domingo, 6 de julho de 2008

Novo delegado-chefe de Maringá propõe integração entre Polícia e comunidade




O novo delegado-chefe da Polícia Civil de Maringá, Márcio Vinícius Ferreira Amaro, 44 anos, foi transferido de Foz do Iguaçu, uma das regiões mais violentas do País.

Casado e pai de dois filhos, Amaro deixa a cidade das Cataratas após dois anos e sete meses de trabalho. Na bagagem, ele transporta um resultado expressivo: a queda de 40% no número de assassinatos em Foz.

Amaro vai substituir Antônio Brandão Neto, transferido para Arapongas. A data oficial da posse ainda não foi confirmada pela Secretaria da Segurança Pública.

Mesmo com a queda de 40% nos homicídios, Foz registrou mais de cem assassinatos este ano, número quase cinco vezes maior que Maringá - apesar de a Cidade Canção ter 14 mil habitantes a mais, segundo o IBGE.

Amaro diz já saber que a realidade maringaense é diferente, com a criminalidade focada nos crimes contra o patrimônio.

O novo delegado adianta ter uma receita para combater a escalada de crimes contra o patrimônio: o combate ao tráfico de drogas - do pequeno ao grande traficante.

Há 16 anos na Polícia Civil, Amaro já trabalhou em Porecatu e Londrina - na Capital do Café chefiou a Divisão de Homicídios.

O Diário: O senhor deixa Foz do Iguaçu, que conta com mais de cem assassinatos neste ano, para chefiar Maringá, com 24 casos. A mudança pode ser encarada como férias?

Márcio Amaro: Muda muita coisa, o crime contra o patrimônio acho que é o foco maior em Maringá. Em Foz do Iguaçu, o homicídio e o tráfico são os mais intensos.

O Diário: Já adiantaram alguma coisa sobre o que espera o senhor em Maringá?

Márcio Amaro: O doutor Nílson Rodrigues da Silva, que é o delegado-adjunto, deve permanecer e está tomando pé da situação, levantando os fatos que mais incomodam a população. Geralmente, você tem que chegar e conhecer a realidade da cidade, para depois traçar uma meta, um objetivo.

O Diário: O Conselho Comunitário de Segurança de Maringá (Conseg) defende a implantação de uma lei seca na cidade, estabelecendo um limite de horário para a venda de bebidas alcoólicas. O senhor acredita que esse tipo de medida ajudaria a combater a criminalidade?

Márcio Amaro: É uma medida polêmica. O que eu posso te dizer é que a gente percebe que a questão de homicídios, pelo menos em Foz do Iguaçu, pelo que nós levantamos, não tem muita relação com esse tipo de coisa. Quando o cara quer matar, ele se prepara, planeja e pega a pessoa de surpresa, normalmente em locais em que não haja testemunhas, em vias públicas. Em bares é complicado, é difícil acontecer. Não vejo que a lei seca possa surtir muito efeito, vai depender de você fazer um estudo do local para saber se há influência da abertura dos bares com relação à criminalidade. Enfim, acho que tudo tem que ser muito bem pensado e feito de forma técnica, avaliando a situação e não simplesmente na comoção, por questões políticas.

O Diário: Em Maringá, têm sido realizadas com freqüência Ações Integradas de Fiscalização Urbana (as AIFUs) entre as polícias Civil e Militar, além do Judiciário, Vigilância Sanitária e outros órgãos, com revistas em clientes de bares e pessoas que estão nas ruas da cidade. Esse tipo de atuação ajuda a inibir a ação de criminosos?

Márcio Amaro: Considero bastante importante e salutar esse tipo de ação integrada. Principalmente no que diz respeito à presença de menores em bares e locais perniciosos.

O Diário: Quais os maiores obstáculos hoje no trabalho policial?

Márcio Amaro: O trabalho da Polícia depende de vários fatores. Na realidade, nós trabalhamos com conseqüências de outras situações que não são bem resolvidas, como problemas familiares, desemprego, enfim, várias questões sociais que acabam desembocando na questão da criminalidade. Não adianta a Polícia simplesmente se aparelhar e ter centenas de policiais na rua, sem ter solução em outras esferas do setor público. É difícil dizer o que emperra o trabalho policial, depende de uma série de esforços de diversos segmentos da sociedade.

O Diário: A maioria dos assassinatos em Maringá tem relação com o tráfico de drogas. E a cidade está na rota do tráfico no País, que tem Foz do Iguaçu como uma das portas de entrada. Pela experiência do senhor em fronteira, qual a melhor estratégia para combater os traficantes na cidade?

