidade do México, afirmou considerar os itens de luxo à prova de balas mais uma questão de ego do que qualquer outra coisa. A maioria dos assassinatos que preenchem as primeiras páginas dos jornais – somente neste ano, foram 3 mil – trata-se de traficantes matando rivais, salientou.

"Alguns membros da classe abastada daqui têm tendência à ostentação", disse French. "Você vê isso nos guarda-costas e nos carros. Algumas dessas coisas servem para dizer o quanto eles são protegidos em conversas no clube. Agora, eles podem dizer também: 'Olha, estou usando uma roupa à prova de balas!'".

Mas Caballero, que abriu a loja do México há dois anos e desde então expandiu com filiais na Cidade da Guatemala, Johanesburgo e Londres, retruca contando sobre o programa de fidelidade para os clientes. Chamado de Clube dos Sobreviventes, é aberto para qualquer um cuja vida foi salva por uma dessas roupas blindadas. O número de associados, contou em uma entrevista telefônica de Bogotá, está crescendo.



Controle de vendas


Para diminuir as chances de a loja estar vestindo os bandidos, Caballero realiza checagem do histórico dos clientes, conferindo o nome deles em uma lista de fugitivos compilada pelos governos dos Estados Unidos e do México. Ele observa que o vestuário não foi criado para o tipo de guerra que está sendo travada em algumas partes do México, onde assassinos do tráfico usam mísseis e granadas para eliminar os rivais.

Uma camisa pólo à prova de balas tem o propósito de repelir a violência urbana aleatória, do tipo que parecia como se fosse acontecer justo na esquina da loja de Caballero outro dia.

Fernando Arias Carmona, vendedor, usava um dos casacos de couro blindado em um café na Avenida Presente Masarik enquanto era fotografado. As pessoas ao redor perguntavam o que era toda aquela agitação. Quando ouviu que o casaco fashion de Carmona era à prova de balas, um homem na mesa ao lado colocou a mão no próprio casaco e disse: "Deixa eu testar".

Felizmente, o homem somente apontou a mão, os dedos em forma de pistola. Então, olhando o casaco de novo, disse, "Quero um desses".

G1.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog