sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Crianças na web assumem risco real

Eles se encontram na rua com quem conhecem na internet e não avisam os pais. Das 875 crianças e adolescentes que responderam pesquisa da organização não-governamental SaferNet, 28% admitiram essa conduta, que transfere para a vida real os riscos de um mundo virtual, em que a vigilância é baixa e a criminalidade quase dobra a cada ano, segundo o Ministério Público Federal.

Mas outro dado mostra que a prática pode ser mais disseminada. O dobro dos menores (56%) disseram ter amigos reais que já marcaram contatos com pessoas que conheceram online. Os encontros ocorrem apesar de a maioria dos pais reprovar a conduta. Dos 451 responsáveis que responderam à SaferNet, 61% afirmam orientar os filhos a nunca praticar essa conduta. Mas 25% dizem nem saber se as crianças têm amigos virtuais.

RISCO ASSUMIDO

G., de 15 anos, abriu o Orkut e viu um recado deixado no seu perfil: o rapaz se identificava como um adolescente de 15 anos e pedia para ser "adicionado" ao MSN. Ao ver o álbum de fotos do novo contato, deparou-se com imagens eróticas de um adulto. "Ele estava de cuecas e parecia bem mais velho." Depois de alguma insistência, o homem desistiu de manter contato com G.. O adolescente se livrou de um possível encontro com um pedófilo.

O esquema é quase sempre igual: a aproximação é feita a partir de sites de relacionamento, evolui para conversas online e num bate-papo se faz um convite mais ousado. Uma adolescente de 14 anos diz ter passado por isso. Medo de que o menino fosse um adulto? "Não, eu já conhecia metade da vida dele quando nos encontramos."

A "intimidade" foi construída a partir de várias conversas no MSN. Dessa forma, Melissa de Souza Lima, de 15 anos, que passa duas horas por dia na internet (sem a presença dos pais), conheceu o namorado. Era um "amigo de uma amiga".

A transferência das relações iniciadas online para a vida real é uma das preocupações ressaltadas pelos integrantes da SaferNet, que desde 2006 atua com o Ministério Público Federal em São Paulo no combate ao crime na rede. Nesse período, já recebeu mais de 1,5 milhão de denúncias anônimas. "A criminalidade vem crescendo 90% ao ano desde 2004", diz a procuradora da República Ana Scordamaglia.

O criminoso que tenta cooptar crianças pela internet orienta a vítima a digitar uma "senha" para saber quando um adulto entra no recinto onde o computador está. "Ele (criminoso) combina com as crianças para que, quando os pais estejam no recinto, coloquem uma frase (no comunicador em que a conversa ocorre, para alertá-los)", descreve a procuradora Ana Scordamaglia.

Estadão.

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