quarta-feira, 25 de junho de 2008

Artigo: O que todos precisam saber sobre o bullying

O bullying é uma situação que ocorre sobretudo, mas não apenas, nas escolas, caracterizada por atos agressivos, repetitivos e deliberados de alguns alunos contra um ou mais colegas. Não é um fenômeno moderno, mas a penas agora vem sendo reconhecido como causador de danos e merecedor de medidas especiais para sua prevenção e enfrentamento. Em 2001 e 2002 visitei instituições especializadas em Londres, em Paris e em Bordeaux. Trouxe muito material e muitas informações. Em 2002 e início de 2003, com o apoio da Petrobrás e do IBOPE, conseguimos introduzir o assunto bullying em várias escolas do Rio. Uma extensa pesquisa foi feita e um livro publicado. Desde então temos divulgado o tema em escolas e na mídia.

A palavra bullying é muito forte e concisa. Ainda não temos em português uma palavra capaz de resumir e englobar tão bem como a palavra bullying as diversas formas de agressividade. Quando iniciamos no Brasil o nosso trabalho com o bullying em 2001, achávamos que haveria problemas. Vemos hoje que o termo bullying já está inserido no cotidiano de muitas escolas, da mídia, da sociedade em geral.

As pesquisas efetuadas, inclusive no Brasil, mostram que o bullying ocorre em qualquer escola, independente de condições sociais e econômicas dos alunos. As atitudes mais comuns são de ofensas verbais, humilhações, exclusão, discriminação, mas também podem envolver agressões físicas e sexuais. Apelidos ofensivos é a principal queixa dos alunos-alvo. Duas situações freqüentes nas pesquisas européias ainda são pouco citadas entre nós - a homofobia é uma e a outra é o "cobrar pedágio", extorquindo dinheiro do lanche, por exemplo.

Os protagonistas do bullying nas escolas são: Os alunos-alvo (que sofrem o bullying), os alunos-autores (que praticam o bullying) e os alunos testemunhas silenciosas (que assistem aos atos de bullying, sem nada fazer).

O bullying não é um fenômeno que ocorre só nas escolas. O corre também, por exemplo no ambiente de trabalho (workplace bullying, ou assédio moral, como vem sendo chamado no Brasil). Esta situação é freqüente e tem gerado pedidos milionários de indenizações em muitos países. Ocorre também através da internet, cada vez com mais freqüência (cyber bullying) ou através do telefone celular (mobile bullying). Já há no mundo inteiro muitos trabalhos e pesquisas a respeito.

Quanto aos danos caudados na vítima estão: baixa auto-estima, dificuldade de relacionamento social e no desenvolvimento escolar, fobia escolar, tristeza, depressão, podendo chegar ao suicídio e a atos de violência extrema contra a escola. Já os autores podem se considerar realizados e reconhecidos pelos seus colegas pelos atos de violência e poderão levar para a vida adulta o comportamento agressivo e violento. As testemunhas silenciosas também sofrem, pela sua omissão e falta de coleguismo. Muitos se sentem culpados por toda a vida.

Os sinais que podem indicar que uma criança está s ofrendo bullying na escola são: Rejeitar a escola, pedir para mudar de sala de aula, queda no rendimento escolar, passar a apresentar sinais de somatizações (diarréia, vômitos, dores abdominais, asma, insônia e pesadelos), e problemas emocionais (como tristeza, depressão) ou sociais (como isolamento e não participação em atividades de grupo). Os pais devem estar sempre atentos para a possibilidade do seu filho estar sofrendo bullying. Acompanhar a socialização da criança é tão, ou mais, importante quanto tomar conhecimento do seu aproveitamento escolar. Uma boa dica é convidar para irem à sua casa os colegas da escola.

O primeiro passo para combater o bullying é o reconhecimento pela sociedade, pelos pais e sobretudo pelas escolas de que o bullying existe, é danoso e não pode ser admitido. À escola cabe a responsabilidade maior de envolver todos seus membros na não aceitação do bullying privilegiando a prevenção. Diante de casos ocorridos, à escola compete reunir todos os participantes e as famílias. Os pais e os alunos têm que obrigatoriamente participar.

Os pais devem incentivar o filho a falar, ir à escola e buscar uma solução que envolva toda a comunidade escolar. É lógico que isso só será possível se a escola tiver como lema a não aceitação do bullying. É bom lembrar que o bullying ocorre em todas as escolas. Diz-se que a escola que afirma que lá não ocorre o bullying é provavelmente aquela onde há mais situações de bullying, porque nada fazem para prevenir e reprimir.

Os atos de violência praticados por adolescentes nem sempre têm relação direta com o bullying. Contudo o comportamento agressivo de adolescentes tem sua origem na infância. Modelos agressivos de solução de conflitos ou problemas, são muitas vezes passados aos filhos pelos próprios pais. Valores como direitos iguais, cidadania, respeito ao próximo, freqüentemente não são observados dentro da família. Adolescentes que sofreram violência na família, ou presenciaram atos de violência entre os pais, podem ter condutas agressivas na escola e na vida adulta.

Ao escolher uma escola para seus filhos os pais devem considerar a questão do bullying. Uma escola que não conhece o assunto, que não desenvolve programas a partir do princípio "Nesta escola não se aceita o bullying", ou que afirma que o bullying lá nunca ocorreu, certamente não é uma boa escola. Evite-a.

Por Lauro Monteiro: Pediatra com clínica no Rio de Janeiro; Idealizador, fundador e ex-presidente da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA); Ex-presidente da Fundação para a Infância e a Adolescência do Rio de Janeiro (FIA); Criador e realizador de programas na área dos direitos da criança e do adolescente no Hospital Municipal Souza Aguiar, na FIA e na ABRAPIA. Ex-deputado estadual e presidente da Comissão da Criança, da Mulher e do Idoso da ALERJ. Durante dois anos foi perito do Juízo em Varas de Família. Co-participante da elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Membro atuante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ). É editor do site Observat�rio da Inf�ncia, guardião dos direitos das crianças e adolescentes.


Jornal Jovem.

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