domingo, 15 de junho de 2008

Proximidade entre pais e filhos pode evitar fuga de adolescentes

Segundo psiquiatra, rebeldia não retrata, necessariamente, personalidade de todo jovem.
Jovem que fugiu aos 15 anos e ficou quase 2 fora de casa pegou até comida no lixo.

R.N.S fugiu de casa aos 15 anos e ficou um ano e dez meses longe da família. Hoje, com 17 anos, e há dez meses de volta à convivência dos pais e dos outros dez irmãos, retomou sua vida normal. Ele mora em São Paulo, e, segundo sua mãe, se diz indignado quando assiste a casos de fuga.

Episódios como o do jovem R.N.S, que, segundo sua mãe, Maria Salomé, fugiu de casa para conhecer a praia e viver experiências novas, têm se tornado cada vez mais comuns no Brasil. De acordo com o psiquiatra Geraldo Possendoro, professor de medicina comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mudanças na relação entre os adolescentes e suas famílias podem ter gerado transformações comportamentais.

“A família, a escola e o estado têm tido dificuldades para colocar limites nos jovens. É preciso entender que disciplinar não é ser autoritário. A melhor forma de educar é dar bons exemplos e saber se comunicar com seu filho”, afirma Possendoro.

Ainda segundo o especialista, a rebeldia não é uma característica que deva ser, necessariamente, atribuída a todo adolescente. “É um período de auto-afirmação, em que o jovem não é adulto nem criança. Ainda assim, cada adolescente reage de um jeito diferente a essa fase. A auto-afirmação é possível com bons resultados no estudo, com arte e música, por exemplo”, diz.

Dona Maria Salomé conta que o filho nunca teve problemas em casa, mas apresentava um comportamento rebelde com relação à escola. “Ele sempre foi muito arteiro, mas nunca tinha fugido. Agora que está em casa, está trabalhando, mas ainda não consegui que voltasse a estudar. A escola onde ele estudava quando fugiu não o quer de volta”, afirma a mãe.

Segundo Maria, quando o jovem voltou para casa apresentava um comportamento estranho. “Eu não sei por que, mas ele não olhava a gente no olho, estava estranho. Acho que é pelo tempo que passou na rua, com dificuldades”, diz. Maria Salomé conta ainda que o filho chegou a fugir de tiroteio e pegar comida do lixo durante os quase dois anos que passou longe de casa.

Como evitar

Para evitar fugas de adolescentes, Possendoro afirma que é preciso acompanhar o cotidiano dos filhos de perto. “Acompanhar a rotina de um adolescente é diferente de acompanhar uma criança. É preciso cautela para evitar que o jovem fuja como efeito do que chamamos de contra-controle”, diz.

Para ele, as causas de fuga podem ser diversas e não é possível apresentar uma fórmula que evite situações desse tipo. “Cada caso tem que ser analisado individualmente. Para os pais, resta dizer que a educação se constrói com exemplos. Melhorar a comunicação com seu filho é fundamental”, afirma o especialista.

Mães da Sé

Apesar de não ter um banco de dados informatizado, a associação Mães da Sé, em 12 anos de atuação, tem cerca de 7.320 pessoas desaparecidas cadastradas. Desse total, até 31 de março deste ano, 1.826 foram encontradas.

Segundo Ivanise Esperidião, presidente e fundadora da Mães da Sé, quando um adolescente foge de casa ele, geralmente, está fugindo de um conflito familiar. “É uma fase de descoberta, de rebeldia, eles se consideram independentes. A fuga pode ser uma simples aventura ou uma forma de chamar a atenção da família, mas só conseguimos descobrir de fato qual o problema quando encontramos esse jovem”, afirma.

Outro motivo que pode levar jovens a deixarem suas casas é a violência doméstica. “Há muitos anos tivemos o caso de um garoto de São Paulo que foi localizado em Alagoas e não quis voltar. Ele alegava que sofria violência doméstica do padrasto. O juiz chegou a dar a guarda provisória do garoto à família que o acolheu”, diz Ivanise.

Números do desaparecimento

Um estudo realizado pelo Projeto Caminho de Volta, entre setembro de 2004 e maio de 2006, revela que, das 302 crianças e adolescentes desaparecidas que foram notificadas pela associação, 58% tem entre 13 e 18 anos. O Projeto Caminho de Volta é uma parceria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para auxiliar famílias de crianças e Adolescentes Desaparecidos.

Pouco mais de 38% do total dos atendidos pelo projeto tinham escolaridade defasada em um ou dois anos e somente 2,3% eram analfabetos. Entre os jovens de 11 a 15 anos, 44% apresentam o mesmo quadro de defasagem na escolaridade e, entre os maiores de 15 anos, esse número diminui para 39,5%.


G1.

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