sábado, 5 de julho de 2008

Providência: Facção criminosa oferece R$10 mil por cada militar envolvido

Em depoimento no Tribunal do Júri da Justiça Federal, o sargento Renato de Oliveira Alves, um dos 11 militares do Exército envolvidos na morte de três rapazes do Morro do Providência, disse que a facção que controla o tráfico de drogas na comunidade onde os jovens moravam está oferecendo R$ 10 mil pela morte de cada um dos militares. Ao juiz Marcello Granado, da 17ª Vara Federal Criminal, ele informou ainda ter sabido por colegas de farda que suas famílias estão também correndo perigo. O depoimento do sargento, que foi iniciado na quinta-feira e interrompido por causa do horário, foi retomado nesta sexta-feira.

O depoimento do sargento Renato de Oliveira Alves durou três horas. O sargento afirmou ainda que o tenente Vinícius Ghidetti pediu desculpas aos seus subordinados pela encrenca provocada. Os militares estão em celas próximas e é possível escutar o que cada um fala. O pedido de desculpas ocorreu na carceragem. Ao receber ordem para embarcar no caminhão que levaria as vítimas ao Morro da Mineira, o sargento disse que imaginava tratar-se apenas de um trote, igualmente aos praticados dentro do Exército aos novos militares. O trote seria deixá-los próximo ao Sambódromo, para que voltassem à pé ao morro da Providência.

Após o depoimento do sargento Renato de Oliveira Alves, a procuradora Patrícia Nuñez, da 7ª Vara Federal Criminal, afirmou que todos têm o direito de mentir, e que cada um dos depoimentos será avaliado pelo juiz. Segundo o site G1, a procuradora teria dito que as pessoas "podem fazer choro falso, como já ocorreu", numa referência ao choro do tenente Vinicius Ghidetti durante seu depoimento ao juiz da 7ª Vara Federal Criminal, na quinta-feira.

Só irão a julgamento pelo tribunal do júri aqueles forem pronunciados, ou seja, os militares contra os quais o magistrado achar que há suficiente provas de sua culpabilidade.

Outro que depôs, o soldado Rafael Cunha da Costa Sá, afirmou ter visto o tenente Vinicius Ghidetti rindo ao ver traficantes num muro numa rua de acesso ao Morro da Mineira.

- Quando o caminhão entrou na rua, o soldado Júlio (Júlio de Almeida Ré) alertou o tenente, batendo na boléia, para a presença de pessoas armadas. O tenente olhou para trás (onde estavam militares e também as três vítimas), sorriu e em seguida apontou na direção dos traficantes - contou o soldado.

A procuradora do caso, Patrícia Nuñez, disse que, embora todos tenham sido indiciados pelo mesmo crime, somente a partir dos depoimentos é que se saberá de fato o que cada um fez.

- Agora é que nós estamos estabelecendo o ordenamento da questão. Tem aquele que negociou com os traficantes; tem os que serviram de escolta; e aqueles que ficaram na guarda. Então temos uma hierarquia diferenciada entre os denunciados. Estamos buscando a punição conforme os atos de cada um - afirmou a promotora.

Relatório preliminar do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) sobre a morte dos três jovens do Morro da Providência, no dia 14 de junho, diz haver indícios de promiscuidade nas relações entre militares e o crime organizado nos sete meses em que um efetivo do Exército esteve no local, fazendo a segurança das obras do projeto Cimento Social.

Segundo o secretário especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, a comissão que acompanha as investigações do caso identificou "gravíssimos sinais de contaminação" do Exército por traficantes.

No Rio, o tenente Vinícius Ghidetti de Moraes Andrade, acusado de chefiar o grupo de militares que entregou os três jovens a traficantes da Mineira, chorou durante depoimento prestado na quinta no Tribunal do Júri da 7 Vara Federal Criminal, ao falar do filho de dois meses.

O tenente Vinicíus Ghidetti Moraes Andrade afirmou que teria sofrido pressão dos subordinados. De acordo com o site G1, por esse motivo ele teria resolvido dar um susto nos rapazes, que foram detidos por desacato. O tenente, no entanto, caiu em algumas contradições durante o depoimento, quando afirmou ao juiz Marcello Granado, da 7ª Vara Criminal Federal, que sabia que traficantes de uma fação criminosa poderiam matar moradores de áreas dominadas por outros grupos. Apesar disso, ele disse que não imaginou que os traficantes a quem ele entregou os jovens da Providência fossem matá-los.

( Os onze acusados estão presos preventivamente. )

Nesta quinta-feira, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que participou de uma audiência na Câmara dos Deputados, defendeu ainda o uso do Exército nas obras do Morro da Providência, e criticou a paralisação das obras pela Justiça Eleitoral. Ele admitiu que o senador Marcelo Crivella (PRB - RJ) patrocinou o projeto ao destinar emendas parlamentares para a reforma das casas , mas questionou os deputados se o que deveria ser levado em consideração nesse caso seria o processo eleitoral ou o bem estar dos moradores.

O ministro Nelson Jobim informou ainda que já está em fase final de elaboração no Ministério da Defesa um projeto de lei que concede indenizações aos parentes dos três rapazes moradores do Morro da Providência, mortos no mês passado depois de terem sido entregues por militares a traficantes de uma facção rival, em outra comunidade. Segundo Jobim, o projeto deverá ser entregue ainda nesta semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A idéia é dar para cada família uma pensão mensal de um salário mínimo.


O Globo

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