terça-feira, 24 de junho de 2008

Uma mancha de pobreza que desafia o Paraná




Estudo do Ipardes mostra que, em dez anos, a pobreza das regiões mais carentes do estado só piorou.


Foz do Iguaçu e Santo Antônio da Platina - Basta olhar para o mapa para perceber: uma grande mancha de pobreza se transformou num dos maiores desafios a ser enfrentados pelo Paraná. Não é um desafio qualquer: trata-se de uma área equivalente a quase um terço do estado. Começa no Sul, na região de União da Vitória; ultrapassa o Rio Iguaçu, segue pela imensa área central e sobe pelo Vale do Ivaí, até chegar à fronteira com São Paulo, no Norte Pioneiro. Somada ao igualmente pobre Vale do Ribeira, ao norte de Curitiba, a mancha ocupa um total de 127 dos 399 municípios do Paraná.

Depois de analisar a situação econômica da região – formada por oito subdivisões do estado –, o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) acaba de publicar um estudo que mostra o problema de maneira ainda mais preocupante. De acordo com os pesquisadores, a diferença das áreas menos desenvolvidas do Paraná em relação às outras não vem diminuindo. Muito pelo contrário: num período de dez anos, de 1997 até 2007, a disparidade só se acentuou.

O estudo do Ipardes foi encomendado pelo governo do estado com um objetivo: devem servir de base para a análise e discussão de propostas que possam diminuir a pobreza na região. “Vários foram os fatores que levaram a este quadro. Mas dois dos principais certamente são a ausência de programas sociais e o descaso com que os governos trataram estes territórios”, aponta uma das coordenadoras da pesquisa, Valéria Villa Verde.

Os territórios das oito regiões mais pobres são classificados agora como “prioritários” pelo governo do estado. A Política de Desenvolvimento do Estado Paraná (PDE) para os próximos três anos prevê repasses de R$ 2,7 bilhões – 15% do orçamento total – em programas sociais e de incentivo. A projeção para o Centro Expandido inclui ainda R$ 142 milhões já autorizados para as obras incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Além disso, um convênio com o Banco Mundial garantirá outros R$ 80 milhões para a região.

De acordo com o Secretário de Estado de Planejamento e Coordenação Geral, Nestor Bueno, a análise mais aprofundada dos Diagnósticos Socioeconômicos dos Territórios Priorizados será o próximo passo para o governo definir de que maneira os recursos serão investidos.

Renda

A pobreza dominante nos oito territórios mais carentes do estado pode ser medida pela renda per capita de algumas das cidades. No Norte Pioneiro, por exemplo, 40% dos moradores de Nova Santa Bárbara, Salto do Itararé, São Jerônimo da Serra, São José da Boa Vista e Sapopema sobrevivem com menos de meio salário mínimo por mês. No Vale do Ribeira, a região mais pobre do Paraná, o porcentual de miséria sobe para 55%, chegando a 69% em Doutor Ulysses – ironicamente, integrante da região metropolitana de Curitiba, a cidade mais rica do estado.

Ainda no Norte Pioneiro, região que viveu o auge do crescimento econômico no início do século passado, 38% da população em idade ativa não possui qualquer rendimento. Dos ocupados, 26,9% ganham até um salário mínimo.

Para o prefeito de Ibaiti, Luiz Carlos dos Santos (PMDB), uma das causas do empobrecimento foi a falta de investimentos em infra-estrutura. “A região ficou esquecida durante muito tempo e isso impediu a atração de recursos – principalmente da iniciativa privada”, avalia.

A defasagem educacional e a baixa qualificação da mão-de-obra contribuem para o quadro preocupante. Apenas 11 mil moradores do Norte Pioneiro, o equivalente a 3,7% da população local, tem formação superior.

Na pele

O que os números tentam traduzir é o que o trabalhador rural Marcelo Antônio da Silva, 33 anos, vive diariamente. Ele e o pai, o aposentado Luiz Aparecido da Silva, 68, dividem um casebre na periferia de Santo Antônio da Platina. Há dez anos, os dois viviam da produção de frutas e verduras cultivadas em uma pequena propriedade arrendada. Sem dinheiro para investir em transporte – e com dificuldade para vender a produção – não conseguiram mais pagar o arrendamento e tiveram de deixar a área.

“Passamos a morar de favor. Só temos como comprar comida nos períodos em que eu trabalho. O dinheiro do meu pai mal dá para os medicamentos. Quando estou sem serviço, dependemos da ajuda dos vizinhos até para comer”, conta Marcelo. O casebre onde vivem, sem piso, banheiro e energia elétrica, é uma paisagem comum na região. A única torneira fica no quintal. “Se nada for feito, continuaremos a ver nossos filhos buscando oportunidades em outras regiões”, diz o prefeito de Wenceslau Braz, Cristóvam Andraus Júnior (PMDB).


Zero Hora.

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