quarta-feira, 17 de setembro de 2008

M., viciado: 'usei até o bagúio lôco'

M., recebeu como sentença em processo por porte de duas pedras de crack a freqüência nas atividades da oficina: "o crack me assusta muito"
Nove anos de consumo usual de drogas - entre elas maconha, cocaína e, esporadicamente, outros alucinógenos ("usei até o bagúio lôco"- como ele mesmo chama o LSD) - não causaram tantos danos à M., 26, quanto os 12 meses em que sucumbiu ao crack, droga pela qual se diz apaixonado. "A paixão é grande, mas eu não posso com ela."

M. precisou emagrecer 15 quilos para perceber o estrago que o uso do crack estava fazendo em sua vida. Nem mesmo a prisão, em agosto deste ano, com duas pedras da droga - cerca de cinco gramas - e que o deteve por cinco horas na 9ª Subdivisão Policial de Maringá, foi tão incisiva na percepção do dano físico e emocional quanto a dificuldade em reconhecer sua imagem. "Olhava minha foto na carteira de motorista e, no espelho, via uma caveira", lembra ele.

O alento quando chegou ao fundo do poço veio do irmão mais velho, que ofereceu ajuda para interná-lo em uma clínica em Rolândia. Um mês depois, ele apresentou-se na audiência marcada no Juizado Especial Criminal e recebeu como sentença a freqüência nas atividades da Oficina de Prevenção ao Uso de Drogas (Opud).

M. Acredita que a proposta do programa é válida e revela que o trabalho oferecido pela equipe de psicólogos o está ajudando a ter consciência de que é preciso, de fato, sair do mundo que o aprisionou por dez anos. "Nunca assaltei ou cometi qualquer crime para bancar o vício", diz ele, sem esconder uma ponta de orgulho. "Sempre tive dinheiro para comprar minhas drogas."

O que deve envergonhá-lo é o fato de não considerar criminosos os vários furtos cometidos contra familiares, principalmente aqueles que deixavam as bolsas ou carteiras 'marcando'. M. arrisca dizer que, além da saúde física e emocional, as drogas levaram entre R$ 20 mil e R$ 30 mil de suas economias.

De todas as perdas acumuladas pela década de dependência química, M. arrepende-se daquela que, para ele, é a maior delas: ter-se deixado seduzir pela ilusão do prazer momentâneo. "O crack me assusta muito. Não sou o tipo de pessoa que fica agressiva quando fuma, mas tem quem vire bicho".

Tanto sofrimento deixou alguma lição positiva? "Estou em condições de ajudar outras pessoas que estão na mesma situação que eu. Talvez essa seja a única coisa boa que tenha ficado de tudo isso."

O Diário do Norte do Paraná.

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