terça-feira, 24 de junho de 2008

Rapaz troca a porta e o piso de casa por crack




Jovem de 20 anos está entregando sua moradia para os traficantes na busca de sustentar seu vício

- Se meu filho não for internado, ele vai ser morto.

O apelo de uma diarista de 43 anos revela o desespero de mais uma família dilacerada pela "pedra maldita", o crack.

Ao chegar à casa da família, no bairro Restinga Nova, na Capital, é possível compreender o tamanho do drama. Para sustentar o vício, o filho dela, de 20 anos, vendeu a porta da residência e parte do piso de madeira.

A diarista, que faz faxina três vezes por semana, já cansou de pagar as dívidas do jovem, para que ele não fosse morto pelos traficantes. O rapaz mora em uma casa de madeira no mesmo terreno da mãe e, há cerca de três meses, passou a vender todos os objetos para sustentar o vício. Entregou para traficantes uma pia, um chuveiro, duas TVs, roupas e o fogão. A porta de casa foi trocada por duas pedras, no domingo. Agora, ele começou a arrancar parte do piso.

- Na sexta-feira, tive de sair de casa na madrugada, com minha filha e meu genro, para pagar uma dívida de R$ 35 dele. Ele vendeu o único par de tênis que eu tinha. Agora tenho de trabalhar de chinelos - relata a mãe.

O rapaz está sendo ameaçado de morte por moradores, acusado de furtar a cerca de um vizinho. No domingo, 30 pessoas tentaram linchá-lo e só foram contidas pelos apelos da mãe e da irmã do rapaz.

- Disse para eles que primeiro teriam de bater em mim. Aí, se acalmaram um pouco - relata a mãe.

O temor de que ele seja morto a qualquer momento fez a mulher levá-lo para dormir na sua casa. Mesmo assim, tem de esconder qualquer objeto de valor. Sem condições de pagar um tratamento em uma clínica particular, ela aguarda uma vaga na rede pública e reza para que o filho não seja morto.

A Secretaria Municipal da Saúde informou que o jovem já foi atendido quatro vezes na psiquiatria do Posto de Atendimento Cruzeiro do Sul. Na primeira vez, em 12 de julho do ano passado, foi encaminhado a exames ambulatoriais, teve medicação receitada e foi liberado.

Em agosto, foi internado no Hospital Vila Nova, onde ficou menos de uma semana e fugiu. Em fevereiro, foi encaminhado para tratamento com um grupo de dependentes químicos na Unidade Básica de Saúde da Restinga.

A última consulta ocorreu na semana passada, quando os médicos constataram que ele estava tomando os medicamentos de maneira irregular e recomendaram que seguisse tratamento com o grupo de dependentes químicos.


O jovem afirma já ter usado "quase todas as drogas", mas assegura que é viciado somente em crack. Articulado, mas aparentando estar sob o efeito da droga, contou já ter repetido quatro anos na escola, sempre por evasão. No início de 2008, estava matriculado na sétima série, e novamente desistiu. Já trabalhou como servente de pedreiro em um parque de diversões e como panfleteiro, entre outros empregos, conforme conta:

Agência RBS - Como você começou a usar crack?

J. - Fumei maconha, usei cocaína e depois passei a fumar crack, por causa de alguns amigos.

Agência RBS - Você fuma quantas vezes por dia?

J. - Uma vez, no máximo duas.

Agência RBS - Você tem vontade de parar?

J. - Quero parar, mas tenho recaídas. Preciso me tratar.



Zero Hora.

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