quinta-feira, 10 de julho de 2008

Uerj estabelece medidas para combater a homofobia no ambiente universitário

Há mais ou menos seis meses, Adrielly Vamportt, de 32 anos, se submeteu a uma operação para mudança de sexo, toda custeada pelo SUS. Casada há três anos, a técnica de informática e estudante do terceiro período de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), se considera transexual há oito. Recentemente, ela recebeu a boa notícia de que o reitor da Uerj, Ricardo Vieira Alves, estabelecera, através de ato administrativo, a utilização dos banheiros femininos da instituição e do Hospital Pedro Ernesto por travestis e transexuais. Esse e outros seis compromissos fazem parte da cartaassinada pelo reitor para combater a homofobia no ambiente universitário. Outra que comprou a causa foi a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela oferece, desde 2007, o curso de formação em Diversidade Sexual e Identidades de Gênero.

- A decisão não muda muita coisa para mim, pois sempre usei o banheiro feminino, mas ela tem um peso simbólico muito importante, pois demonstra o apoio dele à causa. Além disso, estimula outras universidades a fazerem o mesmo - afirma Adrielly, que descobriu sua orientação sexual aos 12 anos de idade, quando teve seu primeiro namorado.

Adrielly acredita que a presença de travestis no banheiro pode intimidar mais as mulheres do que a de transexuais, pelo fato de serem mais masculinizadas e, principalmente, porque possuem o órgão sexual masculino, o que pode representar ameaça, na opinião de algumas. No entanto, ela enfatiza que é muito mais constrangedor para um travesti usar o banheiro masculino, "afinal elas são muito mais mulheres do que homens". A estudante faz parte de um grupo pró-diversidade sexual da Uerj chamado de Coletivo Ciranda ( conheça o grupo ) que luta para que as resoluções do reitor ganhem visibilidade dentro da universidade.

De acordo com o jornalista Eduardo Peret, mestre de cerimônias da Uerj e pesquisador de gênero e sexualidade na mídia, o objetivo da resolução do reitor é incorporar as travestis e transexuais ao gênero feminino, independentemente do sexo que possuam:

- Padrões de comportamento de gênero, ou seja, o que é masculino, e o que é feminino, não têm a ver com a homossexualidade em si. Queremos reduzir o preconceito, o estranhamento, de modo que elas se sintam mais à vontade para freqüentar a universidade, fazer cursos, trabalhar - defende.

Quem também vibrou com a iniciativa foi a publicitária Cristina Carvalho, que trabalha na Diretoria de Comunicação Social da Uerj. Ela é casada com Silvia há dois anos, e mãe da pequena Vitória de 5 anos, que foi adotada ainda bebê.

- Qualquer medida para acabar com o preconceito é válida. As pessoas precisam se acostumar com a diversidade, a não achar o diferente uma anormalidade. Aqui na Uerj, então, tem de tudo. Eu sempre deixei bem claro para minha filha a minha opção sexual. Nunca escondi nada, pelo contrário. Ás vezes ela fica um pouco confusa sem saber como tratar a minha parceira, se de tia, de mãe. Já chegou a chamá-la de 'pãe' - diverte-se a publicitária.

Curso orienta educadores para situações do dia-a-dia

A UFRJ também investe em ações que neutralizem a homofobia dentro do ambiente escolar. Desde 2007, a instituição oferece um curso de formação de gestores e profissionais da educação, cujo objetivo é capacitá-los para lidar com situações ligadas à orientação sexual e de identidade de gênero dos alunos.

- A intenção do curso não é ditar a maneira como devem agir, e sim, sensibilizá-los para a questão da diversidade sexual dos seus alunos, as violências, as discriminações e as possibilidades de mudança. A orientação pedagógica parte da realidade apresentada por eles nas aulas. Queremos formar agentes multiplicadores - esclarece Alexandre Bortolini, coordenador do projeto Diversidade Sexual na Escola da UFRJ, responsável pela criação do curso.

As aulas duram três meses e são financiadas pelo Ministério da Educação e pela Secretaria Especial de Direitos Humanos em função de o curso ter sido um dos selecionados para receber financiamento, em 2008, do Programa Brasil sem Homofobia. Segundo Bortolini, as escolas, principalmente as de educação básica, ainda estão muito mal preparadas para enfrentar a questão:

- As pessoas agem de acordo com suas concepções pessoais e com o senso comum. Pesquisas mostram que a escola só perde para o ambiente familiar, vizinhos e amigos, enquanto agente discriminatório. O curso procura reverter essa situação, e o papel das universidades tem nisso importantíssimo nessa luta - completa.


O Globo.

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