sábado, 21 de junho de 2008

LHC não vai destruir a Terra, conclui relatório de segurança

O novo relatório, que atualiza e expande um texto de 2003, dá atenção especial ao risco de buracos negros.

Um novo acelerador de partículas, o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), que deverá entrar em operação nos próximos meses nos arredores de Genebra, não ameaça a existência da Terra ou do Universo, diz uma nova análise de segurança aprovada na sexta-feira, 20, pela direção da Organização Européia de Pesquisa Nuclear, a Cern, que está construindo o aparelho.

"Não há base para preocupações sobre as conseqüências de novas partículas ou formas de matéria que possam ser produzidas pelo LHC", disseram quatro físicos que compõem o grupo de avaliação de segurança. o que quer que o colisor faça, afirmam, a natureza já fez inúmeras vezes antes.


Os físicos, que trabalharam anonimamente pelo último ano e meio, são John Ellis, Michelangelo Morgano e Urs Wiedemann, da Cern, e Igor Tkachev, do Instituto de Pesquisa Nuclear de Moscou. Em uma nota à imprensa, o diretor-geral da Cern, Robert Aymar , diz que "com este relatório, o laboratório cumpriu todas as avaliações de segurança e ambientais necessárias para garantir a operação desta estimulante nova instalação de pesquisas".



Em força total, dizem eles, a nova máquina, projetada para acelerar prótons, os elementos constituintes da matéria comum, a energias de 7 trilhões de elétron-volts e então esmagá-las umas de encontro umas às outras para gerar explosões primordiais, versões em miniatura do Big Bang. Os físicos vão vasculhar os detritos dessas explosões em busca de forças e partículas e, até mesmo, novas leis da natureza que poderiam ter existido no primeiro trilionésimo de segundo do Universo.



Alguns críticos argumentam, no entanto, que a Cern ignorou ou fez pouco caso da possibilidade de o colisor produzir um buraco negro que engula a Terra, ou que crie uma partícula perigosa.

O grupo de segurança, no entanto, destaca que raios cósmicos já produziram energias equivalentes em colisões com a Terra e outros objetos no cosmo, seguidas vezes.



"Isto significa que a natureza á completou cerca de 1031 programas experimentais do LHC desde o início do Universo", escrevem os cientistas. A despeito disso, estrelas e galáxias perduram.



O novo relatório, que atualiza e expande um texto prévio de 2003, dá atenção especial à questão dos buracos negros, que poderiam ser produzidos, de acordo com algumas variações especulativas da já especulativa teoria das cordas. Poderiam eles devorar a Terra? Essas mesmas teorias prevêem que os buracos negros iriam se desintegrar imediatamente, dizem os autores. E se buracos negros estáveis pudessem ser produzidos, eles também teriam sido gerados em colisões de raios cósmicos.



O relatório bebe bastante na fonte de uma análise de 96 páginas feita por Steven B. Giddings, da Universidade da Califórnia, Santa Barbara, e de Mangano, que estará disponível na segunda-feira, 23. Nesse artigo, Giddings e Mangano concluem: "De fato, argumentos conservadores baseados em observações detalhadas e do melhor conhecimento científico disponível, incluindo sólidas informações astronômicas, concluem, de diversas perspectivas, que não há nenhum risco qualquer de significância de buracos negros".



A diferença entre essas duas formas de criar buracos negros é que os gerados por raios cósmicos estariam se movendo perto da velocidade da luz e passariam através da Terra sem causar efeito, enquanto que os buracos gerados no colisor estariam em repouso em relação ao planeta e poderiam ser capturados. Mas se tais buracos negros de raios cósmicos existissem, concluem os físicos, restos densos como estrelas de nêutrons ou anãs brancas deveriam capturá-los, sendo devoradas em seguida. Mas isso não acontece: tais objetos seguem existindo.



O próprio relatório de segurança foi revisado por outro comitê de físicos, fora da Cern. E então, após 14 anos e US$ 8 bilhões, o futuro da física está quase aqui.



Engenheiros da Cern estão no processo de refrigerar os magnetos supercondutores que aceleram os prótons ao longo da pista de corrida de 17 quilômetros a cerca de 2º C acima do zero absoluto. Eles estão no cronograma, e pretendem começar a circular prótons pela máquina em agosto, e iniciar as colisões cerca de dois meses depois.



Como os engenheiros ainda não terminaram de "adestrar" os magnetos para transportar as correntes necessárias para levar os prótons à energia plena, o plano é que os prótons em colisão tenham 5 trilhões de elétrons-volt cada, o que ainda é cinco vezes mais energia do que os físicos já haviam conseguido antes.



No inverno do hemisfério norte, quando a Cern tradicionalmente fecha por um período, os magnetos serão treinados para energia total. Na primavera, o colisor será reativado com colisões de 14 trilhões de elétron-volts. E os físicos finalmente poder]ão parar de segurar a respiração.


Estadão.

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