terça-feira, 17 de junho de 2008

O futuro dos alimentos

Não são apenas os países pobres que sofrerão graves conseqüências se não for resolvido rapidamente o problema crescente da falta de comida.


O aumento constante da população mundial não acarreta apenas em mais bocas para se alimentar, mas também paladares mais refinados para se satisfazer, visto que os países em desenvolvimento estão cada dia mais ricos e, portanto, mais exigentes.

Com o aumento na demanda mundial por alimentos, a capacidade em supri-la está também cada vez mais limitada em vista dos requisitos em constante mudança – o que potencialmente trará conseqüências sérias para todos os países.

Durante os três dias da convenção realizada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, em inglês) em Roma, na semana passada, grandes líderes mundiais discutiram a alta nos preços dos alimentos. O que ficou do encontro é que, sem medidas diretas e eficazes, a população pobre do mundo irá certamente passar por enormes dificuldades.

Só nos últimos 12 meses, de acordo com a FAO, mais de 100 milhões de pessoas engrossaram a lista mundial de famintos e 22 países enfrentam problemas com a fome crônica. A crise também atinge, à sua maneira, os países desenvolvidos, já que as altas nos preços dos alimentos ganham importância política, econômica e social a níveis jamais vistos.

Com o objetivo de ajudar a compreender as implicações dessas mudanças para a União Européia, a Chatam House, local onde está instalada a base de negócios internacionais independentes do laboratório intelectual do Royal Institute of International Affairs (Instituto Real dos Assuntos Internacionais), desenvolveu quatro cenários que explicam o futuro dos alimentos em todo o mundo. Eles foram utilizados para auxiliar os representantes das redes de fornecimento de produtos a base de trigo e laticínios do Reino Unido a se concentrarem nos desafios que eles enfrentam e as escolhas que serão forçados a realizar.

Esses quarto cenários globais (veja quadro) revelam importantes pontos de debate e questões de atenção para todos os acionistas do sistema de abastecimento de produtos alimentícios na União Européia e Reino Unido.

Os impactos esperados das circunstâncias apresentadas fornecem um aviso claro de que os “modelos tradicionais de negócios” podem fracassar ou, no melhor dos casos, não estejam preparados totalmente para o futuro.

A capacidade de reter matéria-prima e fazer o uso eficaz dos recursos sugere que existe a necessidade de se repensar a divisão atual de responsabilidades entre a União Européia e o Reino Unido em várias áreas envolvidas no fornecimento e distribuição de alimentos.

Ao mesmo tempo, grandes oportunidades podem ser criadas para que se crie novas vantagens competitivas. As iniciativas para tal devem ser construídas de forma a incentivar a inovação, uma redução na produção de resíduos, abordagens que criem parcerias e a aceitação de possíveis mudanças nos padrões de consumo. É fundamental que se façam investimentos maiores na pesquisa e no desenvolvimento científico e tecnológico e que exista uma averiguação de como tais esforços devem ser custeados e concentrados.

Deve-se começar imediatamente um planejamento a longo prazo. O primeiro passo nesse sentido seria o estabelecimento de um consórcio reunindo os governos, os interesses das redes de abastecimento, e uma gama de grupos distintos, tais como a mídia, ONGs e universidades. Esta parceria deve realizar uma revisão pró-ativa dos sistemas atuais e apresentar um novo conceito baseado na oferta e procura de alimentos.

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- Tradução: Thiago Ferreira

- Hardin Tibbs, consultor estratégico independente e membro associado da Said Business School, da Universidade de Oxford e conselheiro do projeto da Chatam House sobre fornecimento de produtos alimentares, pesquisas futuras e desenvolvimento estratégico.

- Kate Bailey, um pesquisador sênior da Unidade de Inovação no Processamento de Alimentos da Cardiff Business School e chefe da equipe de pesquisas sobre alimentos da Chatam House.


Programa da ONU apresenta plano para ajudar famintos

A maior convenção sobre alimentos realizada pela ONU na última década foi concluída em Roma, na semana passada, com 181 governos prometendo tratar das causas e efeitos da alta mundial dos preços dos alimentos. Após o encontro, o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) apresentou seu novo plano estratégico quadrienal para combater a fome, e que se centrará em potenciar os mercados locais dos países mais necessitados.

O PMA atuará na “compra dos alimentos nos mercados locais, e na entrega de dinheiro ou vales de comida quando o alimento é disponível na região, mas os mais necessitados não podem ter acesso a ele. Além disso, se tentará sustentar o desenvolvimento econômico e do mercado, reforçar os pequenos agricultores, assim como o transporte e as redes de comunicações locais.

O custo de muitos itens mais do que dobrou em menos de três anos, o que resultou em protestos em diversos países e restrições para a exportação de alimentos impostas pelos grandes produtores.

Mesmo com a promessa de governos e bancos de que irão injetar quase US$ 3 bilhões em projetos alimentares, ainda não está claro se este dinheiro será somado aos orçamentos já existentes de auxílio aos famintos.

Um dos maiores doadores ao PMA foi a Arábia Saudita, com o repasse de US$ 500 milhões.

“Quando o preço do barril de petróleo sobe US$ 30 dólares, digamos, a Arábia Saudita é agraciada com quase US$ 300 milhões por dia. A doação para o PMA foi o lucro extra de um final de semana” disse Simon Maxwell, diretor do Instituto de Desenvolvimento Externo, em Londres.

A declaração final das discussões da conferência também incentivou países ricos e pobres a continuarem seus esforços para liberalizar o comércio internacional de produtos agrícolas com a redução de barreiras comerciais e a revisão de políticas que distorçam o mercado. As discussões realizadas no evento estavam empacadas há meses, visto que nem a Europa e nem os EUA queriam reduzir seus subsídios.

John Vidal, do The Guardian


Gazeta do Povo.

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