segunda-feira, 14 de julho de 2008

Moça morre por engano em perseguição policial




Menos de um mês após a desastrada operação policial que resultou na morte de um trabalhador em Balsa Nova, confundido com um suposto traficante, a polícia paranaense voltou a errar e matou mais uma pessoa inocente.

Desta vez, a vítima foi a jovem Rafaeli Ramos Lima, 20 anos, que levou um tiro na cabeça, quando o carro - um Gol preto - dirigido por Diogo Soldi, seu amigo, bateu acidentalmente numa viatura que participava de uma perseguição a um carro de cor escura.

O rapaz foi baleado de raspão, medicado no local e depois encaminhado para um hospital de Curitiba, para exames.

Já a jovem, gravemente ferida, foi conduzida ao Hospital Menino Jesus, em Porto Amazonas, onde morreu. O fato aconteceu às 4h10 de ontem, na PR-427, no trevo que dá acesso àquele município.

Na realidade, a polícia tentava perseguir um Pálio de cor escura (mais tarde descobriu-se que a placa era AKO-6708), cujo motorista, com ousadia, furou três bloqueios consecutivos, realizados por policiais militares e da Polícia Rodoviária Estadual de São Mateus do Sul, de União da Vitória e da Lapa.

O que levou a polícia a perseguir tal carro não foi informado. Sabe-se que a perseguição começou em São Mateus do Sul e que os ocupantes do Pálio teriam disparado tiros contra os policiais deste município.

Confusão

Comunicando-se por rádio, pedindo apoio cada vez que o Pálio ultrapassava um bloqueio, os policiais foram mobilizando mais viaturas.

Em Porto Amazonas (município com cerca de 5 mil habitantes, distante 70 quilômetros de Curitiba), os soldados Dioneti dos Santos Rodrigues e Luís Gustavo Landmann, do destacamento local (1.º Batalhão da PM), partiram para a rodovia, em ajuda aos colegas.

Porém, quando chegaram no trevo, foram surpreendidos pelo Gol preto, que bateu na viatura acidentalmente. Acreditando se tratar de cúmplices dos indivíduos perseguidos, sairam do carro atirando.

Acertaram a cabeça da jovem, que estava no banco do passageiro, e feriram o motorista de raspão. Só depois perceberam que tinham cometido um engano. Em seguida, outros policiais que estavam na perseguição ao Pálio pararam para prestar ajuda aos feridos.

Fuga

O Pálio placa AKO-6708, cujos ocupantes estavam sendo caçados, foi abandonado mais tarde, na região de Porto Amazonas. Em seu interior, a polícia encontrou pacotes de cigarros contrabandeados. A procedência do veículo e outras informações que possam levar aos seus ocupantes deverão ser apuradas ao longo das investigações.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, os dois policiais envolvidos no caso foram afastados e encaminhados ao Batalhão de Ponta Grossa, onde permanecerão detidos. Suas armas foram apreendidas e serão submetidas a exames de balística no Instituto de Criminalística.

Ainda ontem, a Polícia Militar emitiu nota oficial, lamentando o fato e informando que o Ministério Público Estadual deverá acompanhar todo o inquérito policial militar que foi instaurado.

Velório na casa da avó

Redação Tribuna e agências

Revolta e incredulidade marcaram o velório de Rafaeli Lima, que foi iniciado ontem, na casa de sua avó, em Porto Amazonas. Uma das primas da jovem, a auxiliar de produção Taiana Ramos de Lima, chamou a ação da polícia de “assassinato”.

“Os policiais saíram atirando no carro sem a menor necessidade”, afirmou a jovem, salientando que a prima era pessoa muito querida, tanto que praticamente toda a cidade foi ao velório.

Rafaeli, que pretendia prestar vestibular para Educação Física e morava com os pais num sítio, nos arredores da cidade, era a filha caçula (tinha mais dois irmãos). No sábado, saiu com com a prima e amigos para se divertir.

Na volta, pegou carona com o dono do Gol, Diogo Soldi, que era seu amigo. Todos deveriam ir para a casa da avó da vítima, porque haviam combinado de dormir ali. De madrugada, alguém ligou avisando a família que tinha ocorrido um acidente.

Todos foram ao hospital, mas Rafaeli já estava morta. Os pais dela estão em estado de choque, segundo familiares. O sepultamento deverá ocorrer hoje, em horário a ser determinado, no cemitério local.

“Execução”

Já o pai de Diogo, Leônidas Soldi, disse em entrevista a Rádio Band News que encara o ocorrido como sendo uma “execução”. Segundo ele, a ação da polícia transmite “insegurança total”. “Se enxergar um carro de polícia, a gente não sabe se corre ou o que faz”, disse, lamentando estar vendo no dia-a-dia casos semelhantes se repetirem.

Em Balsa Nova outra tragédia

Giselle Ulbrich

Outra lamentável ação policial que resultou em morte, no Paraná, ocorreu em 18 de junho último, em Balsa Nova. João Mochinski, 50 anos, funcionário da Prefeitura daquele município, morreu com um tiro no peito. Eziane Batista Veiga Zebleski e a filha dela, Bianca, de 5 anos, foram feridas por policiais da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc), que faziam um bloqueio na Estrada dos Pessegueiros, na localidade de Bugre, para interceptar um carregamento de 140 quilos de maconha. João dirigia o Passat placa ADM-3469, dando carona a Eziane e a filha dela, quando foi confundido com os traficantes. Seu carro levou mais de 15 tiros. Os investigadores estavam com viaturas descaracterizadas e a vítima pensou que se tratava de assaltantes.

Ricardo Mochinski, filho de João, diz que a família pouco sabe sobre o andamento do processo. “No caso que aconteceu no Rio de Janeiro, todos os policiais estão presos. No caso do meu pai, até onde sei, todos ainda estão soltos e trabalhando em serviços internos da polícia. Ninguém veio aqui dar satisfações de como andam as investigações”, afirmou. O rapaz, ao se referir ao caso do Rio de Janeiro, lembrou da morte do pequeno João Roberto Amorim Soares, 3, baleado por policiais que confundiram o veículo que perseguiam e atiraram contra o da família do garoto, no último dia 6.

Caso Zanella, um dos primeiros

Giselle Ulbrich e Mara Cornelsen

O primeiro caso de repercussão no Paraná, causado por uma ação errada da policia, foi o do jovem Rafael Zanella, em 28 de maio de 1997. Ele foi abordado por policiais civis e um informante, lotados no 12.º Distrito Policial, em Santa Felicidade, quando seguia com amigos para uma partida de futebol.

Quando parou o carro, obedecendo ordem policial, foi atingido por um tiro na cabeça, disparado pelo informante da delegacia, que sequer poderia estar usando uma arma. O jovem morreu na hora.


O Estado do Paraná.

Um comentário:

Mêdia...Santoro disse...

Quantos ainda morrerão para que as leis mudem no Brasil ????????????????????????????????

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