sexta-feira, 20 de junho de 2008

Quadrilha armada impede obra em favela da zona leste de São Paulo

Homens armados impedem a construção de um pontilhão sobre o córrego Pintadinho em Itaquera (zona leste). A obra criará uma rota de acesso à avenida Itaquera, principal via da região. Hoje só é possível transitar a pé ou de bicicleta.

A prefeitura contratou a empreiteira Crisciuma Companhia Comercial Ltda. para fazer o pontilhão --que ligará as ruas Senador Georgino Avelino e Arraial do Bonfim.
Moradores dizem que traficantes que atuam na favela querem dificultar o acesso ao local.

Segundo esses moradores, há cerca de dez dias engenheiros e técnicos da construtora estiveram no local para instalar a placa de divulgação e o canteiro de obras. Foram recebidos por homens armados. A placa foi retirada pelos mesmos homens e queimada.

Funcionários da Crisciuma não quiseram dar entrevistas --pediram que fosse procurada a prefeitura--, mas confirmaram a abordagem. Afirmaram que não houve violência ou ameaça de morte, mas disseram que os homens, com as armas expostas, deixaram claro que não permitiriam aquela obra e mandaram que todos deixassem o local.

A Siurb (Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras) confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a obra ainda não foi iniciada por falta de segurança. A pasta evita falar em ação do tráfico.

Na rua Arraial do Bonfim fica a favela do Pintadinho -referência ao córrego que passa ao
lado. A rua termina em um terreno baldio onde mato, pedras e entulhos impedem a passagem de carros. Quem chega ao final da rua de carro -inclusive carros da polícia e ambulâncias- só tem a opção de manobrar e voltar pelo mesmo local.

A construção do pontilhão, de três metros de comprimento, permitiria o acesso à avenida Itaquera por meio da Senador Georgino Avelino.

Existia um pontilhão de madeira que, segundo moradores, foi queimado pelos traficantes há quatro anos. Outro pontilhão de madeira foi feito, mas apenas para a passagem de pedestres, bicicletas e motos.

Licitação

O processo de contratação da obra começou em 2002, mas a licitação só foi aberta em outubro de 2007. A proposta vencedora da Crisciuma -que tem sede no Parque Novo Mundo (zona norte)-, no valor de R$ 156.441,28, foi homologada em janeiro e a ordem de serviço só foi emitida no mês passado.

A empresa informou à prefeitura que não fará a obra sem que haja garantia de segurança para seus funcionários. A Subprefeitura de Itaquera foi acionada para tentar resolver a questão sem envolver a polícia.

A assessoria da Secretaria da Segurança Pública disse que o 32º DP (Itaquera) já investiga, há um mês, a possível ação de traficantes na favela.

Moradores, que temem se identificar por medo do tráfico, reclamam de outros problemas, como a iluminação pública precária e a sujeira no terreno baldio, que também seria propriedade pública.

Dizem os moradores que os "nóias" -usuários de drogas que cometem delitos para manter o vício- da região constantemente jogam pedras nas lâmpadas dos postes para diminuir a iluminação da rua.

Segurança

A Subprefeitura de Itaquera deve fazer uma reunião com moradores da Vila Carmosina para tentar garantir segurança para a construção do pontilhão sobre o córrego do Pintadinho sem a necessidade de envolver a polícia.

Segundo a assessoria da Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras, técnicos da subprefeitura já teriam ido ao local para conversar com os moradores e uma nova reunião deve ser marcada para a próxima semana. Se não houver acordo, porém, a prefeitura deve pedir à PM que garanta a segurança para a realização da obra.

Moradores disseram ter procurado a base da PM no bairro para discutir o caso. Teriam recebido a informação de que a PM estaria disposta a fazer a segurança.


Folha de São Paulo.

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