segunda-feira, 7 de julho de 2008

Rafael Ilha fazia internações à força, diz ex-paciente

Método foi confirmado por ex-funcionário de clínica do cantor do Polegar.
Rafael Ilha nega todas as acusações, diz o advogado.

Rafael Ilha, ex-cantor do grupo Polegar, está, mais uma vez, numa prisão. Rafael foi detido esta semana sob uma acusação muito grave: tentativa de seqüestro.

Um homem está em recuperação. Durante oito meses, ele tentou abandonar as drogas em um centro de convivências em Embu Guacu, na Grande São Paulo. Ele diz conhecer bem os métodos usados para levar novos pacientes para o local.

"Chega na casa da pessoa e cata ela dormindo, ou cata na rua mesmo. Se ela não quiser vir tranqüila, de boa, ela é obrigada a vir a força", diz o paciente.

O dono do centro de convivências é Rafael Ilha, preso esta semana em São Paulo. Um ex-funcionário de Rafael Ilha confirma o método: "Resgates são feitos diariamente. Em uma semana, às vezes há oito ou 10 resgates".

Resgate é o nome que se dá a uma internação à força de um paciente. Aparentemente, é isso que Rafael Ilha tentou fazer.


Rafael, que está na cadeia, alega que estava tentando fazer um resgate. Ou seja, levar para sua clínica uma mulher que supostamente estava envolvida com o consumo de drogas e que se recusava a ser internada.

Não deu certo. A mulher reagiu, gritou e os vizinhos chamaram a polícia. Rafael, uma enfermeira e um interno do centro de convivência foram presos.

Para a polícia, ele cometeu quatro crimes: tentativa de seqüestro, cárcere privado, formação de quadrilha e usurpação da função pública, já que tinha no carro uma camisa com símbolo da Polícia Civil.


Rafael tem uma biografia conturbada. Fez sucesso ainda adolescente, com a banda Polegar. Mas logo passou para as páginas de polícia, ao ser preso com drogas e por furto. O vício o levou a várias clínicas de desintoxicação.

Seus colegas de sofrimento contam que ele precisava ficar com luvas de boxe e protetor de cabeça para que não fizesse mais loucuras. Uma vez chegou a engolir um lápis e uma bateria.

Rafael casou e teve filhos. Resolveu abrir uma "comunidade terapêutica" para ajudar pessoas como ele a largar o vício. A Ressureição é uma das duas comunidades que pertencem a Rafael Ilha. Um lugar bem cuidado, confortável e caro: em média, um paciente paga R$ 1,8 mil por mês para ficar lá.

Mas antes mesmo de sua prisão, a comunidade Ressurreição já estava na mira da Vigilância Sanitária do município. Sendo registrada como uma "comunidade", e não como uma clínica, Rafael não poderia administrar remédios para os pacientes. Mas relatos indicam o contrário.

"Pessoas ficavam dias numa maca amarradas do pescoço até os pés. Medicada na cama, não agüentava nem levantar", conta um ex-paciente.


A Ressureição também não conta com médicos ou equipamentos de emergência.

"Pessoas medicadas, sem presença de médicos. Se essa pessoa tem algum problema, uma crise? Quem vai socorrer", pergunta a secretária de saúde de Embu Guaçu.

Por isso, o espaço foi interditado pela Justiça.

"Para funcionar como clínica, ele tem que providenciar uma série de exigências legais, dentre elas um corpo de funcionários adequado e mínimo para o número de internos", alega o promotor.

Há um mês, Rafael não pode receber mais pacientes novos. Os que ficaram parecem ser fiéis aos métodos de Rafael. E o elogiam.

"Todo o tratamento que a gente tem na clínica mudou minha vida. Eu amadureci, hoje sou uma nova pessoa, graças ao Rafael e ao tratamento dele", aponta um paciente.

Mas as denúncias contra o ex-Polegar vão além.

"O Rafael, às vezes, era um rapaz agressivo na clínica? Ele chegou a agredir um senhor de idade, eu vi", lembra um ex-paciente.

O advogado de Rafael, José Vanderlei Santos, garante que seu cliente nunca pensou em seqüestrar a moça. Queria apenas conversar.

"O que ele diz é: 'Eu não fui fazer resgate, não fui buscar ninguém'. O Rafael nega de forma peremptória todas essas acusações", diz o advogado de Rafael Ilha.

Segundo o advogado, a Justiça não pode levar em conta o passado de Rafael para julgá-lo.

"Temos um fato isolado, uma acusação gravíssima de seqüestro. Se o Rafael tem ou não antecedentes, é uma outra questão", lembra o advogado.

Mais uma vez na cadeia, mais uma vez à espera de um recomeço. Será que a Justiça vai dar mais uma chance ao ex-Polegar?


G1.

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