Brigas e mortes por disputa de pontos eram previstas por autoridades que consideram a atividade uma forma de sustentar o vício das drogas e praticar crimes
“Essa foi a demonstração de que tudo que foi feito não chegou a lugar algum”, desabafou o presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Maringá (Conseg), Everaldo Belo Moreno, ao saber que um guardador de carro havia assassinado outro a facadas quinta-feira à tarde no centro da cidade.
“A situação piora cada vez mais e foge do controle”, completou.
O presidente do Conseg não escondia a revolta com o promotor Maurício Kalache, que pediu, em uma reunião, que as autoridades policiais parassem de realizar arrastões contra os flanelinhas - desde então, não houve mais abordagens.
O promotor Maurício Kalache discorda que a questão flanelinhas possa ser solucionada com ações policiais.
“Não estamos autorizados a determinar quem pode e quem não pode ficar nesse ou naquele lugar”, diz ele, lembrando que a Constituição dá a todos os cidadãos o direito de permanecerem onde quiserem.
“Dizer que a morte de um flanelinha poderia ter sido evitada com uma operação policial parece uma solução mágica, simplista, que, se desse certo, esse não seria um problema nem em Maringá e nem em lugar algum”, destaca, completando que esse é, no mínimo, um falso argumento, uma forma de encobrir as causas reais do problema.
Everaldo Moreno afirmou que o trabalho que desde o ano passado vinha sendo realizado em parceria com instituições como Associação Comercial, Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Sasc), Promotoria de Justiça, Polícia Militar e outras, e que resultou no cadastramento de mais de 120 guardadores e identificação por meio de um jaleco que todos deveriam usar no trabalho, foi perdido.
O crime de quinta-feira envolveu dois flanelinhas que não estavam cadastrados, não usavam o jaleco e estavam pedindo dinheiro a motoristas em área paga sob a responsabilidade do Estacionamento Rotativo Regulamentado (Estar Maringá).
Além disso, ambos tinham passagem pela Polícia e, segundo testemunhas, costumavam trabalhar embriagados ou drogados e pelo menos um deles tinha uma arma.
Everaldo Moreno citou que, quando foi iniciado o cadastramento de quem pretendia trabalhar como flanelinha, muitos que estavam na atividade não quiseram se cadastrar, possivelmente por terem passagens pela Polícia ou até serem alvo de mandados de prisão.
A Prefeitura de Maringá respondeu que em momento algum fez a legalização da atividade de flanelinha. De acordo com a Sasc, a decisão de distribuir coletes foi tomada para facilitar a identificação do flanelinha que, por ventura, venha a fazer qualquer ameaça ou tentativa de extorsão.
A Secretaria, responsável pela assistência social na cidade, informou ainda que foram oferecidos cursos profissionalizantes aos flanelinhas a fim de que tivessem alternativa para mudar de atividade, mas nem um sequer aceitou qualquer tipo de qualificação, alegando que cuidando de carros podem ganhar até o dobro do que ganhariam em um emprego formal.
O Diário do Norte do Paraná.
Nenhum comentário:
Postar um comentário