segunda-feira, 7 de julho de 2008

Polícia do Rio é suspeita de crime que levou a desaparecimento de mulher na Barra da Tijuca

A jovem Patrícia Franco, desaparecida há 22 dias após um acidente na Barra, pode ter sido vítima da polícia do Rio. Na madrugada de sexta para sábado, dia 14 de junho, ela deixou uma casa de shows na Urca e foi para a Barra. Segundo amigas, Patrícia tinha bebido. Ela dirigia com a habilitação vencida. Depois de cruzar a zona sul do Rio de Janeiro, chegava à zona oeste, onde mora com os pais. Ao sair de um túnel, já na Barra da Tijuca, ocorreu o que parecia ser um acidente.

O carro de Patrícia saiu da pista poucos metros antes de um viaduto. A mais de 90 km/h, avançou pela calçada. Caiu numa ribanceira. Depois, cruzou a pista, debaixo do viaduto. Caiu numa segunda ribanceira e só parou nas pedras, na beira de um canal, que desemboca no mar.

Ao lado do viaduto, há sempre um carro da Polícia Militar, com homens de plantão. Dois PMs foram os primeiros a chegar ao carro e disseram não ter visto ninguém dentro do veículo. Mergulhadores do Corpo de Bombeiros não localizaram o corpo. Peritos estiveram no local, mas não encontraram manchas de sangue dentro do carro. A delegacia do bairro tratou o caso como "acidente com desaparecimento da vítima".

Dias depois, policiais de uma outra delegacia, a Divisão Anti-Seqüestro, assumiram a investigação. Pediram o apoio de outros dois peritos e o rumo dessa história começou a mudar. Havia perfurações no capô do veículo.

- A linha de investigação passa agora a ter um acidente associado a impactos de arma de fogo que foram efetuados contra o veículo da Patrícia - aponta Marcos Reimão, da Delegacia Anti-Seqüestro.

Fotos mostram que o cinto de segurança do motorista estava afivelado na hora em que o carro caiu da ribanceira.

- Se o cinto estava afivelado, onde estava o corpo? Onde é que está o corpo? Onde é que está a Patrícia? - questiona Marcos Reimão, da Delegacia Anti-Seqüestro.

Mais pistas: o relógio e duas pulseiras da vítima, encontradas perto do carro.

- Eram daquele tipo de pulseira que a mulher tem que fechar a mão para colocar. Como uma pulseira dessas poderia sair da mão da vítima num acidente? - aponta Marcos Reimão, da Delegacia Anti-Seqüestro.

A pulseira e o relógio foram achados dentro d'água, numa profundidade de mais ou menos dois metros.

- Será que aquilo não foi colocado naquele local para a polícia encontrar e fazer parecer que a vítima foi projetada na água? - diz Marcos Reimão, da Delegacia Anti-Seqüestro.

Três carros da Polícia Militar atenderam a ocorrência. Mas a Divisão Anti-Seqüestro já sabe: um dos carros não deveria estar ali. O que, então, a viatura da PM fazia no local do suposto acidente?

- Por que dois policiais que não estavam responsáveis pela ocorrência estavam lá embaixo, mexendo no veículo? - pergunta Marcos Reimão, da Delegacia Anti-Seqüestro.

A atitude de um desses policiais é tida como suspeita. Entenda o porquê: O PM confessou ter jogado uma pedra contra o vidro dianteiro do veículo. A pedra, com mais de dez quilos, foi encontrada perto dos pedais do motorista. O PM alegou que queria observar o interior do carro.

- Ele agiu intencionalmente. Ele quis quebrar aquele vidro. Não sei se para observar mesmo ou se para ocultar uma outra coisa, um buraco de bala no vidro - pondera Marcos Reimão, da Delegacia Anti-Seqüestro.

Mas os tiros que teriam perfurado o vidro dianteiro podem ter deixado marcas dentro do veículo. Amostras de uma peça que fica sobre o porta-malas foram levadas o Centro Tecnológico do Exército, no Rio de Janeiro. Com a ajuda de um microscópio eletrônico de varredura, é possível encontrar, nas amostras, partículas metálicas invisíveis a olho nu. Resíduos de chumbo, por exemplo, que são os rastros de um projétil de arma de fogo.

Esta semana, o microscópio revelou: as marcas são mesmo de tiros. Dois tiros. Os peritos recolheram as armas dos policiais que estavam de plantão na madrugada do dia 14. Exames, que já estão sendo feitos, podem revelar se os tiros partiram ou não das armas dos PMs, que continuam trabalhando.

As três viaturas usadas na ocorrência apresentam manchas de sangue - o que é comum em ambulâncias e outras viaturas que transportam gente ferida.

A dúvida é: uma dessas manchas é do sangue de Patrícia? Foram colhidas amostras do sangue dos pais da engenheira, para exames de DNA.

- Tem que haver uma resposta. Temos que chegar ao que levou, às causas desse episódio. E isso, nós temos prazo para começar, mas não temos prazo para terminar - garante o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame.

está desaparecido desde o dia 14 de junho .


O Globo.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog