segunda-feira, 7 de julho de 2008

Crack x crime organizado

Quem acredita que o crime organizado é só um termo inventado pela imprensa está equivocado. É o único termo que define a estrutura de produção e industrialização de drogas no Brasil. São dezenas de comandos e subcomandos, todos com diferentes regras, porém no Rio de Janeiro, no início do ano 2000, uma regra era comum a todos os comandos: nada de crack.

A pedra tem características que desestruturam o organograma montado pelo crime:

- É de baixo custo, o que gera pouco lucro

- Requer um baixo investimento inicial, o que estimula a concorrência

- Seu impacto no organismo é muito violento, o que atrapalha se funcionários estiverem sob seu efeito

- Mata muito rápido, e os traficantes querem seus clientes vivos, afinal, morto não compra

Ela se popularizou em São Paulo, que por sua densidade demográfica não sentia tanto. Mas como no Rio de Janeiro o mercado é restrito à Zona Sul e a turistas, não seria rentável a médio prazo.

Ficou estabelecido a não entrada do crack no narcomercado carioca. Quem fosse pego vendendo poderia sofrer graves conseqüências. Hoje, oito anos depois, o crack tomou o Rio, soldados destemidos do maior exército juvenil foram reduzidos a magricelas de caras secas e desdentadas.

Quem assiste à devastação que as organizações criminosas causam pode achar interessante que algo esteja dando dor de cabeça aos grandes traficantes, já que, na maioria das vezes, a Justiça não dá.

Porém, se pensarmos por outro lado, é assustador. Nestes últimos 25 anos a sociedade tenta acabar com o crime organizado, e ele sucumbiu ao crack. Temos diante de nós não uma droga, mas uma arma química com poder de destruição similar ao da aids na África.

Foram três noites de pesquisa, de vigília, registrando com uma máquina fotográfica a face oculta de um genocídio, vendo vidas nascerem a partir da morte, vendo a morte nascer pela falta de vida. Contradição essa que é queimada no cachimbo.

Antes de mergulharmos na narrativa do que foram aquelas noites, é importante que compreendam que nestas linhas não encontrarão imparcialidade ou objetividade jornalística. O crack é diferente de tudo que já vimos. Se usarmos os mesmos chavões de drogas para falar dele, seríamos incompetentes na missão.

Amanhã, contarei o encontro com uma gestante, cuja barriga deformada refletia a tortura de um ser aprisionado, que rezava para que seu hospedeiro sobrevivesse por nove meses.


Zero Hora.

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