Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito das Execuções Penais
"Com todo o respeito e acatamento, venho expor a Vossa Excelência, o seguinte:
"1. Defensora do réu ou reeducando acima;
"2. Procurou sempre, dentro de suas limitações defender o mesmo, quase gratuitamente porque sua família interiorana, modesta, simples, nunca teve condições financeiras para tanto.
'"3. Esta defensoria batalhou, lutou, repito, dentro de suas possibilidades, desejando, pedido a transferência de L.C.B., aidético como provou no processado, para que ele, nos últimos meses de vida, tivesse na sua cidade, o auxílio, o amor, o conforto dos seus familiares que o estimavam.
"4. Não se conseguiu. Tudo em vão.
"5. Inconformada, procura saber esta Defesa onde falhou, para e corrigir num futuro, quem sabe!
"6. Ontem, aquele Juiz Supremo que não vemos, mas cuja presença sentimos, 'decretou a extinção da sua punibilidade', pois faleceu o humilde cidadão na Penitenciária I de Itapetininga (SP) onde se achava recolhido.
"Com toda a consideração e respeito, é o que desejava participar a Vossa Excelência.
"(a) Maria de Lourdes Almeida Junqueira Thomaz - Advogada"
Com esta petição estravasa uma advogada sua frustração, seu inconformismo, sua dor diante de um drama humano que teve por palco as engrenagens burocráticas do sistema penitenciário e do Poder Judiciário.
A publicação deste desabafo é apenas um a homenagem singela a quem, depois de muitos anos de dedicação profissional (e o número de sua inscrição na OAB revela o que a vaidade feminina gostaria talvez de esconder), mantém intacta a sensibilidade, a capacidade de inconformar-se, o destemor em envolver-se.
Arrisca-se também a Dra. Maria de Lourdes: certamente haverá quem considere piegas sua atitude. Mas, com certeza, as profissionais do Direitos não metamorfoseadas em burocrata saberão ver aqui um paradigma.
Ana Sofia Schimidt de Oliveira
OLIVEIRA, Ana Sofia Schmidt de. Carta a um Juiz de Execuções. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.19, p. 02, ago. 1994.
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