segunda-feira, 16 de junho de 2008

Polícia pede a prisão de 11 militares por morte de jovens no Rio

A Polícia Civil do Rio pediu ontem a prisão temporária de 11 militares do Exército. Eles são suspeitos de entregar três jovens, moradores do morro da Providência (região central) que estavam desaparecidos, a traficantes do morro da Mineira, comandado pela facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), rival do Comando Vermelho, que domina a Providência. Os corpos foram achados ontem num aterro sanitário em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

David Wilson Florêncio da Silva, 24, Wellington Gonzaga Costa, 19, e Marcos Paulo da Silva, 17, voltavam de um baile funk no morro da Mangueira, na manhã de sábado, quando foram detidos pelos militares, acusados de desacato, e levados ao comandante para que prestassem depoimento. Depois disso, os três não haviam mais sido vistos.

Revoltados com a morte dos rapazes, cerca de 150 moradores da Providência fizeram ontem manifestação em frente ao Comando Militar do Leste, próximo à favela, e pediram a saída dos militares do morro, ocupado desde o último mês de dezembro.

A Polícia Militar foi acionada para conter os manifestantes, mas não houve confronto. Ao final do protesto, no entanto, policiais entraram no morro e houve intensa troca de tiros com criminosos, que ainda usaram bombas e granadas.

No sábado, ainda sem saber o que havia acontecido com os jovens, os moradores já haviam fechado um túnel que corta o morro e que liga o Centro à zona portuária. Eles queimaram um ônibus e depredaram outros dez. Ninguém ficou ferido. Segundo os moradores, as vítimas não tinham nenhum envolvimento com o tráfico de drogas ou grupos criminosos.

"Eles trabalhavam e estudavam. Todo mundo na comunidade sabe que eles não tinham ligação com os criminosos. O mais velho deles era pai de duas crianças", disse um adolescente, amigo das vítimas.

Segundo a mãe de Wellington, os três amigos foram vistos entrando no quartel e as famílias foram avisadas.

"Eu estava trabalhando quando me disseram. Fui até lá e cheguei a ver meu filho jogado no chão enquanto um militar gesticulava e o insultava, mas não consegui ouvir o que diziam. Quando tentei mais uma vez falar com ele, me disseram que ele estava na delegacia.

Procurei por toda a área, mas ele não foi encontrado", disse Lílian Gonzaga.
Ainda no sábado, o Comando Militar do Leste informou, por meio de nota oficial, que o comandante, após ouvir os jovens, determinou que fossem liberados e não mais os viu.

No entanto, de acordo com o delegado titular da 4ª DP (Central), Ricardo Dominguez, responsável pelo caso, os indícios apontam que os militares saíram com os rapazes do quartel, que fica próximo à favela, e os levaram para o morro da Mineira, dominado por uma facção criminosa rival, também no centro do Rio, onde teriam abandonado os três.

Agressões

As investigações preliminares apontaram que os jovens sofreram agressões e foram assassinados pelos traficantes antes de serem despejados em uma caçamba de lixo no Caju -zona portuária-, mais tarde recolhida ao aterro sanitário na Baixada Fluminense.

"A acusação é que eles entregaram as vítimas para bandidos rivais. Entre os suspeitos está até mesmo um oficial", disse o delegado, que não forneceu o nome dos militares. Ele ouviu ontem oito homens do Exército. O Exército também não divulgou o nome dos militares envolvidos.


Folha de São Paulo.

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