sexta-feira, 6 de junho de 2008

ONU aprova documento contra fome após protesto da América Latina

A cúpula alimentar da ONU terminou nesta quinta-feira com a promessa de aliviar a fome que afeta ou ameaça 1 bilhão de pessoas, apesar das queixas de alguns países latino-americanos contra alguns termos da declaração final, o que quase impediu sua aprovação.

O texto afinal aceito promete um compromisso com "a eliminação da fome e a garantia de comida para todos, hoje e amanhã". Ativistas e delegados disseram que o documento tem o mérito de colocar a questão dos alimentos na ordem do dia.

"Pelo menos as nações se uniram para reconhecer o problema", disse o secretário norte-americano de Agricultura, Ed Schafer.

A FAO (órgão da ONU para alimentação e agricultura) convocou esta cúpula para discutir a crise alimentar mundial, provocada por diversos fatores --uso intensivo de terras para a produção de biocombustíveis, mudanças climáticas, aumento do preço dos combustíveis e crescimento da demanda, especialmente na Ásia.

Nos últimos dois anos, o preço de alimentos como milho, arroz e trigo mais do que dobrou, e o Banco Mundial diz que mais 100 milhões de pessoas podem passar a sofrer com a fome, que hoje já afeta 850 milhões no mundo. A FAO diz que a produção de alimentos precisaria crescer 50 por cento até 2050 para acompanhar a demanda.

A ONG humanitária ActionAid elogiou a atenção dedicada pelo mundo ao evento, mas lamentou a falta de compromissos "sérios de longo prazo" dos governos. Ativistas cobraram mais empenho dos países desenvolvidos durante a cúpula de julho do G8 no Japão.

"Há uma crescente conscientização de que os países ricos não podem continuar a dar com uma mão e a tirar com a outra", disse Barbara Stocking, da ONG Oxfam. "A menos que haja mudanças nas políticas injustas de comércio internacional, biocombustíveis e agricultura, a crise da agricultura nos países em desenvolvimento vai continuar."

PROTESTO LATINO

A Argentina, exportadora de carne e grãos, contestou o trecho da declaração final que criticava restrições a exportações --como o recente tributo que taxa as exportações argentinas de soja.

Os EUA defenderam na cúpula que tais restrições agravam a inflação mundial dos alimentos. A forte acumulação de estoques de arroz na Ásia seria também um dos principais fatores por trás da disparada dos preços do produto, que provocou até confrontos em países mais pobres.

"Entendemos que os países queiram proteger sua oferta de alimentos e assegurar alimentos suficientes para seus próprios cidadãos, mas quando há um fechamento do mercado, os preços na verdade sobem", disse Shafer a jornalistas em Roma.

Cuba, Venezuela, Argentina e outros países latino-americanos também fizeram outras objeções à declaração final, e o representante de Cuba, Orlando Requeijo Gual, disse que o texto "negligencia francamente as necessidades vitais dos que sofrem com a fome".

Criticando as sanções dos EUA à ilha, ele denunciou "as sinistras estratégias de usar grãos para (produzir) combustível".

Os EUA e o Brasil defenderam o uso do milho e da cana, respectivamente, para a produção de etanol, alegando que esse é um fator marginal no aumento global de preços. A declaração final cita apenas a existência de "desafios e oportunidades" para os biocombustíveis.


Gazeta do Povo.

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