domingo, 8 de junho de 2008

Histórias de um padre

O ex-padre Vilmo Silvestre, 68 anos, é uma usina de casos sobre o Central. Ali, ele trabalhou de 1967 a 1993, com breves passagens por outras cadeias. Primeiro, como confessor dos presos. Depois, como agente penitenciário concursado, ao largar a batina.

"A cela de castigo era chamada de Buco. Era um buraco, ficava embaixo do teatro onde aconteciam as peças. Tinha só uma porta e nenhuma janela. O preso fazia as necessidades numa lata e comia ali mesmo. Passavam comida por uma fresta na porta. Eram mandados para ali os que brigavam ou lideravam rebelião.

Sou do tempo em que uma carteira de cigarro gerava assassinato no Central. Tinha um, o M., que implicava com quem tinha nome de bicho. Matou um Bem-te-vi, matou um Ratão... Morreu tuberculoso. Uma vez sugeriram, de brincadeira: reúne todos os matadores numa galeria e distribui facões. Não é que distribuíram? Por incrível que pareça, não deu morte. Eles se respeitavam.

O pessoal diz que o boi pulava o muro. É que a carne chegava no presídio, mas não nas panelas dos presos. Alguns agentes sumiam com o produto.

Nos anos 60 e 70, não existia facção. Tinha líder de quadrilha, mas ninguém controlava pavilhão inteiro. Isso é coisa da rapaziada do tóxico, que estragou tudo."


Zero Hora.

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