domingo, 6 de julho de 2008

Desafios diários nos IMLs do Paraná




O Instituto Médico-Legal (IML) de Ponta Grossa teve seu funcionamento ameaçado na última semana. Após renunciar o cargo de chefe interino do órgão, o legista João Carlos Simonete cogitou que o instituto pudesse fechar as portas por falta de equipamentos e profissionais da área técnica.

Hoje, de acordo com o IML do Paraná, três médicos legistas, três auxiliares de necropsia e quatro motoristas atendem uma demanda de 30 municípios, na região dos Campos Gerais. Entretanto, para Simonete, essa estrutura não seria suficiente para atender a população.

Em entrevista ao Jornal da Manhã, de Ponta Grossa, ele afirmou que, há 30 dias, teria encaminhado uma série de reivindicações ao Estado.

Entre as solicitações de Simonete estava a contratação de três novos legistas para cobrir sete plantonistas. O ex-diretor também reivindicou o remanejamento de funcionários, modificações na estrutura física dos instalações do IML e o aumento da verba para manutenção do órgão. Na entrevista ao jornal, Simonete também afirmou que faltavam ferramentas básicas para que os legistas pudessem trabalhar, como máquina fotográfica, tesoura e até pinça.

Na última quarta-feira, uma equipe do IML do Paraná esteve em Ponta Grossa para verificar a situação do instituto local. O diretor técnico para o interior do IML do Paraná, capitão Wellington Lipka, acompanhado do assessor técnico Alexandre Gebran, passou a tarde de quarta-feira reunido com funcionários do IML de Ponta Grossa. Depois de ouvir as reivindicações, Lipka ressaltou as providências que estariam sendo tomadas pelo governo para melhorar as condições de trabalho.

“Estamos atendendo o que eles solicitaram. Já estamos providenciando os equipamentos e materiais de trabalho técnico e de logística. Está previsto obras de readequações no IML de Ponta Grossa para melhorar o atendimento à população”, afirma Lipka.

O coordenador de Recursos Humanos do Interior, tenente Marcos Galeazzi, confirmou que uma parte da estrutura funcional do IML de Ponta Grossa é mantida pela prefeitura da cidade.

Segundo Galeazzi, o órgão dispõe de carro e profissionais cedidos pela administração municipal para a verificação de óbitos na região. Ele concorda que a estrutura do IML de Ponta Grossa ainda não é a ideal, porém ressalta que o governo do Estado “está trabalhando para qualificar o atendimento à população”.

Dificuldades para trabalhar

Equipes da reportagem policial de O Estado, que acompanham diariamente o trabalho do Instituto Médico-Legal (IML), relatam com freqüência histórias de dificuldades que os motoristas do local encontram para trabalhar.

Além de utilizar carros com mais de 12 anos de uso, que eventualmente ficam parados para manutenção, os motoristas precisam arregaçar as mangas e “colocar a mão na massa”.

Segundo os repórteres, os motoristas precisam contar com a colaboração de homens da Polícia Militar, dos Bombeiros, ou de quem estiver por perto para erguer o corpo na “bandeja” e colocá-la no carro.

No entanto, nem sempre existe ajuda para recolher o corpo. A falta de um auxiliar para recolher os corpos faz com que algumas ocorrências terminem de forma constrangedora.

Os jornalistas relataram que, certa vez, o motorista pediu ajuda a um civil que estava na cena de um assassinato. A luva rasgou e, como era um corpo carbonizado, o cidadão se sujou todo de sangue.

Os profissionais que acompanham o dia-a-dia dos motoristas do IML, também relatam que algumas vezes as portas do veículo se abrem durante o percurso até o IML, com risco de o corpo cair da viatura.

O Corpo de Bombeiros informou que neste ano, duas viaturas antigas do Siate foram cedidas por empréstimo para a utilização do IML do Paraná para o recolhimento dos corpos.

O coordenador de Recursos Humanos do Interior do IML, tenente Marcos Galeazzi, afirmou que já existe um processo de licitação para a compra de novos carros para o instituto.

Precariedade no interior

A situação de algumas subseções do IML no interior do Estado também são precárias. Uma funcionária do IML de Guarapuava, no centro-sul do Estado, que prefere não se identificar, afirmou que o órgão enfrenta dificuldades para manter o quadro de plantonistas.

Segundo a funcionária, o IML, que atende 27 municípios, conta com cinco legistas, dos quais apenas um legista concursado. Dois são cedidos pela Prefeitura de Guarapuava e outros dois trabalham com cargos comissionados.

A funcionária relatou que a unidade conta com apenas um motorista para fazer o recolhimento de corpos.

Quando existe mais de uma ocorrência, é solicitada ajuda do Corpo de Bombeiros para o transporte de corpos.

Outros funcionários do IML de Guarapuava, que registra cerca de 30 óbitos por mês, contam que, se faltar um plantonista, a espera para a liberação de um corpo, por exemplo, pode chegar a até 30 horas.

A situação do IML de União da Vitória, na região sul, não é muito diferente. Enquanto a nova sede está sendo construída, a subseção funciona em uma sala emprestada do cemitério municipal.

Um funcionário, que também não quis se identificar, confirmou que não existem gavetas refrigeradas para a conservação dos corpos. O funcionário afirmou que, caso seja necessário, o corpo é encaminhado para o IML de Porto União, em Santa Catarina.

O diretor técnico para o interior do IML do Paraná, capitão Wellington Lipka, afirma que foi realizado um “raio-x” da situação das 16 subseções do IML do Estado.

Lipka ressaltou que os dados estão sendo equacionados e que o governo do Estado está trabalhando para solucionar eventuais problemas estruturais.

Lipka conta que serão construídas novas sedes para os IMLs de Maringá e Londrina.

Ele também salientou que serão executadas algumas obras de readequações nas unidades das cidades de Foz do Iguaçu e Ponta Grossa. (NA)

Intervenção na capital já dura quatro meses

Já dura quatro meses a intervenção administrativa no Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba. No dia 25 de fevereiro, o então diretor Hélio Bonetto foi afastado do cargo e uma junta militar, chefiada pelo coronel Almir Porcides Junior (ex-comandante do Corpo de Bombeiros), assumiu a direção do instituto por tempo indeterminado.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) explicou na época em que a medida foi tomada que tratava-se de uma ação para solucionar os problemas estruturais históricos no IML do Paraná.

A intervenção também implementaria um novo projeto para transformar a Polícia Científica do Paraná em uma das melhores do País.

Desde o início da intervenção, a pasta com os registros de mortes que ficava na sala do plantão, disponível para a imprensa e para a população, foi retirada do local. Essas informações têm, agora, hora certa para serem repassadas - pela manhã, às 9h, e à tarde, às 18h. Coincidentemente, a intervenção aconteceu logo após pesquisas apontarem Curitiba como uma das cidades mais violentas do País.


O Estado do Paraná.

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