quarta-feira, 25 de junho de 2008

Magistério atrai alunos fracos

Pesquisa mostra que só 5% dos melhores estudantes desejam trabalhar como docentes na educação básica.

Médico, engenheiro, advogado. Essas profissões são vistas pelos brasileiros como garantia de futuro promissor. Talvez por isso boa parte dos alunos com bom desempenho na escola opte por essas carreiras. O mesmo não acontece quando a opção é a profissão de professor, sem a qual não existiriam os “doutores”.

Pesquisa feita pelo Instituto Brasil e pela Fundação Leman, divulgada no começo de junho, mostra que apenas 5% dos melhores alunos formados no ensino médio desejam trabalhar como docentes na educação básica. Segundo o estudo, dentro do grupo dos melhores, 31% querem a área da saúde e 18%, Engenharia.

De acordo com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, o fato de apenas 5% dos melhores alunos se tornarem professores mostra a desvalorização da carreira do magistério. “Os jovens querem profissões com perspectivas de melhores salários”, diz Leão.

Para a doutora do setor de educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ana Maria Liblik, a situação da profissão no Brasil hoje não é um incentivo. “Para uma pessoa querer ser professora ela tem de ter bons exemplos. Os modelos frustrados de professores que existem por aí não funcionam. Se a mãe é professora e só reclama, o filho certamente não vai querer seguir a carreira.” Segundo ela, muitos alunos acreditam que alguns cursos de licenciatura são mais fáceis que o bacharelado, e acabam mudando para não precisar cumprir disciplinas mais pesadas. “Isso também influencia no perfil do profissional. Muitos professores começam a dar aula ainda inseguros e acabam desistindo. Sem opção, voltam a lecionar. Professores assim, que seguem a carreira por falta de opção, desestimulam os alunos a seguir o magistério ”, explica Ana Maria.

Dentro deste cenário, a estudante Paula Yasmin Jorge, 19 anos, que tenta pela segunda vez uma vaga no curso de Pedagogia, é uma exceção: escolheu o magistério como primeira opção. “Sempre quis ser professora. Participo do programa Paraná Alfabetizado há dois meses e vi que alguns profissionais não dão aula pelo salário, mas porque gostam”, diz a estudante.

Docência com ou sem vocação

A estudante Lívia Hatmann, 23 anos, é formada em Jornalismo, mas cursa Letras para ser professora. Foi boa aluna durante o ensino fundamental e médio e cursou escola particular até a 5ª série. “Passei no meu primeiro vestibular. Entrei em Jornalismo na UFPR, o terceiro curso mais concorrido naquele ano.”

A estudante pensou em tentar Letras no primeiro vestibular, mas acreditava que a Comunicação lhe garantiria uma carreira mais promissora. Porém, quando terminou o curso, chegou à conclusão de que realmente queria ser professora. Prestou um novo vestibular na mesma instituição e hoje, ainda no primeiro ano do curso, dá aulas de inglês em uma escola estadual.

“Durante a faculdade de Jornalismo, fui convidada pela escola de inglês em que estudava a dar aulas a uma das turmas iniciantes. Aceitei o desafio e me encontrei profissionalmente. Foi uma experiência transformadora. Descobri que ser professora era o que realmente eu gostava de fazer”, conta Lívia.

Também estudante de Letras da UFPR, Rosângela Silva Pereira não estuda para ser professora pelo mesmo motivo de Lívia. “Quando estava no ensino médio queria cursar Design. Tentei duas vezes e não passei no vestibular. Resolvi prestar concurso em instituição particular e coloquei Letras como terceira opção, mas foi nesse curso que entrei”, diz. A estudante considera que seu desempenho durante a educação básica foi médio, mas diz que era interessada em participar de atividades extra-curriculares.

A pesquisa do Instituto Futuro Brasil e da Fundação Leman foi baseada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2005 e no Exame de Desempenho dos Estudantes (Enade), que substitui o antigo provão. O estudo apontou também que os alunos de Pedagogia vêm de famílias de baixa renda e têm mães com pouca escolarização.


Gazeta do Povo.

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