sexta-feira, 4 de julho de 2008

Polícia participa de treinamento sobre perfil de vítimas de assassinos em série

Desde terça-feira (01), policiais do Paraná, Rio Grande do Norte, Goiás, Santa Catarina e Espírito Santo passam pelo treinamento.

Qual seria o perfil das vítimas de um assassino em série? Mulheres idosas, meninos entre 10 e 13 anos, crianças abaixo de cinco anos? Para responder as essas perguntas policiais civis e federais participam de curso, até esta sexta-feira (04). O treinamento é continuação do curso “Da cena do crime ao perfil do criminoso”, promovido pela Escola Superior da Polícia Civil do Paraná e que começou no ano passado, com uma equipe do FBI. Desde terça-feira (01), policiais do Paraná, Rio Grande do Norte, Goiás, Santa Catarina e Espírito Santo passam pelo treinamento.

“É um curso dinâmico, que pretende fazer com que nossos policiais trabalhem com pesquisa de casos de possíveis criminosos seriais, com técnicas profissionais. Assim será possível, com maior rapidez, solucionar problemas desta natureza, no futuro”, disse o vice-diretor da Escola da Polícia Civil, Sivanei de Almeida Gomes.

No início da semana, o curso contou com aulas dos professores do Rio de Janeiro, Ester Kosovski e Heitor Piedade Júnior, sobre Vitimologia. Ester tem pós-doutorado pela Union College Schenectady – New York, é pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e presidente da Sociedade Brasileira de Vitimologia. Heitor é mestre e doutor em direito penal e professor da Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas e da Universidade Estácio de Sá.

VULNERÁVEL – Eles falaram sobre classificação dos tipos de vítimas e quando elas se tornam vulneráveis, por ter o perfil procurado por um assassino serial. “Geralmente o assassino tem preferência por um perfil específico. Podem ser crianças, mulheres idosas ou meninas adolescentes, depende do que o criminoso pretende. Isto auxilia a fazer correlações entre crimes, que tenham acontecido em uma mesma região ou locais diferentes”, explicou o diretor.

A professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Ana Christina Brito Lopes, mestre em Ciências Penais, também participou das palestras, falando sobre o perfil de crianças vítimas. Ela coordena o curso de especialização da PUC-PR sobre “Proteção integral a crianças e adolescentes”.

Nesta quinta-feira (03), a professora mestre em Psicologia Investigativa, pela universidade de Liverpool, Marília Costa, de Natal (RN), falou sobre o tema. “A psicologia investigativa traz assuntos como a geografia do crime, que ensina a mapear pontos de crime dos suspeitos. Também fala sobre mapas mentais, que rastreiam a forma como o criminoso age, se ele é organizado ou desorganizado, se age próximo à sua residência ou longe”, explicou o delegado.

O curso acontece na Escola Superior da Polícia Civil do Paraná nos períodos da manhã e da tarde, até esta sexta-feira (04). A próxima fase do treinamento deve ser realizada ainda este ano, por uma equipe do FBI dos Estados Unidos.

FBI – Em novembro do ano passado, policiais do Paraná e de outros Estados foram treinados por uma equipe do Federal Bureau of Investigation (FBI). A Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp) promoveu, por meio da Escola Superior de Polícia Civil, em parceria com o FBI, o seminário e o curso Internacional de Técnica de Investigação Policial – Da Cena do Crime ao Perfil do Criminoso. A técnica é usada também no Canadá, Grã-Bretanha e Holanda, entre outros países, além dos Estados Unidos. O seminário forneceu aos participantes uma noção geral de como funciona a técnica de investigação utilizada pelo FBI, para traçar o perfil de possíveis criminosos violentos reincidentes.

BOX – Caso paranaense

No Paraná, um dos casos mais polêmicos, envolvendo um assassino em série, foi o de José Airton Pontes, que também utilizava os nomes de Elias Generoso Batista Rocha, Sidnei Padilha e Sidney Padilha Fristch.

Pontes foi preso pela polícia do Paraná no começo de novembro de 2005, na cidade catarinense de Pinhalzinho. Os policias chegaram até ele durante a investigação do assassinato do menino Renato Renan Poronizak, de 7 anos, que sofreu atentado violento ao pudor na cidade de Marmeleiro, Sudoeste do Paraná.

Depois de preso, Pontes foi encaminhado para a delegacia de Foz do Iguaçu e, em seguida, para Curitiba, onde o Sicride assumiu as investigações. “Ele foi preso três vezes por estupro e atentado violento ao pudor e já ficou preso por 21 anos. Nos períodos que esteve solto, usava uma bicicleta cor vermelha, com garupa na frente e carregava uma viola nas costas. Identificava-se como missionário e, desta forma, conseguia abrigo, dinheiro e comida de pastores que acreditavam nele e o acolhiam”, explicou a delegada Márcia Tavares do Santos, na época, titular do Sicride.

O primeiro crime que a polícia suspeitou do envolvimento de Pontes foi o de Jéssica Moraes de Oliveira, 8 anos, desaparecida em junho de 2005, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Uma testemunha viu a criança acompanhada de um homem com uma bicicleta e que se identificou como missionário evangélico.

Em depoimento aos policiais do Sicride, Pontes confessou ter estuprado e estrangulado a criança. Ele levou os policiais até o local do crime. O corpo da garota foi encontrado em Almirante Tamandaré, em uma plantação de pinus, onde foram encontrados objetos pessoais e os restos mortais da menina.

A polícia afirma também que Pontes confessou que já havia violentado sexualmente pelo menos outras 28 crianças, entre meninos e meninas, em estados como São Paulo, Goiás, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rio de Janeiro e Rondônia. “Pontes alegou não conseguir conter seus impulsos quando está em liberdade, não sabendo explicar porque matou suas vítimas. Ele diz sofrer com as lembranças de seus atos e já passou por avaliações psicológicas e psiquiátricas quando esteve preso em Curitiba e Florianópolis”, disse a delegada Márcia.

De acordo com a polícia, o envolvimento de Pontes com abuso sexual de crianças começou quando ele tinha 15 anos e lhe rendeu quatro condenações. Uma em Curitiba, em 1975, duas em Lages (SC), em 1988, e uma em Santa Cruz do Rio Pardo (SP), em 2004. Ele cumpriu aproximadamente 21 anos de reclusão e, antes de sua prisão em Marmeleiro, era procurado pela polícia de São Paulo por descumprimento de condições impostas para sua liberdade condicional concedida pela comarca de Santa Cruz do Rio Pardo, onde estava preso com o nome de Sidnei Padilha.


Tribuna News, 03/07.

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