Márcio Amaro: Você normalmente consegue resultados no combate ao tráfico de entorpecentes de duas formas: ou há uma delação, alguém que entrega o traficante e você dá o bote certo prendendo o criminoso, apreendendo o produto, ou por meio de investigação. A investigação normalmente é demorada, depende de inteligência e estrutura própria para fazer a coisa. E tem dois tipos de traficantes: aquele que vende em grande escala e normalmente não aparece, que precisa de mão-de-obra barata e comanda a coisa com o poderio econômico. E tem o traficante do varejo, que aparece mais, põe a cara para bater e também incomoda da mesma forma, porque é quem distribui a droga. Temos que trabalhar nos dois segmentos: buscando grandes apreensões, desarticulando os grandes traficantes, mas sem esquecer o varejo. Não adianta você ficar focando o trabalho em cima do grande traficante, enquanto o pequeno está na rua, vendendo droga à torto e a direito. Nós temos que trabalhar nas duas linhas de investigação para minimizar a questão do tráfico de entorpecentes, porque ele resulta em outros crimes. Várias pessoas que não têm condição de comprar a droga acabam enveredando pelo furto e roubo para sustentar seu vício.

O Diário: O Governo do Estado divulgou, recentemente, que houve queda no número de homicídios em Foz do Iguaçu. Como isso foi possível?

Márcio Amaro: Em 2007, caiu um pouco, não foi muito. Mas em 2008 caiu bastante, estamos com quase 40% a menos de homicídios em relação ao ano passado. Isso é um resultado da intensificação das operações, o que vêm ocorrendo desde agosto do ano passado. Essas ações acontecem de forma ininterrupta, envolvendo mais de 200 policiais na operação. As ações são em favelas e abordagens que resultaram na retirada de muitas armas de circulação. A presença policial coíbe bastante na prática desse tipo de crime. E por outro lado, há também um trabalho mais árduo, mais intenso, da Delegacia de Polícia, que tem efetuado várias prisões. Os marginais acabam preocupados com a ação da Polícia e evitam cometer crimes. Então são dois aspectos: um é a prevenção feita pela Polícia Militar e Polícia Civil durante essa operação e outra é a repressão propriamente dita feita por meio de um trabalho investigativo, levando à autoria do crime e consequentemente à prisão, mostrando aos marginais que a Polícia está agindo e que caso cometam um crime obviamente serão punidos. Esse é um aspecto que traz bastante resultado. Trabalhei em Londrina no setor de homicídios durante quase dois anos e durante esse período, nós, com apoio do Ministério Público e do Judiciário, prendemos quase 80 pessoas em seis meses, entre menores e maiores envolvidos em crimes contra a vida. E nisso a gente percebeu que a prática dos homicídios está muito ligada à impunidade.

O Diário: O cidadão acha que ninguém vai descobrir que ele matou o outro?

Márcio Amaro: Exatamente. Se o cara mata uma vez e ninguém prende, cria um clima de impunidade. Porque a investigação é dificultosa, as pessoas têm medo de colaborar com a Polícia, é uma investigação difícil de se fazer. E outros marginais, percebendo a ação de seus pares, também acabam cometendo homicídios e vira aquele ciclo de vingança, um grupo matando o outro e ninguém vai preso. Com isso o crime se prolifera. Então, a questão da prisão é importante para romper esse ciclo e demonstrar aos marginais que cometendo um crime eles serão presos e obviamente que isso tem trazido resultados positivos.

O Diário: Como é seu estilo de trabalho na Polícia?

Márcio Amaro: A gente procura manter um grupo coeso, sou muito de conversar com os funcionários, demonstrar para a população o nosso interesse de resolver. Vou morar na cidade, vivenciar os problemas da cidade. Com isso, a gente acaba se envolvendo não só com os servidores da unidade policial, mas também com a comunidade. Acho que é uma coisa que dá certo, porque a população percebe que a pessoa está interessada em resolver os problemas da cidade e é uma troca de confiabilidade. A partir do momento em que a população tem confiança na Polícia, começa a passar informações e conseqüentemente os resultados são mais fáceis de serem alcançados.

O Diário: Já achou casa para morar em Maringá?

Márcio Amaro: Não, por enquanto eu vou ficar em algum hotel aí até mudar com a família. Vou na frente, depois a família vai atrás.


O Diário do Norte do Paraná.

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