domingo, 17 de agosto de 2008

ONG auxilia mulheres a encarar gravidez indesejada

Organização de Maringá oferece abrigo e amparo a gestantes que pretendiam abortar e ajuda a encaminhar as crianças para adoção quando as mães optam por não criá-las



"Tia Fátima, preciso falar com você". Por um instante, a entrevista com Fátima Sato, uma das diretoras do Lar Preservação da Vida, foi interrompida por uma garota que trazia uma menina nos braços. Com alguns meses de vida, Ana Carolina é filha da adolescente, mas podia facilmente passar pela irmã caçula.

A exemplo da jovem mãe, outras 1.300 mulheres que viveram a angústia de encarar uma gravidez indesejada e viram no aborto a única saída para pôr fim ao solitário sofrimento encontraram na organização não-governamental, que completa 21 anos no dia 26 de agosto, o apoio que precisavam para deixar a vida se desenvolver.

Com estrutura física adequada para abrigar até 24 gestantes durante toda a gestação e até os primeiros três meses de vida do bebê, o Lar comporta atualmente cerca de 35 pessoas, entre mães e filhos de relações anteriores. Das 17 gestantes, grande parte tem menos de 18 anos.

"A experiência nos permite afirmar que nenhuma mulher quer abortar, mas age no desespero, e a falta de amparo adequado é um dos principais motivos", diz Fátima, há 11 anos trabalhando no Lar e responsável direta pela campanha "Sim à Vida". Criada em julho do ano passado, a campanha foi assumida em caráter permanente pela ONG, sendo uma das principais propostas do trabalho das voluntárias.

"O sofrimento da mulher que aborta é muito grande e ele vem mesmo, não importa o tempo que demore. Por essa razão, a campanha busca conscientizar as mulheres de que permitir a gestação é melhor do que carregar a culpa pela morte de uma criança pelo resto da vida. Se o filho continuar indesejado, a mãe pode oferecê-lo para adoção", diz Fátima. Até o ano 2000, 20% das mulheres atendidas no Lar optavam por deixar os filhos crescerem em outras famílias.

Essa será, talvez, a opção também de E., 25 anos, grávida de sete meses. Fruto de uma relação tumultuada com um homem do qual não há nenhuma intenção em guardar qualquer tipo de lembrança, o filho descoberto na 16º semana de gestação teria a vida interrompida. Para E., não havia outra alternativa.

No auge do desespero, sem trabalho e com pouca informação sobre o assunto, a jovem foi até o Fórum buscar orientação para praticar o aborto de maneira legal. Em vez disso, ela foi encaminhada para o Lar Preservação da Vida. "Pedro" chega em setembro, junto com a primavera.

"Ali eu percebi que não era a única com problemas e me senti amparada. Ninguém me julgou, não sofri nenhum tipo de preconceito", conta a mamãe. Do interior do Estado, evangélica, E. está sozinha em Maringá, onde já residiu, e confessa sentir-se ainda despreparada para encarar a família com o novo integrante, por isso alimenta a idéia de entregá-lo para adoção. "Não sei como será depois, só sei que ele vai nascer."

Entre as atividades de divulgação da campanha "Sim à Vida", que possibilitam às voluntárias da organização não-governamental chegar até pessoas como E. e oferecer o apoio certo na hora certa, estão palestras em escolas e universidades e a produção de uma peça teatral sobre o tema.


O Diário do Norte do Paraná.

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