segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Mulher bate mais em briga de casal, indica pesquisa

Pesquisa inédita revela que o consumo de álcool está relacionado a 9,2% das agressões femininas

As mulheres reagem mais em brigas de casal. A diferença é que as agressões delas contra os companheiros, mais constantes, são leves, como empurrões e tapas, e as deles, mais graves e violentas. A revelação consta do 1º Levantamento Nacional sobre Padrões de Consumo de Álcool no Brasil, feito pelo médico Marcos Zaleski, a partir de entrevistas com 1.445 pessoas em todo o Brasil.

O estudo, feito com apoio da Unidade de Estudos de Álcool e Outras Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), revelou que 5,7% das entrevistadas admitiram ter batido pelo menos uma vez em seu parceiro nos 12 meses anteriores à entrevista. No caso dos homens, o índice foi de 3,9%. "Foi uma surpresa. Todos imaginavam que o número de homens agressores seria maior que o de mulheres", diz Zaleski.

No total das agressões - que inclui episódios em que a pessoa bateu, apanhou ou houve violência mútua -, a mulher também aparece como mais impetuosa. Elas se envolveram em 14,6% dos casos de Violência entre Parceiros Íntimos (VPI) e eles, em 10,7%.

A questão da bebida é controversa. Mulheres assumiram estar embriagadas em 9,2% das brigas com violência - homens disseram que suas parceiras haviam bebido em 30,8% dos casos. Eles admitiram ter bebido em 38,1% dos episódios de VPI, mas elas rebateram que o parceiro estava embriagado em 44,6% dos casos. Vale destacar que apenas um dos parceiros foi entrevistado por domicílio, ou seja, os números não retratam os dois lados da mesma moeda.

O médico explicou que "a mulher se descontrola mais facilmente por inúmeras razões, inclusive a provocação do marido, enquanto os homens se descontrolam mais sob o efeito do álcool". Segundo Zaleski, os números podem expressar certa subnotificação dos homens em relação à agressão e ao uso do álcool, mas isso é comum nos trabalhos científicos. "É o que chamamos de limitação de estudo. Não há instrumentos para medir se a pessoa está falando a verdade."

Para tentar minimizar esse efeito, todas as entrevistas foram consentidas, tiveram o sigilo de informação preservado e as pessoas estavam sozinhas, em um lugar neutro. "O resultado da pesquisa reflete um padrão internacional. No entanto, para confirmar exatamente os números, teremos de fazer outros estudos a cada cinco anos."

A psicóloga Ilana Pinsky, orientadora do trabalho do médico, explica alguns números estranhos ao senso comum. "Culturalmente, não é tão pesado para as mulheres assumirem que batem, até porque elas vêem as agressões como leves. No caso dos homens, é mais complicado, porque o ato é tido como mais violento, que machuca. Mas outros estudos, até internacionais, mostram números em proporções semelhantes, inclusive com casais."

Segundo Ilana, outras ressalvas são importantes: muitos homens podem ter dito que suas parceiras estavam bêbadas quando os agrediram para justificar o fato de terem apanhado. Da mesma forma, elas podem ter ficado constrangidas em admitir o uso do álcool, muito mais associado aos homens.

A diretora do escritório regional do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) no Brasil, Ana Falú, recebeu com receio o resultado da pesquisa. Ela disse que deve ser considerada a informação de que a mulher pratica violência leve e o homem, mais grave."Nunca vi homem paraplégico por violência praticada pela mulher, mas o contrário é comum."

Segundo Ana, para que os números não distorçam a realidade, "o principal é saber onde se iniciou o ciclo da violência e em que momento essas mulheres resolvem reagir com um tapa". Ela explicou que todos os estudos nacionais e internacionais sobre o assunto apontam que o ciclo da violência familiar se inicia com agressão, mesmo que psicológica, de alguém de dentro da relação - "normalmente dos homens, pois eles se sentem no direito de ter controle sobre o corpo e a vida das mulheres."

Estadão.

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