domingo, 13 de julho de 2008

Falta apoio a famílias que são vítimas da violência

Não há programas específicos para atender pessoas que perderam familiares em casos de acidentes ou homicídios; para especialistas, apoio psicológico ajudaria a superar o trauma.




Indignação, desespero, revolta, impotência e desamparo são alguns dos sentimentos que se misturam à dor de perder uma pessoa amada em situações de violência.

À imprudência de acidentes de trânsito, à frieza de mentes criminosas, ao despreparo de policiais que executam crianças e adolescentes, soma-se a omissão do Estado em prover assistência aos familiares das vítimas, tanto do agredido quanto do agressor. Se família nenhuma merece carregar a cruz de ter um ente querido assassinado, nenhuma família deseja o castigo de conviver com um assassino.

Enfrentar o dia a dia frente a essa nova realidade exige acolhimento e acompanhamento profissional específico, mas na maior parte dos casos o conforto vem das próprias famílias vitimadas, que transformam a dor em luta e ocupam o lugar que deveria ser assumido pelas administrações públicas.

Em Maringá, oficialmente, apenas a Associação de Mães de Vítimas de Violência "Justiça e Paz" cumpre este papel. Criada em 2004 por três mulheres que perderam os filhos adolescentes em ações de policiais, tanto civis quanto militares, a associação tem cerca de 40 filiadas e se orgulha de, no curto período de existência, ter contribuído para frear a ação fatal de policiais contra adolescentes, sejam eles infratores ou não.

Em 2000, quando tinha 17 anos, Fernando José, filho da dona de casa Florestina Pinheiro Machado, foi morto por policiais civis com cinco tiros. Quatro anos depois, a execução do adolescente "Besteirinha" no bairro Santa Felicidade, por policiais militares, foi, para ela, o sinal de que algo precisava ser feito.

"Eu vinha sofrendo calada há quatro anos. Quando ele morreu, senti que havia chegado a hora de tomar uma atitude", conta. Florestina passou a freqüentar a casa de Laíde de Sales, mãe de Rodrigo Aparecido Sales Rodrigues, 19 anos, o "Besteirinha", todos os dias. Nas conversas, invariavelmente sobre o infortúnio que se abatera sobre elas, o alívio, ainda que temporário, da dor da perda.

"Nós nos reunimos pela dor. É fundamental que a pessoa seja ouvida", afirma Florestina. Pouco tempo depois, a associação foi criada e tem sede na casa de Laíde. Ao sofrimento das duas juntou-se o de Noeli Maria Silvério, cujo filho, Ederson Silvério, 16 anos, morreu em condições semelhantes, e a advogada Jacheline Batista Pereira, assessora jurídica da "Justiça e Paz".

De acordo com Florestina, uma psicóloga sempre acompanhou o trabalho das mães filiadas à associação que inclui, entre outros, visitar adolescentes apreendidos, acompanhar os pais até a delegacia para obter informações sobre o processo dos filhos e cobrar condições adequadas de tratamento para a reintegração social do adolescente. Ela reforça a necessidade de um serviço específico para atendimento desses familiares. "Faz muita falta, como também instrumentos sociais que nos assistam juridicamente, a exemplo da defensoria pública, que não tem em Maringá."

Além do sofrimento pela morte dos filhos, a impunidade contribui para manter a ferida aberta. O processo criminal de Fernando José está tramitando há oito anos sem nenhuma perspectiva de encerramento. "Se eu fosse uma empresária, o caso já teria sido resolvido", lamenta Florestina.


Boa vontade

► 76 é o número de estagiários do 5º ano de Psicologia da UEM, que atende na UPA.


O Diário do Norte do Paraná.

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