Depois de 10 anos do escândalo, Schering do Brasil afirma que gaúcha é a primeira a receber por danos morais
Aos 30 anos, Marilda Martins da Silva, tomou uma decisão: não queria mais engravidar. Um casal de filhos já estava de bom tamanho.
Mas, para sua surpresa, num exame pré-câncer de rotina feito naquele mesmo ano, em 1998, ela descobriu que mais uma criança estava a caminho.
A culpa foi justamente da pílula, na qual tanto confiava. A doméstica havia comprado uma cartela do lote do comprimido Microvlar produzido à base de farinha, escândalo que envolve o laboratório Schering do Brasil e colocou em alerta milhares de usuárias do contraceptivo.
A gestante moveu uma ação na Justiça contra a empresa, pedindo indenização por danos morais. Ontem, Marilda foi ao Fórum de São Leopoldo - onde morava na época - receber um cheque com o valor corrigido da indenização.
Conforme a assessoria jurídica da empresa em São Paulo, não há informação de outro pagamento de indenização, a não ser do caso de Marilda.
A mãe de Gabriele, uma menina saudável de nove anos, não escondia a satisfação por receber um dinheiro tão demorado - o valor não foi divulgado para preservar a família.
Dinheiro da indenização vai para poupança da caçula
A ação de danos morais foi movida em setembro de 1998, quando Marilda estava no sexto mês de gestação. A sentença final no Tribunal de Justiça do Estado foi proferida no início de julho, após longa batalha judicial.
- Decidi processar o laboratório para que isso não aconteça novamente e para garantir os direitos da minha filha - diz a mãe, hoje com 39 anos.
Depois do susto com a pílula de farinha, Marilda reforçou a prevenção. Mudou de pílula e passou a usar preservativo até que o marido fizesse a vasectomia, realizada há dois anos.
Moradora da Ilha Grande dos Marinheiros, na Capital, Marilda recebe pensão do INSS desde que passou por uma cirurgia nas mãos, o que a obrigou a abandonar o serviço. O marido, Enio Marques da Silva, 50 anos, é operador de caixa em um estacionamento de Porto Alegre. O orçamento apertado para sustentar os três filhos não foi motivo de desânimo.
- Quando recebi a notícia da gravidez, cheguei em casa aos prantos. Aos poucos, fomos nos estruturando, e hoje tenho essa menina linda, o xodó da nossa casa - comemora Marilda, segurando a foto de Gabriele nas mãos.
O dinheiro da indenização já tem destino certo: a ampliação da casa, o tão sonhado computador para Gabriele e uma poupança para garantir o futuro da menina.
Entenda o caso:
- Em junho de 1998, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária determinou a retirada do anticoncepcional Microvlar das farmácias. A suspeita era de que lotes usados para o teste de embalagens e produzidos à base de farinha haviam sido roubados e comercializados na Grande São Paulo antes de serem incinerados.
- A partir do anúncio da irregularidade, centenas de mulheres no Brasil passaram a suspeitar de gravidez indesejada.
- Mais de uma centena de usuárias do medicamento que ficaram grávidas processaram a empresa Schering do Brasil por danos morais. No Estado, há mais de 10 casos tramitando no Tribunal de Justiça.
Zero Hora.
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