quarta-feira, 2 de julho de 2008

Nordeste possui 1,4 milhões de famílias com insegurança alimentar grave

Com o objetivo detectar as repercussões do Programa Bolsa Família na segurança alimentar e nutricional das famílias beneficiadas, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) realizou uma pesquisa com cinco mil titulares do cartão Bolsa Família em 229 municípios brasileiros do Nordeste, Centro-Oeste, Norte, Sudeste e Sul.

No Nordeste, são 5,5 milhões de famílias beneficiadas com o Bolsa Família. A metade se encontra no meio rural. Cerca de 1,4 milhões de famílias nordestinas possuem insegurança alimentar grave. Outras 2,1 milhões estão na escala moderada e 1,2 milhões se encontram na leve. Apenas 712 mil famílias possuem segurança alimentar.

De acordo com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), é considerada grave quando há fome entre adultos ou crianças da família. Quando há restrição na quantidade de alimentos, a insegurança alimentar é moderada. É definida como leve quando há receio ou medo de sofrer insegurança alimentar no futuro próximo, refletindo o componente psicológico da insegurança e problemas de qualidade de alimentação.

"A realidade do Nordeste é baseada na concentração da terra e da renda. Temos uma agricultura familiar pouco desenvolvida, população com baixa escolaridade e com pouca participação política. Isso tudo reflete na questão da insegurança alimentar. Poderíamos ter maior produção de frutas e verduras no sertão", ressalta Helena Selma Azevedo, presidente regional do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea-Ceará).

No geral, a dieta das famílias mostra que alimentos de maior densidade calórica e menor valor nutritivo prevalecem na decisão de consumo. "A propaganda influencia no consumo de alimentos com alto teor calórico. Nossa alimentação está pouco baseada em frutas e mais em massa. Isso acarreta obesidade, hipertensão, diabetes. A obesidade não é mais doença de rico, pois os pobres também consomem de forma inadequada", afirma a presidente do Consea-Ceará.

Segundo Helena Selma, poderíamos utilizar os alimentos tradicionais do Nordeste para ter uma alimentação saudável: "O baião-de-dois é uma fórmula fantástica, pois juntando os aminoácidos do arroz e do feijão, temos um alimento rico em proteínas". O apoio à agricultura familiar é essencial para fortalecer a segurança alimentar: "Esse modelo de agricultura pode fazer as famílias superar sua própria miséria e ainda produzir alimentos para os moradores da cidade. Cerca de 70% dos alimentos consumidos no Brasil têm origem na agricultura familiar".

A pesquisa o Ibase apontou alternativas para complementar o Bolsa Família, como reforçar programas de segurança alimentar como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), executado pela Companhia Nacional de Abastecimento. "Deve-se envolver as famílias do Bolsa Família em políticas de produção e renda, de saúde e de educação, o que chamamos de intersetorialidade de políticas. Temos que parar de reproduzir a pobreza. Cada família dessa é herdeira de uma pobreza secular", destaca Helena Selma.

Na quarta-feira (2), o governo federal lança um programa para equipar e fortalecer a agricultura familiar brasileira e se contrapor à crise alimentar mundial e à alta excessiva dos preços das commodities agrícolas. Elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Programa Mais Alimentos pretende alcançar um excedente de produção de 18 milhões de toneladas por ano. Para isso, o programa cria uma linha de crédito de até R$ 100 mil para beneficiar um milhão de produtores rurais até 2010.

As matérias sobre Segurança Alimentar são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil.


Adital.

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