quinta-feira, 26 de junho de 2008

Levantamento aponta menos crianças nas ruas da Capital

Destoando da estatística, faixa de até seis anos apresentou crescimento.

Em quatro anos, o total de crianças e adolescentes que perambula pela Capital diminuiu 39,8%, mas a precocidade com que essa população chega às ruas aumentou de forma alarmante.

A proporção daqueles que têm entre zero e seis anos mais do que dobrou, saltando de 8,3%, em 2004, para 19,7%, em 2008.

O retrato emerge da pesquisa Cadastro das Crianças e Adolescentes em Situação de Rua de Porto Alegre, divulgado ontem, que identificou 383 deles nos meses de dezembro de 2007 e março deste ano - em 2004, pesquisa semelhante localizou 637. Realizado pelo Laboratório de Observação Social (Labors), órgão vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o recenseamento foi encomendado pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc).

Um dos fatores que contribuíram para a queda geral foi a diminuição da migração de crianças de outros municípios da Região Metropolitana para a Capital. Enquanto em 2004, 21,7% das crianças eram provenientes de outras cidades, neste ano o índice caiu para 15,5%. O percentual de Alvorada, por exemplo, caiu de 7,4% para 3,7%, e o de Viamão baixou de 6,4% para 2,1%.

Segundo a presidente da Fasc, Brizabel Rocha, o controle na migração é resultado de um projeto integrado entre sete municípios da Região Metropolitana, desde 2005, sob a coordenação da Capital.

Com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de R$ 9 milhões, foi montada uma rede de proteção informatizada, facilitando a identificação dos itinerários percorridos pelas crianças de rua, além de investimentos em estrutura e qualificação de pessoal.

Confira o perfil da população de rua de Porto Alegre

- Hoje sabemos o nome, a idade e o endereço de todas as crianças que estão perambulando pelas ruas da Capital, e se efetivou a política nos outros municípios. Temos muito ainda o que fazer, mas a pesquisa nos mostra que estamos no caminho certo - avalia Brizabel.

Para o sociólogo Ivaldo Gehlen, professor da UFRGS e coordenador-geral da pesquisa, a diminuição seria conseqüência de uma série de políticas públicas, como o Bolsa-Família, do governo federal, o trabalho das redes municipais, de organizações privadas e do Conselho Tutelar. Por outro lado, com a prioridade dada às faixas maiores, o grupo de zero a seis anos teria ficado em segundo plano.

- Aparentemente, houve um descuido com as faixas menores - analisa Gehlen.

Apesar da redução no número global, o ingresso precoce das crianças nas ruas deixou alarmados integrantes da rede de proteção, como a socióloga Eridan Moreira Magalhães, que atua na área de erradicação do trabalho infantil, da Superintendência Regional de Trabalho e Emprego.

- Esse aumento na faixa de zero a seis é grave, porque se já estão nas ruas com essa idade, elas nunca irão para a escola - preocupa-se.

A direção da Fasc admite que o salto do número de crianças que sequer chegaram à idade escolar foi uma surpresa preocupante, até porque, desde 2005, a prefeitura construiu 24 creches. A partir dos resultados, a intenção do órgão é discutir alternativas.

- Vamos analisar essa questão dos zero aos seis anos. Isso nos remete a questões talvez relacionadas à exploração dos adultos - afirma Brizabel.


Zero Hora.

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