domingo, 29 de junho de 2008

Perguntas esquisitas feitas em seleções têm por finalidade evitar as respostas prontas

Quem nunca se sentiu surpreso durante uma entrevista de emprego diante de perguntas como "se você pudesse ser um bicho, que animal seria"? Ou "de que tipo de carro você gosta"? Nos poucos segundos que separam o final da pergunta do início da resposta, uma outra questão vem à mente: o que isso tem a ver com o foco da seleção?

A estratégia dos recrutadores com essas perguntas, cuja eficácia é questionada por parte da categoria, tem como objetivo pinçar as características da personalidade do candidato sem ir direto ao ponto. Entre os que as adotam, a justificativa é tentar fugir de respostas prontas. Uma das que, para os recrutadores, devem ser evitadas é "sou perfeccionista", principalmente quando apontada pelo candidato como um defeito.

Há quem defenda o uso de "pegadinhas" com o argumento de que são simplesmente uma forma de quebrar o ritmo e ver como um candidato se comporta em situações pouco confortáveis, salienta Ana Paula Santos, recrutadora da Gope Recursos Humanos. Para se dar bem em qualquer formato de entrevista, no entanto, o conselho dos especialistas é ser sincero.

A aplicação das perguntas estranhas também recebe críticas. Pegadinha durante o processo de recrutamento, para alguns, representa apenas uma relação de poder ou um mito de que dessa forma se consegue saber mais sobre o candidato. O método não pode ser norteador de uma entrevista, defende Patrícia Fagundes Cabral, doutora em psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) em São Leopoldo. Patrícia recomenda o uso de perguntas inusitadas quando se quer fazer uma seleção por competências ou verificar o nível de coerência da resposta do candidato.

- É da responsabilidade do entrevistador selecionar os talentos. Em uma situação dessas, um ótimo perfil pode ser dispensado - alerta Patrícia.

Luciane Beretta, vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Estado (ABRH-RS), tem opinião semelhante. A pegadinha é uma maneira superficial de identificar quem é ou não esperto. Para ela, ao incluir em um teste esse tipo de perguntas o entrevistador desperdiça a chance de conhecer o candidato em profundidade.

- O mais importante é deixar o candidato à vontade. Com as pegadinhas o efeito tende a ser contrário, desperta a ansiedade - avalia.

Com ou sem pegadinha, a orientação dos especialistas em relação a como se preparar para uma entrevista é apostar no autoconhecimento e na honestidade. Mais vale uma resposta sincera sobre uma experiência anterior que não foi bem-sucedida do que um discurso ensaiado na ponta da língua.


DIONARA MELO
Como se preparar
Que tipo de carro você gosta?
OBJETIVO - Descobrir se o candidato tem perfil aventureiro ou mais acomodado, simplesmente a partir da resposta do modelo de carro que ele gostaria de ter.
Se você fosse um bicho, que animal gostaria de ser?
OBJETIVO - Investigar o perfil do candidato, através do comportamento predominante do animal em questão. Exemplo: formigas são operárias, trabalham no verão para descansar no inverno.
Como você escolheu a roupa que está usando hoje?
OBJETIVO - Indentificar a atenção do candidato e a expectativa que ele deposita na entrevista.
De que forma você gostaria de ser demitido?
OBJETIVO - Saber como o candidato lida com a questão do desligamento. Já que está em uma empresa privada, essa é sempre uma possibilidade a ser considerada.
Pedir que o candidato escolha um entre vários ditos populares de que ele mais gosta.
OBJETIVO - Cada dito quer passar uma mensagem. A escolher uma em detrimento de outra, o candidato estará deixando transparecer características de sua personalidade.
Quanto você vale? Por quê?
OBJETIVO - Esta é uma auto-avaliação. Procure demonstrar o seu potencial com exemplos práticos.
Por que você ainda não encontrou um novo trabalho, após tantos meses?
OBJETIVO - Fazer com que o candidato pense em uma boa justificativa para explicar a lacuna existente entre um trabalho e outro, como por exemplo a falta de oportunidade.
Fontes: Roberta F. Lopes do Nascimento, psicóloga e consultora de carreira e diretora do Núcleo Médico Psicológico, Simoni Missel, diretora da Missel Capacitação Empresarial, e Patrícia Fagundes Cabral, doutora em psicologia e professora da Unisinos


Zero Hora.

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