quinta-feira, 5 de junho de 2008

Militar que assumiu relacionamento gay é preso por deserção

Prisão aconteceu depois de militares concederem entrevista ao vivo ao programa Superpop, da Rede TV!


Um sargento do Exército que assumiu à revista Época manter um relacionamento homo-afetivo com outro militar desde 1997 foi preso, no final da madrugada desta quarta-feira, 4, após conceder uma entrevista ao vivo no programa Superpop, da Rede TV!. A prisão aconteceu nos estúdios da emissora, em Barueri, na Grande São Paulo. O sargentos foi surpreendido por policiais do Pelotão de Investigações Criminais (PIC) da Polícia do Exército após a entrevista.

Após negociações com a presença de advogados, às 4 horas, ele e seu companheiro, que também é militar, foram levados ao Instituto Médico-Legal, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. A alegação do Exército é que um dos sargentos era considerado desertor e foragido da Justiça Militar desde o mês passado. Ele foi conduzido ao Hospital Geral de São Paulo, no Cambuci, zona sul. Segundo o Comando do Exército, a homossexualidade do sargento não tem relação com a prisão.

A história contada no programa, que começou às 22 horas, pelo potiguar Laci Marinho de Araújo, de 36 anos, e pelo pernambucano Fernando Alcântara de Figueiredo, de 34, também é capa da revista Época desta semana. Eles se conheceram no Exército, no Batalhão da Guarda Presidencial, em Brasília, em 1995, onde ficaram amigos. Dois anos depois, resolveram morar juntos numa república. Naquele ano de 1997 começou um relacionamento amoroso. Hoje, eles afirmam sofrer perseguições.

Às 23h40, quando o programa ainda estava no ar, quatro agentes do PIC da Polícia do Exército, armados com fuzis, chegaram à porta da emissora. Em 21 de maio, a Justiça Militar mandou prender o sargento, que, assim, foi considerado desertor. Os sargentos souberam da presença dos policiais quando ainda estavam ao vivo no estúdio. "Ficamos sabendo da chegada deles pelas imagens do VT. Falaram que estavam aguardando a gente", disse Figueiredo.

O programa acabou poucos minutos depois e os sargentos foram levados para a sala da assessoria de imprensa do canal. À 1h, chegou um coronel e também mais policiais do Exército que, em seguida, entraram na emissora.Araújo e Figueiredo pediram a presença de algum representante da Ordem dos Advogados do Brasil ou do movimento de direitos humanos para acompanhar a negociação.

O advogado Ariel de Castro Alves, secretário-geral do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), chegou por volta das 2h30 e tentou levar os sargentos para um hospital público ou particular, mas não militar. As negociações seguiram até as 3h30, quando chegou um mandado de Brasília. Pouco antes das 4 horas, Araújo e Figueiredo saíram em um Santana preto, acompanhados por outros membros do Exército.

Eles foram levados ao Instituto Médico-Legal, em Pinheiros, na Zona Oeste da Capital. De lá, Araújo seguiu para o Hospital Geral de São Paulo, no Cambuci, Zona Sul. Figueiredo, acompanhado pelo advogado Ariel de Castro Alves, também foi até o hospital, onde o sargento acompanharia o parceiro. A Justiça deve decidir o que será feito com Araújo.

O sargento Araújo afirma ter problemas neurológicos, com sintomas de esclerose múltipla. Em 2007, ele passou seis meses fora do trabalho, sob alegação de problemas de saúde. A doença, segundo ele, começou em 2003 e se agravou em 2006. Nesse período, o sargento diz que o Exército lhe concedeu dispensas. Porém, em 2006, após o médico, um capitão, que cuidava de seu caso ter se afastado, teriam começado perseguições.

Um dos motivos, segundo ele, seria o fato de que o sargento faria sucesso em Brasília como cover da cantora Cássia Eller. "Forjaram um laudo há 15 dias de que ele estava apto a trabalhar. Mas não tem um neurologista entre os médicos que assinaram o laudo", afirma Figueiredo. Após esse laudo, Araújo teria de ter se apresentado novamente ao Exército, caso contrário seria considerado desertor. Ele diz que, no entanto, estava doente, de cama.

Figueiredo afirma que pode enfrentar um processo administrativo. "Estou em São Paulo e deveria estar em Brasília a esta hora." Ele não acredita que o companheiro ficará preso. "Acho muito difícil uma pessoa doente ser presa neste País. Antigamente podia, agora eu acho meio complicado eles conseguirem isso. Podem até tentar, mas conseguir não vão não." O sargento espera que um médico que não faça parte do corpo clínico do hospital militar possa avaliar o caso de Araújo. "A gente espera realmente que tenha isenção, que tenha um médico civil para analisar o caso. Seria o mais justo para ele."


Estadão.

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